O Rock in Rio de 2019 acabou na semana passada, entretanto os shows dessa edição tiveram mais outras coisas do que Rock, Ivete Sangalo, Anitta, Pink, Black Eyed Peas dentre outros… Sim, é bem verdade que desde a primeira edição em 1985 o festival não era somente para o Rock, entretanto o gosto musical das novas gerações mudou drasticamente desde então, com a imprensa se colocando como barreira para o acesso dos mais jovens ao estilo musical que pelo menos desde a invasão britânica nos anos 60 dominou as paradas até o final dos anos 90 e participou ativamente dos movimentos culturais mais importantes desses anos seja pro mal como em Woodstock ou pro bem como no lendário Moscow music peace festival em 1989 que marcou a primeira vez que os russos puderam ouvir os sucessos do Rock, pois o estilo musical era considerado subversivo no alto escalão comunista que comandava a política soviética.
Hoje é bem fácil encontrar um jovem de 12 anos que não saiba quem foi Elvis Presley, mas com 90% de certeza ele irá conhecer o Drake ou a Beyonce, como isso aconteceu? No Brasil não existem mais bandas de rock como existiam aos montes nos anos 80 e 90, não existe mais sequer o samba ou o chorinho, em todo lugar, nas rádios, na TV só se aparece o funk, o pagode e o sertanejo. Esse estilo também sofreu, no que hoje chamamos de sertanejo universitário. A música sertaneja (nordeste) e a caipira (São Paulo, Minas e Goiás), caracterizam-se pela simplicidade na execução das músicas e pela riqueza de sentimentos expressados em rimas simples. São músicas que falam dos mais diversos temas, todos eles diretamente ligados à vida do homem do campo. De festividade, religião, amores, trabalho, etc. Os anos 80 e 90 deram início à uma segunda geração, aquela que ainda mantinham as raízes mas davam um passo para a música pop. A fidelidade caiu um pouco, pois se tratava de uma música mais comercial. Ao chegar à meados da década passada, o movimento Sertanejo Universitário se distanciou ainda mais da música raiz. Diversos cantores, alguns sem nenhum talento apareciam na mídia ofuscando os músicos que ainda cultivavam o talento e as origens (Contribuiu Pedro Augusto Araújo, especialista na história da música sertaneja)
A pergunta que fica é: Aonde foi parar a cultura musical desse país? Alguns podem dizer que a música enquanto forma de arte é subjetiva, portanto não existiria hierarquia entre estilos musicais. Considero esse argumento, pra dizer o mínimo, falso… Qualquer um que entenda o mínimo sobre teoria musical sabe que a música é formada na junção de melodia, harmonia, ritmo qualquer um desses três elementos constitutivos da música é objetivamente inexistente em 98% das músicas que compõe o Top 10 de todas as rádios do país.
Os memes e os comentários irônicos entre amigos de que “meu carro toca mais Rock que o Rock In Rio” fazem sentido num contexto de que uma legião de fãs está prestes a ficar órfã, os fãs do rock sempre estarão dispostos a ouvir suas bandas favoritas mas o tempo está passando e não houve uma passagem de bastão dessa vez, pela primeira vez na história do Rock não há no cenário mundial sequer uma banda capaz de continuar esse legado, ainda dependemos de gente como Jon Bon Jovi ( 57 anos), Bruce Dickinson (61 anos), Steven Tyler (71 anos) e Klauss Meine (71 anos), infelizmente esses grandes artistas não serão capazes de fazer shows por muito mais tempo, longas viagens, hotéis, aviões, doenças neurológicas como no caso dos guitarristas Peter Frampton e Eric Clapton, ou até mesmo a ausência de potência vocal (devido a idade) impedem que esses caras que já estiveram no topo do mundo continuem tendo carreiras prolíficas. A era de ouro já passou, tudo que nos resta são alguns cantos do cisne e a inevitável despedida.
Perceba que esse não é um fenômeno brasileiro, é mundial, não se escuta mais Rock no mundo, se fosse um fenômeno nacional eu poderia aceitar o argumento do mal gosto tupiniquim, que em outras áreas artísticas é mais do que comprovado, casos do cinema (desafio: cite mais do que 5 filmes bons nacionais na última década, já adianto, sem forçar a barra você não irá conseguir) e da pintura.
Me perguntando nos últimos dias, cheguei a conclusão de que essa mudança cultural não foi natural e sim induzida, o pai dos males é o movimento filosófico chamado de pós-modernismo, esse movimento teve origem na França (a rainha dos males da humanidade) aparecendo pela primeira vez nas obras dos filósofos Jean Baudrillard (1924-1998) e Jean François Lyotard (1924-1998), esse movimento propunha uma desconstrução (para mim destruição) de basicamente todas as partes que formam o que se conhece como cultura, e do ponto de vista estritamente filosófico pregava o relativismo moral… a arquitetura e a música foram as primeiras vitimas, e agora eles também partem para o domínio do cinema. A partir daí é só somar 2 + 2 para entender o declínio cultural completo do ocidente, os pós-modernos estão a frente de basicamente todos os departamentos de artes, filosofia e sociologia de todas as grandes universidades do mundo.
O grande antropólogo Tcheco Ernst Gellner na obra Pós-modernismo, Razão e Religião (1992) explica o que significa o movimento “O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em ocasiões até a repudia abertamente…A influência do movimento pode ser discernida na Antropologia, nos estudos literários, filosofia…As noções de que tudo é um “texto”, que o material básico de textos, sociedades e quase tudo é significado, que significados estão aí para serem descodificados ou “desconstruídos”, que a noção de realidade objectiva é suspeita – tudo isto parece ser parte da atmosfera, ou nevoeiro, no qual o pós-modernismo floresce, ou que o pós-modernismo ajuda a espalhar. O pós-modernismo parece ser claramente favorável ao relativismo, tanto quanto ele é capaz de claridade alguma, e hostil à ideia de uma verdade única, exclusiva, objetiva, externa ou transcendente. A verdade é ilusiva, polimorfa, íntima, subjetiva … e provavelmente algumas outras coisas também. Simples é que ela não é…Tudo é significado e significado é tudo e a hermenêutica o seu profeta. Qualquer coisa que seja, é feita pelo significado conferido a ela…”
Pela própria descrição sobre o que é esse movimento já para notar o porque dele dar apoio a toda sorte de projetos progressistas que aparecem no mundo, mesmo os mais radicais e repulsivos como a legalização da pedofilia, vide a existência de organizações como a NAMBLA, não é invenção, existe mesmo uma ONG que defende a pedofilia e ela tem sede em San Francisco e Nova York. A Música, não só o Rock acabou porque não se olha mais a qualidade da mesma, porque paradoxalmente para o pós modernismo tudo vale, se tudo vale não existe hierarquia, como vou avaliar qualidade?
O outro vilão é a mídia como um todo, o poder midiático já foi detalhado nas obras de importantes sociólogos como Antony GIddens e Marshall McLuhan , o quarto poder como é conhecido no Brasil é responsável pelo sumiço do Rock tanto quanto o pós modernismo, existe um ciclo vicioso fomentado pela mídia, a mídia não dá espaço para o Rock, por interesse próprio, controle sob o que se pensa, vê e ouve… não é do interesse da mídia nos dias de hoje uma música de natureza anárquica, ainda mais com as redes sociais levantando a ausência de credibilidade dos meios tradicionais. A mídia não dá espaço, não porque os outros estilos são superiores, mas sim porque houve uma regressão cognitiva coletiva e global da população ( leiam Música, Inteligência e personalidade do Dr. Minh Dung Nghiem ) por culpa dos princípios filosóficos que norteiam o pós modernismo (não precisa ser um acadêmico para ser impactado por eles, basta estar vivo, assistir um filme, ouvir uma música ou no caso brasileiro assistir a novela da rede Globo)
Os fãs do Rock não compram o que a mídia tenta empurrar goela abaixo, mas assim como nossos heróis nós também estamos envelhecendo, nós sabemos que um solo do Eric Clapton e a voz do Brian Johnson valem muito mais do que qualquer Rap ou Funk que a imprensa não cansa em fazer propaganda , comos se fosse o estilo de vida vencedor, mas será que nossos filhos vão saber disso também?
Nesse cenário triste e difícil para todos os fãs do Rock eu convido todos vocês que ainda tem apreço pela boa música a manterem os seus CDs para pelo menos mostrarem aos seus filhos e netos, como eram os anos dourados, para que pelo menos dentro de suas famílias ainda exista essa tradição musical e ela não se transforme em apenas algo que eles irão ler a respeito nos livros de história. Porque daqui uns anos nem vão vender guitarras mais, apenas mesas para DJ.