Recentemente o Fernando Haddad, Ministro da Fazenda do atual governo, está sendo alvo de memes que fazem trocadilho com seu nome e a palavra “Taxa”. As piadas constantes com o ministro chegaram até serem postadas na Times Square, um dos pontos mais movimentados do mundo.
O motivo dos memes está sendo devido as constantes ideias e propostas do governo atual que cogita aumentar as taxas/impostos em diversos setores da economia. Essas medidas do governo atingiram uma rejeição geral da população e a oposição aproveita a oportunidade em um tom brasileiro, de brincar com tudo, para produzir piadas em massa. Isso tomou uma proporção tamanha ao ponto de ser o assunto mais buscado e consumido nas mídias sociais no X (antigo Twitter), Facebook e Instagram, sendo a estimativa pública de mais de 11 milhões menções, sendo que a Copa América gerou 7 milhões de menções.
Neste contexto, o governo atual e seus apoiadores não conseguem deixar isso passar desapercebido e ignorar, sendo a primeira reação uma defesa com maior rigor. O deputado federal Lindbergh Farias e assim como outros apoiadores, estão dizendo que o ministro estava sendo atacado por meio de memes. Enquanto isso, alguns veículos da mídia estão afirmando que esse ataque tem origem de algo profissional, com alguma pessoa ou grupo financiado essa produção de piadas. Alguns jornalistas da Globo News se posicionam com o caso que demonstrando que deveria ocorrer uma regularização e criminalização dessas ações.
O Brasil é o país que mais produz e consome memes no mundo. O brasileiro consegue produzir memes com tudo que possui ao seu alcance e sobre tudo. Com o avanço das tecnologias de inteligência artificial e seu fácil acesso, se tornou ainda mais prático a produção de piadas que aparentam ser “piadas muito profissionais” para edição e adaptação de rostos em escala reais para se enquadrar em certos contextos humorísticos e aplicar as ideias.
Além disso, se a piada se torna popular, a tendência é comentar, procurar mais e compartilhar com as pessoas próximas. Alguns não se contentam no compartilhar e também fazem suas próprias versões. Isso não acontece somente com a esfera política, mas com futebol, filmes, séries e outros elementos relacionados com a vida do brasileiro. Mas, essa não é a primeira vez e não será a última que os memes são tratados com rigor.
O espectro político da esquerda possui um histórico a tentar impedir que os memes tomem certa proporção. Durante a campanha Hilary x Trump, os memes tomaram uma proporção nacional “perigosa” nos Estados Unidos, sendo um meme inofensivo utilizado inicialmente em 2005, conhecido como Pepe frog, retornou em 2016 sendo utilizado como apoio ao Trump. A partir disso, o cartoon passou a ser considerado como simbolo de apoio a supremacia branca.
Contudo, assim como no passado, hoje a esquerda se demonstra incapaz de lidar com as piadas sem mostrar uma hipersensibilidade e preocupação com sua reputação. Isso levanta o questionamento: por que a esquerda sabe não fazer memes como resposta?
Os memes são uma produção de piadas que dependem de pelo menos duas características, sendo o sarcasmo e a ironia. Ambas são formas de comunicar ideias com tons humorísticos que tendem de uma certa forma a flertar com certos níveis de comunicação que podem ser mais ou menos agressivos, dependendo da piada e seu contexto. Contudo, qualquer agressividade social por meio de piadas, é um risco de cancelamento e perda de reputação para pessoas que se consideram justiceiros sociais.
A esquerda se posiciona contra as injustiças sociais e ambientais de forma que precisa demonstrar a todo momento um posicionamento forte e ativo a favor dessas causas, sem poder se manchar com qualquer ideia que coloca em risco sua credibilidade política. Até porque, o principal motor que leva a esquerda a ganho de poderes políticos é ter conquistado o posicionamento de espectro “verdadeiramente” justo.
Se esse posicionamento contra as injustiças é honesto ou não, isso cabe ao leitor decidir, mas é necessário entender que existe uma imagem e uma postura que a esquerda construiu e quer manter no imaginário popular da forma mais forte e positiva possível.
Essa imagem construída permite a esquerda posicionar-se mais agressivamente contra seu opositor, por acusá-lo de ser conivente com as injustiças que acontecem no mundo, sendo na perspectiva da esquerda, ela é a única sensata para trazer ordem as sociedades. Esse tipo de pensamento político, não abre espaço para sarcasmo ou ironia nem pública e nem nós próprios pensamentos, para não ocorrer o risco de estar ofendendo ou diminuindo o sofrimento de alguma minoria oprimida.
Não é que a esquerda é incapaz de ser sarcástica ou irônica, pois ela é suficientemente capaz disso quando se trata de fazer uma propaganda política ou na construção de narrativas. Mas o humor dos memes requer que o uso sarcástico ou irônico, que essencialmente visa explorar o ridículo de alguém ou alguma coisa, o que pode fazer com ela ofenda e pratique injustiças sociais, com quem ela jurou defender.
Por exemplo, se a esquerda quiser atacar o seu adversário que possui pequena relevância política, ela jamais o chamaria de “anão político”, uma estrutura que carrega uma metáfora sarcástica, que poderia atingir as pessoas com nanismo e entrar em rota de colisão com suas pautas. No fim, a esquerda, apesar de ter criado um “Tao” para impedir que ocorra injustiças com ofensas, ela também cria um limitante intelectual de não conseguir produzir o humor, pois qualquer tipo de humor pode ofender ou não qualquer pessoa.
A relativização do próprio conceito de “ofensa” ou “ataque” flexibilizou o seu significado e estendeu seus impactos de tal forma que qualquer coisa pode ser considerada ofensiva um ataque, pois depende exclusivamente de uma percepção emocional relativa a cada um e que não pode ser questionada ou ter outro tipo de fundamento mais lógico. Dessa forma, mesmo que a esquerda tente fazer memes, ela tentará sem usar os artifícios essenciais e vai se defrontar sem perceber que ela não é capaz de fazer memes engraçados.
A própria SECOM (secretária de comunicação) tentando demonstrar um apoio ao Haddad e contrariando os memes, fez um meme mostrando que os preços das frutas estão caindo.
O resultado do meme além de não ter graça pelo público dos internautas, evidenciou a tentativa falha da SECOM em divulgar uma notícia, aparentemente, positiva ao governo, afim de combater a ideia que o aumento dos impostos relacionados ao Haddad poderiam estar aumentando os preços do mercado, mas quando a própria internet checou a notícia evidenciada pelo órgão, descobriram que se tratava de uma notícia da época de outro governo.
Não é possível concluir que a esquerda, que apesar de não saber produzir memes, não saiba apreciar. O que acontece é que a esquerda teme o impacto negativo com toda essa repercussão em seu poder político.
Em “Rules for Radicals”, um livro escrito por Saul Alinsk, “O humor é essencial para um tático bem-sucedido, pois as armas mais potentes conhecidas pela humanidade são a sátira e o ridículo”. Acontece que é mais fácil as pessoas lembrarem de uma piada ou um meme, do que um argumento político. Dessa forma, a esquerda teme que seus principais símbolos e representantes do poder, sejam destituídos do pedestal de justiceiros e arautos da competência, para se tornarem apenas um bando de ridículos. Como diz Saul Alinks no livro citado, “O ridículo é a arma mais potente do homem. É difícil contra-atacar o ridículo, e isso enfurece a oposição, que então reage a seu favor.”