1984 é a grande obra prima de George Orwell, o escritor inglês construiu um universo em que um governo totalitário exerce total controle sobre à vida dos indivíduos, em constante vigia, perpetuando esse controle por meio da mentira e da censura. No mundo real, observamos algo semelhante em países totalitários como China e Coreia do Norte. Veríamos algo semelhante em uma vitória da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, ou num expansionismo da União Soviética em âmbito global, mas não é difícil observar um certo simulacro da obra de Orwell no mundo democrático, principalmente no meio digital.
Peguemos alguns conceitos da obra de Orwell: Novafala, Grande Irmão e Dois Minutos de Ódio.
Novafala descreve uma nova linguagem que visa estreitar o âmbito de pensamento. Não haveria mais o crime de pensamento — crime que consiste no ato em que o criminoso pensa e expressa algo que não está de acordo com as doutrinas do Partido — pois aquelas palavras que desagradam o Partido serão eliminadas. Ora, não vemos na ideia da Novafala uma semelhança com o politicamente correto e, mais especificamente, a tal linguagem neutra? Um Partido corrompe a linguagem para adequá-la a sua visão ideológica. A corrupção da linguagem ao estilo Novafala não se restringe ao ambiente digital e já é aplicada de forma autoritária no ambiente acadêmico. Em notícia publicada no primeiro semestre de 2017 pelo jornal britânico The Telegraph, alunos da Hull University estavam sob risco de terem suas notas rebaixadas caso não utilizassem a linguagem neutra em dissertações. Alguns acadêmicos se pronunciaram contra, afirmando ser isto uma atitude de “policiamento linguístico”.
Assim como a Novafala tem seu simulacro na realidade, o Grande Irmão não é diferente. Um dos grupos que parecem inspirados no homem de bigode que vigia os cidadãos de Oceania é o fascistoide Sleeping Giants, esquerdistas extremos, atuam como vigilantes do pensamento. O grupo de extrema-esquerda vasculha a internet a procura de indivíduos que explanam certos pensamentos divergentes do esquerdismo, buscam por meio de pressões covardes, o boicote financeiro de empresas aos seus alvos, que tem por meio delas, seu meio de sustento financeiro. Caso a empresa negue o boicote, é difamada, se torna pária, financiadora do tal “nazifascismo”. É o Grande Irmão digital. É correto pensar que em um governo totalitário, a punição é muito pior, na tirania estatal, a punição é aplicada com torturas e assassinatos àqueles que descumprem a ordem do Partido. A militância orwelliana esquerdista não vai lhe causar danos físicos, mas buscará destruir sua reputação, sua honra, tirar até mesmo sua forma de sustento (o grupelho já citado é expert nisso).
Uma militância que nos remete aos “Dois Minutos de Ódio”. Na obra de George Orwell, Dois Minutos de Ódio é o momento em que as massas irracionais, submissas ao totalitarismo, se unem diante de uma grande tela para execrar os “inimigos” da pátria. A militância esquerdista nas redes sociais atua da mesma forma, promovem linchamento virtual para aqueles que falem algo, escrevem algo, não condizente com a Novafala progressista, frases supostamente machistas, racistas e homofobicas. São os inimigos a ser execrados. São os ditos “cancelados”.
Aqueles que se colocam no lugar do governo são as Big Techs (Facebook, Google, Microsoft, Apple e Amazon), que exercem à censura concreta, como oligopólios de comunicação em massa, com claro potencial de moldar a opinião pública, inclusive coletando e processando nossos dados sem que percebamos, não se limitam as meras relações de uma empresa privada comum, adquirem responsabilidade política e social. O grande problema é que as Big Techs usam de seu aspecto político-social para censurar aqueles que defendem ideias que não vão de acordo com os ideais esquerdistas. Em 2018, o Facebook deletou mais de 196 páginas e 87 contas no Brasil, algumas páginas continham centenas de milhares de seguidores. Segundo a rede social de Zuckerberg, faziam parte de: “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. Todas as páginas e contas deletadas continham viés conservador e liberal em suas publicações. A justificativa da rede social, deveras esdruxula, pois, diversas contas possuíam endereços profissionais e contatos telefônicos, como no caso do Movimento Brasil Livre (MBL), que teve contas deletadas na ação do Facebook, portanto, a alegação de perfis falsos era, em si, falsa. Recentemente nos Estados Unidos, tivemos o exemplo do ex-presidente Donald Trump, que teve sua voz cerceada a mais de 80 milhões de usuários do Twitter por uma interpretação subjetiva de suas falas ao concluir que teriam levado a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021. O app Parler, popular entre conservadores, foi banido de serviços de distribuição de aplicativos pertencentes as Big Techs (Apple Store e Google Play) por rejeitar a censura contra grupos conservadores.
Novafala restringindo o vocabulário para levar a um pensamento permitido (politicamente correto, linguagem neutra, etc.); um governo central com poder de censura (Big Techs); a constante vigilância onipresente do Big Brother “zelando” por nós (algoritimos/Sleeping Giants); Dois Minutos de Ódio (militância canceladora).
Se Orwell estivesse vivo, tenho certeza que diria: “Não seus idiotas! Vocês entenderam tudo errado!”.