A polêmica da semana foi a declaração esdrúxula do “Youtuber” Monark no Flow Podcast. Junto dos deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral, o ex-apresentador do podcast Flow afirmou que deveria poder existir um partido nacional-socialista no Brasil, consequentemente, legalizando a ideologia nazista. Lamentáveis tais declarações. Debater sobre a forma como o nazismo deve ser combatido, se devemos adotar o modelo de liberdade de expressão irrestrita advinda da filosofia iluminista e aplicada nos Estados Unidos, combatendo os dogmas ideológicos do nazismo pelas ideias, não pela lei, faz parte do debate público, discordando ou não. Porém, a defesa da possibilidade de instauração de um Partido Nazista significa legitimar a ideologia nacional-socialista no espaço público. Um Partido pró-crime com tempo de televisão e fundo partidário. O crime passa a gozar de CNPJ, possibilidade de ascenção ao poder político, proteção do Estado e financiamento legal.
Monark foi “cancelado”, deixou de fazer parte do quadro societário da empresa dona do Flow Podcast, recebeu ondas de críticas de todos os meios, entretanto, não parou por aí. Aquilo que era crítica, se tornou histeria. Um dos problemas da cultura do cancelamento é a ausência de prudência, como nos discursos inflamados em defesa da prisão do ex-apresentador do Flow. Ponderá-lo-ei que quaisquer que forem as medidas judiciais contra a figura de Monark seriam ilegais e arbitrárias. A Lei Nº 9.459/1997, que altera a Lei Nº 7.716/1989 que define os crimes resultante de preconceitos de raça e de cor, diz no seu artigo 1º:
§1º – Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
Obviamente a mera opinião de que deveria existir um Partido Nazista no Brasil não configura divulgação do Nazismo.
Mesmo se observarmos a Lei Nº 7.716/1989 no seu Artigo 20, também não faz sentido alegar crime:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa
A opinião da existência do Partido Nazista não configura prática criminosa da lei acima, pois não há uma apologia ideológica do nazismo por Monark. Dizer que algo deveria poder existir não significa aderir ou incitar a coisa que se quer permitir existir. APENAS do ponto de vista jurídico, a declaração do Youtuber é irrelevante. Sua prisão constataria problemas sérios no exercício da justiça no Brasil e um claro ataque das instituições jurídicas contra a liberdade de expressão.
O COMUNISMO E O NAZISMO DEVEM SER CRIMINALIZADOS E TRATADOS DE FORMA IGUAL?
No meio de toda a polêmica, a discussão entre criminalização e equiparação do comunismo com o nazismo passou a fazer parte das discussões políticas, pois a declaração de Monark fez alusão a permissão no debate público e partidário, do extremismo de esquerda. Integrantes de movimentos de direita usaram da leniência da grande imprensa com partidos e militantes comunistas para destacar uma suposta hipocrisia dos defensores da legalidade do comunismo ao cancelarem Monark por “apologia ao nazismo”.
Se você perguntar a um entusiasta do pensamento de esquerda, mesmo os não-marxistas, tendem a responder da seguinte forma:
“O Nazismo prega o ódio e o genocídio a raças e etnias inteiras, a própria ideologia já é criminosa por pregar o ódio e a morte de grupos étnicos. O comunismo, em tese, prega a justiça social e uma sociedade igualitária. O genocidio promovido por líderes que se diziam marxistas ocorreram pelo caráter ditatorial dos ditadores, não do comunismo como tese. Por todas as razões descritas, o nazismo deve ser crime e o comunismo não”.
Este é um problema argumentativo do esquerdismo: a romantização deturpada da ideologia marxista, excluindo dela o caráter violento da pregação revolucionária.
Não há marxismo sem o ódio entre classes sociais e a pregação de um processo revolucionário mediante a violência.
Por exemplo, Marx na sua crítica a Pierre-Joseph Proudhon, descrita na obra Die Armut der Philosophie (1847), diz que não devemos adotar um discurso de moralização reformista do capitalismo para encerrar as supostas contradições morais do próprio, como defendia Proudhon, pois seriam suas contradições intrínsecas. Usar de tais contradições para estimular o conflito entre as classes sociais, e assim, superar a realidade de exploração capitalista era a única forma de transformação social que aboliria a sociedade de classes e daria fim a propriedade privada, que Marx e Proudhon acreditavam que era um tipo de roubo. Dizia Proudhon: “A Propriedade Privada é roubo!”. Para Marx, não era possível para o movimento socialista melhorar pacificamente e de forma reformista o capitalismo, mas sim, promover o ódio entre as classes e o processo revolucionário.
Marx viveu no século seguinte a Revolução Francesa. Sua visão materialista histórica identificava ali um processo de libertação da burguesia perante o sistema feudal. Assim como a burguesia se libertou do feudalismo por meio da revolução, os trabalhadores deveriam operar da mesma forma, com a finalidade de abolir toda e qualquer desigualdade. A inspiração revolucionária de Marx era a França do final do século XVIII, era um herdeiro do jacobinismo, sendo ele mesmo, especialmente quando jovem, um jacobino. O filósofo marxista hungáro Györky Lukács em Le Jeune Marx. Son Évolution Philosophique de 1840 à 1844, explica o caráter jacobino de Marx:
“Durante sua breve passagem pela direção da Gazeta Renana, Marx realiza no plano teórico a evolução que o jacobinismo francês conheceu na prática, cinqüenta anos mais cedo(…) Um jacobino contemporâneo de lutas de classe desenvolvidas em escala internacional de um modo que não acontecia durante a Revolução Francesa, e a partir das quais o proletariado começa a se apropriar da ideologia socialista”.
Le Jeune Marx. Son Évolution Philosophique de 1840 à 1844, Györky Lukács
Os jacobinos na França promoveram genocídios de grupos religiosos e de classes. Levaram homens, mulheres e crianças para a morte na guilhotina. Mandaram matar 16 carmelitas da região de Compiègne para a guilhotina por se recusarem a assinar o “juramento revolucionário”.
Em Vendéia, os jacobinos mataram trinta mil camponeses, em sua totalidade, católicos, que não se sujeitaram ao exército revolucionário. Na obra Dictionnaire Critique de la Revolution Francaise, o historiador francês François Furet descreve bem à barbaridade dos revolucionários:
“Destruam a Vendéia”- exclamou num enfurecido discurso diante da Convenção Nacional, o deputado republicano Bertrand Bariére de Vieuzac. Em 1º de Agosto de 1793, o governo decretou a aniquilação da Vendéia, a ordem era de incinerar florestas e casas, derrubar cercas, retirar os animais e transformar a região em um deserto. Em Janeiro de 1794, a Convenção autorizou o extermínio dos rebeldes. Em seu relatório final ao governo, o general Westermann informava: “Não há mais Vendéia. Está morta sob nossa espada livre. Degolei os homens e as mulheres, esmaguei as crianças sob as patas dos cavalos. Não tenho nenhum prisioneiro, exterminei a todos”.
Dictionnaire Critique de la Revolution Francaise, François Furet
Como afirma o historiador francês Reynald Secher, o ocorrido em Vendéia configurou: “o primeiro genocídio moderno”.
Eu lhes pergunto, um herdeiro do pensamento revolucionário jacobino não é tão intolerável quanto um propagador do nacional-socialismo?
Uma ideologia que defende o uso da radicalização revolucionária, em que uma suposta classe oprimida (narrativa empiricamente falsa) deve agir violentamente contra outra classe para abolir as desigualdades, não é um discurso de violência política tão deplorável quanto a defesa do morticínio étnico do nazismo?
O que difere o discurso de luta de classes e luta de raças? Nada. Uma classe “oprimida” assassinando outra para se chegar a um modelo de sociedade “livre”; uma raça “superior” assassinando outra para se chegar a um modelo de sociedade “livre”.
Olhemos para o Manifesto do Partido Comunista, em seu primeiro anexo, denominado Princípios do Comunismo. Engels, em uma rodada de perguntas, responde sobre o comunismo e os meios de ação revolucionária da classe trabalhadora.
Na 18ª pergunta, temos a seguinte indagação: que curso seguirá essa revolução?
Em sua resposta, Engels lista as medidas que os proletários devem tomar para extinguir a propriedade privada e garantir sua própria existência. Vejamos duas dessas medidas “democráticas” que deveriam ser tomadas:
- Confisco dos bens de todos os emigrados e de todos aqueles que se rebelarem contra a maioria do povo.
Aqui, Engels defende claramente o roubo dos bens e das propriedades de emigrantes e daqueles que se colocam contrários ao processo revolucionário. Um discurso autoritário que busca se empregar o crime contra grupos e divergentes. O nazismo impetrou o mesmo processo de roubo e confisco dos bens dos inimigos do Reich, inclusos judeus, testemunhas de Jeová, ciganos e não-arianos.
- Trabalho obrigatório para todos os membros da sociedade, até a completa abolição da propriedade privada. Formação de exércitos industriais, especialmente para a agricultura.
vem daí a ideia de Trotsky de tornar o trabalho em serviço militar obrigatório na União Soviética. Nada de deturparam Marx, meu caro leitor, Marx e Engels eram defensores de uma medida extremamente “democrática”: militarização do trabalho, com direito à conscrição.
A defesa do genocídio, da guerra e divisão entre classes e grupos é parte do cerne do marxismo e de sua revolução. A defesa dos pais do socialismo do morticínio em massa era exposta em livros e jornais, como demonstra o historiador inglês George Grimes Watson:
“Eu não sei se muitas pessoas sabem, mas só o socialismo publicamente advogou genocídio nos séculos XIX e XX. É um fato bastante desconhecido e parece chocante se você mencionar. Eu lecionei aqui (Universidade de Cambridge) e em outras universidades e sempre houve um certo sentido de choque. Primeiro apareceu em Janeiro de 1849, no jornal de Karl Marx, Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana), Friedrich Engels escreveu: “Quando a revolução socialista acontecer, a guerra de classes, haverá sociedades primitivas na Europa dois estágios atrás, porque nem sequer são capitalistas ainda.” Ele tinha em mente os bascos, bretões, escoceses e sérvios. Chamava-os de Völkerabfälle (“lixo racial”). E eles teriam que ser exterminados porque estando dois estágios atrás na luta histórica, seria impossível trazê-los ao nível dos revolucionários. Marx foi o predecessor do modelo político do genocídio. Eu não conheço nenhum pensador europeu num período anterior a Marx e Engels que tenha publicamente advogado um extermínio racial. Eu não consigo achar mais nada antigo, então presumo que começou com eles.”.
Documentário “The Soviet Story”
Não se trata de uma ideologia que prega “a justiça social e igualdade”. É um mito. Se trata de uma ideologia que, para fins de se chegar em um utópico mundo igualitário, propõe o ódio entre classes sociais, grupos e povos, sendo o genocídio e a guerra, formas de se chegar ao comunismo.
Stalin, Pol Pot, Lênin, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro… nenhum deles deturparam Marx, ao contrário, concretizaram aquilo que Marx escreveu.
Respondam à pergunta, por que nenhuma experiencia socialista que chegou a práxis foi democrática? Por que todas elas foram tirânicas, sem exceção? Todos deturparam Marx?
Se falamos em criminalizar o nazismo, devemos criminalizar o comunismo e vice-versa. Não tem meio-termo. Mas, os defensores de Stalin, do comunismo e sua tirania, gozam de leniência da grande imprensa, da academia, do meio jurídico e político. Partidos que defendem uma ideologia assassina gozam de proteção do Estado e fundo partidário (pagamos impostos para financia-los). Um exemplo da leniência da imprensa ao comunismo é Jones Manoel, Youtuber stalinista que foi entrevistado na Globo News, não foi em um ambiente que repudiasse suas ideias, mas que passava um suave pano em suas visões ideológicas. Monark foi cancelado, mas por qual motivo, razão ou circunstância, o mesmo não ocorre com Jones Manoel e Silvio de Almeida (um marxista-leninista que dá entrevista para programas como Roda Viva para falar sobre racismo estrutural e é recebido com afagos por jornalistas patifes)? A resposta é simples, para o establishment midiático, ser comunismo é “cool” e descolado. É a mesma visão de qualquer jovem militante comunista: comunistas são bons moços que querem justiça social e igualdade.
Nazismo e comunismo são a mesma porcaria!