Em meu último artigo, falei sobre o ciclo de fracassos que atinge os brasileiros. Esse ciclo, é composto basicamente por pessoas que vivem de mentiras. Umas vivem a partir do consumo delas, enquanto outros vivem pela venda de falsas certezas e garantias de sucesso. Mas, ao mesmo tempo, em meio a tragédias e desastres, uma parcela da população dá o verdadeiro exemplo de empatia e humanidade.
Recentemente, todo o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por uma terrível enchente, e seus danos ainda parecem impossíveis de serem medidos em toda sua amplitude. Apesar da mídia esconder boa parte dos fatos, os relatos de diversas pessoas que foram ajudar demonstram que os danos são muito piores do que o restante do país conhece. Mesmo com tantas denúncias, podemos avaliar que a atitude esperada das lideranças políticas e responsáveis para prestar socorro a população se mostraram na opinião popular como despretensiosamente falha.
Em contrapartida, as iniciativas privadas de influenciadores digitais, empresários de dentro e fora do estado, assim como pessoas comuns, se despuseram e se sacrificaram com doações, equipamentos e esforços para que em várias semanas pudessem resgatar as pessoas que ainda estavam vivas. Apesar da tragédia, os brasileiros tiveram a oportunidade de ressoar, com ações marcantes, um discurso contra aos arquétipos de vira-lata que carrega injustamente.
Vejamos que em um lado, temos o Estado estruturado com dinheiro público para o cidadão ter sua dependência em suas instituições, principalmente em crises. A distribuição de ajuda humanitária, além dos recursos e propor soluções para o encaminhamento da reconstrução das vidas que foram atingidas, deveria ser um protocolo existente para esses momentos, mas quando houve a necessidade de aplicar esses protocolos, se realmente existem, apenas foi alertado o constante despreparo de praticamente de todas as instituições a níveis de transporte, segurança e resgate.
No outro lado, uma população que precisou usar os próprios recursos levando apenas algumas horas, com o instinto latente e praticamente imediato de caridade e empatia pela necessidade daqueles que mais precisavam. Sem treinamento, sem recursos organizados e protocolados para isso, mas apenas com a boa vontade organizacional de ajudar e com o foco conjunto, construíram laços e equipes imediatas de resgate, arriscando a vida em certas situações e em outras até a sanidade mental pelas cenas chocantes que tinham que se deparar durante vários dias de contínuos.
A polarização do país, antes mesmo de ser política devido ao bolsonarismo, demonstra que também surge por questões morais gritantes, que demonstram existir dois povos completamente diferentes. Temos os dispostos a seguir e espalhar mentiras, enquanto os outros estão preocupados com valores que jamais podem ser medidos com riquezas materiais. Alguns torcem pelo sofrimento dos seus rivais em tragédias sem dimensões, temos outros que se sacrificam por pessoas que mal conhecem. Como diria Rumpelstiltskin no conto dos irmãos Grimm, “Coisas vivas valem mais do qualquer riqueza”. Esse embate polarizado está longe para acabar, mas se pudermos avaliar algo positivo dessas tragédias, podemos perceber que há um povo brasileiro com um potencial para superar muitas expectativas.