Os últimos anos no Brasil foram marcados pelo renascimento do pensamento de direita, desde o meio de 2013 o povo brasileiro tomou gosto pela rua, tomou gosto pelo protesto. Aos poucos iam aparecendo cartazes com os escritos “Olavo tem Razão” e “ –Marx +Mises” , esse ressurgimento da direita brasileira passa sem dúvida por alguns nomes como o filósofo Olavo de Carvalho e a atuação de think tanks liberais como o instituto Mises Brasil e o instituto liberal, em um país dominado pelos vários tons de esquerda, leia-se PT e PSDB o pensamento de direita estava adormecido apesar de figuras históricas como Roberto Campos, Monteiro Lobato e Machado de Assis, nessa esteira de eventos nomes até então desconhecidos até mesmo do Brasileiro com ensino superior passaram a ser mencionados até mesmo pelos brasileiros médios. Edmund Burke, Roger Scruton, Alexis de Tocqueville, Hayek e T.S Eliot hoje são nomes que qualquer direitista conhece no país, ainda que muitos dos que conhecem não tenham lido as obras desses e de outros autores. Entretanto, já é um avanço quando se considera que esses autores sequer eram publicados em grande escala no país.
Esse artigo se propões a responder algumas questões pertinentes para o debate da filosofia política a cerca desse tema. A primeira pergunta é o que é Conservadorismo? A riqueza conceitual do conservadorismo vem justamente da sua divergência interna, Para o filosófo Roger Scruton na obra Como ser um Conservador (2014) “ O Conservadorismo é um sentimento que todas as pessoas maduras possuem de que as coisas boas são facilmente destruídas e dificilmente criadas “ Já para o cientista político Samuel Huntington no artigo “Conservatism as an ideology” O Conservadorismo é a única ideologia que não oferece nenhum tipo de visão perfeita sobre o mundo, sendo realista nesse sentido, já que não há uma utopia conservadora, Edmund Burke considerado o pai do conservadorismo discorda de cara de Huntington, uma vez que o Conservadorismo não se qualifica como ideologia, e nem como teoria de filosofia política e sim como uma disposição interior do indivíduo. Tais diferenças de interpretação tornam difícil colocar todos os conservadores como representantes da mesma tradição um conservador britânico e um francês podem discordar em vários pontos até pela distinção entre a filosofia analítica (Anglosaxã) e a filosofia continental (europa ocidental) a diferença entre as duas escolas é que a filosofia continental se preocupa mais com a interpretação sobre autores do que com a resolução dos chamados problemas filosóficos, enquanto a filosofia analítica é mais formalista no sentido de democratizar o acesso ao conhecimento buscando uma explicação sem margem para interpretações.
Como surgiu o Conservadorismo ?
O Conservadorismo surge no contexto da Revolução Francesa (1789), e a subsequente era do terror, os ideais supostamente nobres como liberdade, igualdade e fraternidade acabaram gerando um caos na França, uma destruição completa de todo o conjunto de valores e instituições que tornavam possível a existência uma existência minimamente pacífica do Estado francês, nesse cenário conturbado dois notáveis homens tiveram a coragem de pensar contra a corrente. um Francês, Joseph De Maistre (1753-1821) e um irlandês Edmund Burke (1729-1797). Os dois autores são amplamente reconhecidos como pais do conservadorismo moderno, ambos defendiam que o processo revolucionário não seria capaz de gerar uma nação melhor, pelo contrário o que a revolução francesa gerou um legado assassino de brutalidade e violência, não é por acaso que o termo terrorismo deriva dessa época.
Burke na obra Reflexões sobre a Revolução em França (1790) estabelece uma espécie de guia para todos os futuros conservadores, trazendo uma argumentação ancorada na realidade e eu diria que até mesmo derivada de Aristóteles, Burke diz que o ideal abstrato de uma sociedade melhor que moveu os jacobinos (revolucionários franceses) acabou por ser uma ameaça a todo o conhecimento adquirido na civilização pelas gerações anteriores, em uma revolução os vínculos de lealdade não existem, como é evidenciado pela história de Robespierre e dos três líderes da revolução russa Lênin, Trotsky e Stalin.
Curiosamente Burke se colocou como favorável a chamada revolução americana que para ele na realidade era uma reforma, isso é importante para desmistificar o entendimento do senso comum a cerca do que é o conservadorismo, reformas não corroem estruturas políticas ou sociais, portanto tem o apoio dos conservadores de origem burkeana, mudanças devem ocorrer de forma gradual, pacífica e sobretudo de forma orgânica, sem interferências ou indução para comportamento X ou Y. Hoje é fácil dizer que Burke estava certo pois a revolução americana gerou a nação mais rica e poderosa que se tem registro e a França, a exceção do período napoleônico (1799-1815) nunca mais alcançou uma posição de status ou prestígio sendo palco, inclusive para toda a ampla gama de movimentos filosóficos anti-ocidentais como o pós-modernismo presente nas obras de Louis Althusser, Michel Foucault e Jacques Derrida.
Outro ponto importante da obra de Burke é que ele deu origem ao chamado fusionismo, a junção dos princípios morais conservadores com a economia de mercado liberal, descendente da linha de pensamento burkeana, o filosófo Roger Scruton é outro que defende o sistema de livre mercado como o único capaz de gerar uma sociedade saudável, a diferença de Scruton para outros conservadores como o ex primeiro ministro britânico Benjamin Disraeli é que Scruton considera o livre comércio bom em si mesmo, enquanto Disraeli defendia quando enxergava que tal sistema seria bom enquanto não prejudicasse os interesses britânicos ou defendia medidas protecionistas quando fosse do interesse britânico. (Mais sobre se é possível ou não uma junção entre os dois pensamentos e quais são os pontos de aproximação e de discordância em um apêndice ao final do artigo escrito por um convidado)
A obra de Burke ainda hoje funciona como um norte para todos os simpatizantes do conservadorismo, mas a tradição burkeana não é, nem de longe a única presente nessa grande tradição de pensamento.
Majoritariamente existem três macro-divisões no pensamento conservador, os seguidores da já referida direita burkeana são os chamados hoje de conservadores clássicos, até meados do século XX esse era o pensamento básico dos Conservadores tanto britânicos como americanos ( a história do conservadorismo é interligada a história dos dois principais países de língua inglesa, especialmente pelo sistema jurídico da Common Law, países que adotam esse sistema aplicam as normas e regras jurídicas baseadas no costume e na jurisprudência e não no chamado direito positivo, como é no Brasil e nos países da europa continental )
Tudo mudou na década de 60, época complicada nos Estados Unidos, as questões ligadas ao movimento pelos direitos civis, os protestos pela guerra do Vietnã e as rápidas mudanças culturais da década como a revolução sexual e a geração hippie deram origem a duas vertentes conservadoras. De novo é importante notar, a capacidade de Samuel Huntington para previsões , em 1957 ele já antecipava que tais eventos viriam a ocorrer. “ When the challengers fundamentally disagree with the ideology of the existing society … and affirm a basically different set of values, the common framework of discussion is destroyed.” (Quando os desafiantes discordam fundamentalmente com a ideologia da sociedade existente, e afirmam um conjunto diferente de valores, o campo de debate comum é destruído – Tradução do autor ) HUNTINGTON, Samuel P. Conservatism as an ideology, American Political Science Review, Volume 51, Jun 1957, Pp 454-473.
A acurada percepção de Huntington demonstrava que em momentos de radicalismo os argumentos conservadores ganham nova vida para defender os modos de vida e as instituições, o radicalismo presente na década de 60 que levou um pequeno porém notável grupo de intelectuais democratas a mudarem de lado, na época eram capitaneados por Irving Kristol, Leo Strauss e Allan Bloom. Esse grupo trouxe para o movimento conservador americano uma valentia intelectual escassa na direita americana e com isso se tornaram uma importante força na política americana, especialmente na política externa. Exercendo forte influência nos governos de George W.Bush (2001-2009)
Os Neoconservadores tendem a ser utilitaristas, maquiavélicos no sentido técnico do termo e intervencionistas na política externa, exportando para as Relações Internacionais os valores morais conservadores. Kristol era frequentemente chamado de neoconservador como um insulto por autores de esquerda, mas Kristol gostou da denominação e passou ele mesmo a utiliza-la. O neoconservadorismo nas palavras de Kristol “is not an ideology but a “persuasion”, a way of thinking about politics rather than a compendium of principles and axioms” ( Não é uma ideologia, mas uma “persuasão”, uma maneira de pensar a política diferentemente do que um compendium de princípios e axiomas. ) Tradução do autorKRISTOL, Irving, Reflections of a neo-conservative, 1983, p. 79.
Outro ponto importante do pensamento neoconservador, é que é um pensamento clássico e não romântico no temperamento e pragmático e não utópico na política, para entender o sentido de clássico aqui se deve entender a influência de Leo Strauss no movimento neoconservador, Strauss foi talvez o maior pesquisador dos filósofos gregos e de Maquiavel, e seu artigo sobre as três ondas da modernidade talvez seja o mais influente escrito no século XX para os conservadores americanos. As três ondas são personificadas por Maquiavel, Rousseau e Nietzche. Strauss entendia que a filosofia e a política estavam interligadas, enxergava que a aplicação dos princípios platônicos e aristotélicos na filosofia política contemporânea era necessária como forma a combater o avanço do relativismo moral que tomou conta da academia e da sociedade após a terceira onda da modernidade. A teoria Straussiana é bem mais complexa e pode inclusive ser a estrela de seu próprio artigo, entretanto não dá para entender o neoconservadorismo sem entender ao menos o básico do pensamento de Strauss.
A Terceira vertente é o chamado Paleoconservadorismo e tem em Russell Kirk na filosofia política como seu principal representante. Eles também são fruto das intensas mudanças sociais da década de 60 entretanto seus princípios divergem bastante daqueles defendidos pelos neoconservadores. De acordo com o autor Michael Foley “paleoconservatives press for restrictions on immigration, a rollback of multicultural programs, the decentralization of federal policy, the restoration of controls upon free trade, a greater emphasis upon economic nationalism and noninterventionism in the conduct of American foreign policy” ” American Credo : the place of ideas in US politics , 2007. P.318. ( Tradução do autor: os Paleoconservadores defendem restrições na imigração, oposição ao multiculturalismo, descentralização da política federal (dando poder especialmente aos estados), restauração de controles sobre o livre comércio, maior ênfase no nacionalismo econômico e uma política externa não intervencionista). Tudo com uma visão geralmente ressentida sobre uma ordem social que precisa recuperar antigas linhas de distinção e, em particular, a atribuição de papéis de acordo com categorias tradicionais de gênero, etnia e raça.
Russell Kirk foi o responsável pelo renascimento das idéias de Edmund Burke nos Estados Unidos, sua tese de doutorado que acabou depois virando livro resgata o pensamento burkeano e causou um grande impacto no movimento conservador americano. Sua obra mais importante se chama a Política da Prudência na qual elenca os 10 princípios conservadores.
- Uma crença numa ordem transcendente,moral e duradoura;
- O conservador adere ao costume, à convenção e à continuidade;
- Conservadores acreditam no que pode ser chamado de principio da prescrição;
- Conservadores são guiados por seu principio de prudência;
- Conservadores prestam atenção ao principio da diversidade;
- Conservadores são refreados por seu principio de imperfectibilidade;
- Conservadores estão convencidos de que propriedade e liberdade estão intimamente vinculadas;
- Conservadores suportam a associação voluntária, tanto quanto se opõem ao coletivismo involuntário;
- O Conservador compreende a necessidade de restrição prudente sobre o poder e às paixões humanas;
- O pensador conservador compreende que a permanência e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade vigorosa.
Kirk também desenvolveu estudos sobre a proximidade entre o cristianismo e a civilização ocidental, chegando a proclamar que seriam inseparáveis um do outro. (Mais sobre a relação entre o conservadorismo e a religião em um anexo no final do artigo)
Os paleoconservadores estão mais próximos do pensamento tradicional burkeano do que os neoconservadores, a maior diferença se dá na questão econômica, paleoconservadores são nacionalistas e protecionistas enquanto os conservadores tradicionais são mais adeptos do sistema de livre mercado.
Existem diversos outros autores conservadores que mereciam ser citados com mais detalhe aqui, Raymond Aron, Eric Voegelin, Tocqueville, Hobbes, Michael Oakeshott, Roger Scruton, Richard Weaver entre outros, entretanto para fins didáticos já que esse é um artigo introdutório, optei por incluir com mais detalhes os autores que são automaticamente ligados a cada uma das vertentes.
Anexo 1: O Liberalismo e o Conservadorismo por William Tiago dos Santos, Bombeiro militar e estudioso do movimento libertário.
Podemos dividir o Liberalismo ao longo da história em quatro fases principais: Liberalismo Clássico, Conservador, Social ou Keynesiano e Neoliberal, e que devido ao momentos históricos distintos, possuíam características diferentes entre si. John Locke (1632-1704), Montesquieu (1689-1755), Adam Smith (1723-1790) entre outros, são considerados os pais do liberalismo clássico, fenômeno filosófico político que a partir do século XVII, criou uma nova ordem social, que abalou as estruturas do sistema absolutista europeu, sendo fundamental como base para nascimentos de movimentos típicos do século XX, como a Social Democracia, o Progressismo e também o Anarcocapitalismo.
O inglês Locke, autor do livro Dois tratados sobre o Governo Civil (1861), considerado extremamente radical para aquele período, pois no século XVII imperava as monarquias absolutistas no velho continente. Neste livro expôs suas idéias sobre o direito natural: Vida, Liberdade, Propriedade e Igualdade perante a lei. O individuo para Locke, estava acima do Estado, sendo que a lei positiva deve se basear no direito natural, introduzindo até o conceito de “direito de rebelião” contra governos que violassem os Direitos Naturais. Seu escritos e adeptos Influenciaram a Revolução Gloriosa na Inglaterra, a Revolução Francesa e Americana. Estas revoluções colocaram literalmente no campo de batalha, Liberais e Conservadores. A revolução Americana foi defendida por Edmund Burke (1729-1797), que apesar de ser um dos pais do Conservadorismo, era membro do Whig Party (partido político de tendência liberal no parlamento Britânico), defensor do pluralismo religioso e criticava o autoritarismo do rei George III (1738-1820). Suas idéias defendiam a liberdade indo de encontro com muitos liberais, sendo que Burke juntamente com Herbert Spencer (1820-1903) já no século XIX também são considerados como parte do chamado fusionismo. Esta simetria entre liberais e conservadores neste período, tem como fundamento para ambos a naturalidade de mudanças no sistema social, mas que nem tudo que foi constituído pelo homem no passado é ruim e deve ser destruído, e que o ser humano deve preservar a sociedade para as futuras gerações.
Os trabalhos de Ludwig Von Mises (1881-1973) e Friedrich Hayek (1899-1992) principais economistas liberais do século passado, firmaram um ponto de apoio não só do ponto de vista econômico mais ético e moral para as vertentes Conservadoras até os dias atuais (apesar de a Escola Austriaca enfatizar que econômia e ética são indissociavéis), além de criticar o Liberalismo Social ou Keynesiano. Quanto da parte econômica, destaca-se a defesa do livre comércio, com mais ou menos regulações, conforme a corrente conservadora, sendo em nosso país a Praxeologia Misesiana referência para os principais pensadores conservadores brasileiros, como o próprio Olavo de Carvalho. No campo ético e moral a luta contra o comunismo/socialismo e o coletivismo, que também pode ser representado pelo movimento nazista, sendo exposto por Hayek em seu livro O Caminho da Servidão (1944), escrito em plena 2ª Guerra Mundial, prevendo brilhantemente o confronto entre os comunistas e as democracias ocidentais após o conflito. Baseado nos fundamentos da Escola Austríaca, formou-se as bases da “Escola de Chicago de Economia” de modelo Neoliberal, que teve o papel importante em propor na prática a diminução do papel do Estado na econômia, tendo forte influência nos governos Neoconservadores de Margaret Thatcher (1979-1990), Ronald Reagan (1981-1989) e o governo militar Chileno de Augusto Pinochet (1973-1990), ressaltando-se o trabalho dos ‘Chicago Boys’ neste país. Milton Friedman (1912-2006), considerado o principal pensador da Escola de Chicago, foi confrontado devido ao regime Chileno ter vivido um “milagre ecônomico” e não ter possuido liberdade politica nos anos Pinochet, será que realmente a liberdade ecônomica estaria entrelaçada com a liberdade politica como ele mesmo defendia?
Por fim o economista e filósofo Murray Rothbard (1926-1995) na década de 1950 cunho o termo anarcocapitalismo para descrever o anarquismo de livre mercado, movimento este que apesar de ainda novo no Brasil em relação ao movimento Liberal e Conservador, teve atualmente o seu lugar nas discussões politicas em nosso país. Trata-se de uma filosofia política econômica baseada no direito natural, não só jusnatural como jusracional, no Principio da Não Agressão, defensora da propriedade privada e do livre comércio, sendo o Estados e seus respectivos governos ao longo de toda a história da humanidade, para os anarcocapitalistas, o principal violador destes direitos. No livro A Ética da Liberdade (1982), Rothbard descreve como seria as leis em uma sociedade onde realmente o individuo fosse respeitado, com individuos e empresas fornecendo de forma voluntária todos os serviços necessários sem a formação de um Estado (lembrando que anarquia não é ausencia de leis e sim de coerção). Rothbard apesar de não adimitir a autoridade do governo sobre os individuos, acreditava ser ético que individuos apoiem leis governamentais que aumentem a liberdade para as pessoas. Resumidamente para os anarcocapitalistas, o erro crasso de Liberais e Conservadores é sua total dependência de governos aliados com suas posições éticas e morais, pois os anarcocapitalistas entendem a priori, que os Estados são os principaiss violadores do direito natural, são os que mais perseguem religiosos e que mais destroem o que é foi adquirido de bom no passado pela humanidade, e assim deixando cada vez mais sem esperança um futuro melhor.
Anexo 2: A Religião e o Conservadorismo por Filipe Chácara, Administrador (Fumec-BH) e especialista em teologia.
Os cristãos e o conservadorismo
Os cristãos possuem como ordenanças fundamentais, os 10 mandamentos. Mais de 2000 anos de existência de 10 leis básicas que mesmos os mais descrentes e distantes do pensamento religioso precisam admitir, que sua estrutura funciona para a perpetuação da vida e do crescimento da sociedade. Quando Jesus veio, Ele não veio para promover uma revolução e acabar com as leis, mas, como uma de suas várias funções, veio resgatar os princípios que servem de origem para os mandamentos. Não há mais nada conservador que respeitar os princípios e valores que são base para formação de regras que funcionam para o convívio em sociedade, de forma pacífica e em liberdade. Isso é algo que a tradição cristã perpétua, principalmente para educar a próxima geração.
Há indivíduos com uma desobediência incoerente com sua fé e com esses valores, que se autodenominam cristãos. Mas basta entender que isso não desvaloriza a lei ou os valores cristãos, mas os enaltecem, justamente por identificarmos as consequências destrutivas da desobediência. Em Juízes 3, percebe-se esse comportamento quando o cristianismo, ainda primitivo, esqueceu de honrar esses valores e suas leis. Houve falhas na perpetuação das histórias e do significado das tradições, o que fez com que os judeus fizessem aliança com seus inimigos e fossem novamente, destruídos. Sendo assim, os cristãos mais firmes e obedientes com as escrituras são em essência, conservadores. Enquanto os conservadores, mesmo que destituídos da fé, podem estar mais próximos da essência do cristianismo do que muitos “cristãos”, que constantemente estão abrindo mão dos seus valores para defender movimentos LGBT+, aborto, marxismo cultural etc.
Essa abertura dos valores “cristãos”, é só mais uma repetição do erro antigo que os judeus tinham, aliar-se com o inimigo. Em todo movimento que se pode ser denominado como esquerdista, as pautas foram se adaptando para não assustar tanto a população com suas intenções verdadeiras. Não é atoa que o Brasil é o país mais gramscista do mundo, onde os planos de atacar a igreja,a família e a educação deram certo até demais. Isso chegou ao ponto que na sociedade brasileira, cristãos não conseguem entender a importância de dedicarem em princípios tão básicos da sua própria crença, quanto mais se dedicarem a entenderem as origens das ideias que estão divulgando e seguindo cegamente. Por isso, há dificuldades em entender essa aliança natural entre cristianismo e conservadorismo, pois alguns “cristãos” que são tomados como referência de fé, não passam apenas de um exemplo da vitória gramscista.
Contudo, essa influência gramscista está chegando nos seus últimos dias de influência. Isso pode ter acontecido por diversos motivos, como o constante ataque da esquerda as figuras sagradas do cristianismo, resgatando suas essências jacobinas de querer “enforcar o último rei nas tripas do último padre”. Também, uma possível causa são as tentativas de pautar e controlar as reuniões religiosas pela máquina estatal, a qual apenas gerou somadas revelações da moralidade dos principais líderes desses movimentos. Além disso, há um crescente número de teólogos respeitáveis como Franklin Ferreira, Yago Martins, Augustus Nicodemus e Timothy Keller que se empenham em alertar os cristãos sobre o perigo das teologias progressistas, conhecidas como o “liberalismo teológico”. Mas essa percepção dos cristãos e o conservadorismo, já foi feita por um cristão famoso, C.S Lewis.
O Conservadorismo e os costumes das religiões
Em abolição do homem, C.S Lewis propõe uma reflexão sobre a importância do Tao. No caso, Tao para Lewis se refere a Lei natural, que é a junção de princípios e valores das civilizações e religiões que concordam entre si. Com esses valores, há uma orientação clara de caminhos que devem ser seguidos e respeitados para que o homem possa continuar com sua existência. Contudo, Lewis conclui-se que quando retiramos esses valores da sociedade, principalmente da educação dos homens, podemos promover consequências terríveis.
Uma dessas consequências é da criação de homens sem peito, que só valorizam o pensamento racional, e por isso, se afastaram dos seus valores e princípios emocionais. Esses princípios que seriam responsáveis por fazer com que homens arrisquem sua vida para proteção das suas mulheres, filhos e do bem da sua nação. Até porque não é uma escolha racional que determina certo grau de sacrifício, e sim o amor a essas relações.
Um exemplo disso são os homens que tiveram sua masculinidade afetada pela ideologia feminista. Essa ideologia os convenceu de que deveriam abandonar esses valores, pois na perspectiva feminista, oprimiam a mulher e faziam ela se sentir inferior. Ironicamente, esse mesmo desdém pelos costumes tradicionais que as feministas e os homens afeminados possuem, acabam colocando em risco não somente a convivência entre ambos os sexos como também a própria continuidade da espécie.
Outra consequência do abandono dessas leis naturais, seria o oposto do homem “pós-moderno”, o homem animalesco (Estado de Natureza Hobbesiano ) que só pensa em prazer e satisfação dos seus próprios desejos. Ironicamente, esse tipo de homem é semelhante ao pensamento da “New Left” em que os valores e princípios são uma forma de opressão para a verdadeira liberdade. Mas não entendem que quanto mais ele se fecha as próprias vontades, vive em função de satisfazê-las e acaba se privando ainda mais de liberdade para buscar algo além do prazer.
O escritor C.S Lewis, então conclui sem a Lei Natural ou o homem abandonaria seus deveres como protetor do que é bom, ou ele abandonaria a sua sanidade para agir como um animal primitivo. Ambos os caminhos levam a mesma finalidade, a abolição do homem.