No dia 23/02 os Alemães irão escolher qual será o futuro da maior economia da Europa após o colapso do coalizão governista do partido social democrata (SPD) do primeiro ministro Olaf Scholz no último ano, a pressão sobre o país conhecido como locomotiva da Europa é enorme, entre as ameaças do presidente russo Vladimir Putin e agora sem a garantia de apoio incondicional americano devido ao isolacionismo exacerbado do novo presidente americano Donald Trump. A Alemanha se encontra em uma péssima posição, a economia em recessão se encontra em retração por dois anos consecutivos, a competição com os produtos chineses que sempre chegam custando muito menos através das conhecidas práticas de Dumping do dragão asiático estagnaram a indústria no coração da economia europeia e recentes atentados terroristas levaram a uma enorme pressão dos setores conservadores e nacionalistas para controlar as fronteiras e reformar as regras de asilo e imigração.
A Alemanha possui um sistema parlamentarista e multipartidário tal como a Inglaterra, porém com um presidente e não um monarca exercendo as funções de Chefe de Estado enquanto o primeiro ministro exerce as funções de Chefe de Governo. Como disse em artigos anteriores o parlamentarismo é o mais complexo dos sistemas de governo e funciona basicamente seguindo quatro regras.
1-Os votantes elegem os membros do parlamento e não os candidatos diretamente.
2-Os cargos de Chefe de Estado e Chefe de Governo são obrigatoriamente ocupados por pessoas diferentes
3-Entre os dois a maior parte dos poderes fica com o Chefe de Governo, embora o Chefe de Estado possa dissolver o parlamento se provocado pelos parlamentares com um voto de desconfiança sobre o Chefe de Governo
4-O parlamento elege o Chefe de Governo, e pode recusar ou demitir ministros escolhidos pelo mesmo.
O melhor resultado para o país, seria aquele que o livraria das complexas negociações parlamentaristas no Bundestag para se chegar a uma maioria legislativa, ou seja, seria necessário uma vitória majoritária de um partido com condições de governar de forma monopartidária, porém esse resultado se apresenta como extremamente improvável nas vésperas do pleito.
O favorito para ocupar o cargo de chanceler é o Conservador Friedrich Merz do partido democrata cristão (CDU). Merz é uma figura com histórico na Política Alemã, tendo sido derrotado internamente no partido por Angela Merkel em 2018 e por Armin Laschet em 2021. Ideologicamente Merz está mais à direita do que os mais centristas de seu partido, moralista e próximo dos grandes empresários, Merz esteve por anos envolvido com o mercado financeiro, ele está prometendo amplos cortes de 50 bilhões de euros nos custosos programas de bem estar social do país e transferindo esses recursos para o apoio militar em relação a Ucrânia, ele também prometeu cortar impostos e reforçar a política imigratória.
Seu partido, o maior da Alemanha conforme o gráfico ao fim do texto demonstra deve conseguir cerca de 30% dos votos, o que iria garantir ao CDU. 221 deputados dos 630. Menos do que o necessário para garantir a maioria para governar de maneira monopartidária. O único partido que Merz pode contar 100% é com os liberais do FDP que aparecem com 4% dos votos para formar o governo o que colocaria a centro direita com 251 deputados, porém o cálculo de Merz precisa levar em consideração um problema, na Alemanha assim como no Brasil existe a chamada Clausula de Barreira, o que significa que se determinado partido não bater ao menos 5% dos votos totais ele não alcança representação no parlamento, logo não pode tomar posição para participar de uma coalizão governista, os liberais precisam atingir ao menos 5% dos votos totais e mesmo assim o CDU ainda estaria abaixo do necessário que seriam 315 deputados.
Dos demais partidos representativos é muito complexo formar alianças. O BSW que se apresenta como um partido “Conservador de Esquerda” e que talvez pudesse aderir ao governo também possui os mesmos 4% dos liberais, Os ecologistas, o partido social democrata e os comunistas somados possuem 36% das intenções de votos. Desses três apenas os sociais democratas com 15% talvez pudessem ser persuadidos a se juntarem ao governo uma vez que a agenda dos ecologistas e dos comunistas não tem nenhum ponto de associação, intercessão e muito menos proximidade ideológica com a agenda planejada por Merz.
A agenda que poderia aproximar os Conservadores dos Sociais Democratas é a da Política Externa, no ano passado escrevi aqui sobre o renascimento da Alemanha enquanto superpotência militar. https://br.hermeneuticapolitica.com.br/politica-internacional/o-renascimento-de-uma-superpotencia/
Os dois partidos mais representativos do país parecem no momento conjugarem uma visão parecida com a que Republicanos e Democratas possuíam na época da Guerra Fria, a necessidade de uma Política de Estado e não de Governo para a defesa. Caso essa união aconteça. Merz conseguiria garantir uma coligação capaz de formar o governo com os 110 deputados social democratas somados a coligação entre o CDU e o FDP. O Colocando com 361 deputados, trinta acima do necessário.
O elefante na sala responde pelo nome Afd, o partido de extrema direita liderado por Alice Weidel não tem chance de chegar ao poder, mas conseguiu capturar cerca de 20% dos votos e se fortalecer muito em especial na região do país que no passado pertencia a parte soviética do território alemão. Weidel possui o mesmo discurso que os seus pares nos EUA, Hungria, Polônia, França, Portugal e Espanha além de outros países que a extrema direita no momento goza de muita popularidade. Suas armas são o revisionismo histórico para que as barbaridades cometidas pela extrema direita no passado não assustem tanto, um discurso carregado de ressentimento que apela aos “derrotados pela globalização” e ecoando parte do discurso tradicional dos conservadores se opondo ao baixo controle migratório exercido pela Alemanha e pela Europa como um todo.
Como todos os partidos já descartaram qualquer tipo de aliança política com o AfD, a possibilidade de formar o governo passa quase que exclusivamente por uma aliança dos Conservadores com os Sociais Democratas. A extrema direita alemã tem uma estratégia simples, manter o país instável até chegar um momento que a população cansada de coalizões frágeis votem neles apenas para encerrar o ciclo. Será difícil harmonizar os interesses dos Conservadores com os do Sociais Democratas, então mesmo com a vitória provável de Merz é possível que seu governo seja tão curto quanto o de Scholz foi.
