Passadas ás Mid Terms nos Estados Unidos é hora dos partidos e analistas virarem suas atenções para o pleito presidencial de 2024 que irá eleger o 47° presidente dos Estados Unidos da América. Ás primárias do partido republicano ocorrem no primeiro semestre de 2024 mas já é possível identificar quais serão os potenciais rivais de Joe Biden.
Três nomes se destacam nesse cenário, o atual governador da Flórida Ron De Santis, o ex presidente Donald Trump e a ex governadora da Carolina do Sul e embaixadora do país nas Nações Unidas Nikki Haley.
O nome mais lembrado é o de Donald Trump. Tanto nas derrotas quanto nas vitórias tudo que ocorre na política americana hoje está ligado ao polêmico empresário que surpreendeu muitos ao bater Hillary Clinton em 2016 e que só não foi reeleito devido ao surgimento do COVID-19. Egocêntrico como poucos e acostumado, devido á sua posição financeira, a não ser derrotado nunca, Trump trata seu possível retorno á Casa Branca como um tipo de reparação histórica. Trump têm a seu favor uma militância apaixonada que o idolatra mas o show de horrores produzido no Capitólio na transição de poder para Biden o queimou com muitos republicanos de centro direita e independentes que no caso de uma reedição do confronto com Biden iriam preferir tampar o nariz e votar no democrata.
A rejeição direcionada a Trump ficou evidente em dois eventos mais recentes, na votação de meio de mandato que ocorreu em Novembro passado, basicamente todos os candidatos que possuiam o Endorsement explícito de Donald Trump foram derrotados por seus desafiantes democratas e em alguns casos por republicanos moderados. Além disso na eleição para a presidência da câmara que ocorreu em Janeiro os Republicanos se mostraram extremamente divididos e Kevin McCarthy ( R-Califórnia) precisou de quatro dias e mais de 15 seções de votação para atingir os 218 votos necessários para ser eleito. McCarthy foi acusado por republicanos radicais de não ser conservador o suficiente para frustrar os planos de Joe Biden na Câmara dos representantes, mesmo tendo o apoio de Trump para se tornar presidente da casa.
Esse evento mostrou que mesmo na oposição ainda existem fraturas graves a serem reparadas no partido republicano e também mostrou que Trump perdeu um pouco do controle sobre os seus seguidores que acabaram indo contra uma orientação direta, algo que não se via alguns poucos anos atrás. Uma das razões que levou a derrota de Trump em 2020 foi o fato de que o partido republicano não estava unificado, o estilo bufão de Trump e suas ofensas direcionadas a importantes dinastias políticas republicanas como os McCain e os Bush levou a insatisfação por parte de alas de centro direita e neoconservadoras do partido e acabou levando votos republicanos para o candidato democrata Joe Biden.
Pensando em como Trump se tornou um prenúncio de derrotas eleitorais após o fim de seu período como presidente, a direção do partido republicano pensa em dois nomes com projeção e capacidade de bater o ex presidente em confronto direto. Não existe nenhuma dúvida que Trump é mal visto pelos dirigentes republicanos pelos motivos acima citados, e ele começou a ser mal visto até por personalidades importantes que outrora se colocavam ao lado de Trump como o magnata dos podcasts Joe Rogan e o autor Ben Shapiro que já começam a ensaiar apoio para algum republicano que tenha chances reais de bater Biden nas eleições.
O Melhor
Nikki Haley é uma política experiente e habilidosa, mas que talvez não tenha a capacidade de mobilização para bater Trump e De Santis nas primárias, Haley têm a seu favor um background quase imune á críticas, sua atuação empresarial fez uma empresa de moda se tornar multimilionária, o marido é herói de guerra e ela é filha de imigrantes que viveram efetivamente o sonho americano que tanto precisa ser resgatado, seu período como deputada e governadora trouxe um elevadíssimo grau de avaliação positiva do seu estado. Suas visões de Política Interna vão na linha que agrada os republicanos mais radicais, enquanto suas visões de política externa agradam os neoconservadores adeptos da diplomacia dos falcões, ou seja, um retorno a gloriosa época de Reagan e Bush em que republicanos tinham coragem e jogavam pesado na arena internacional para manter a Paz no mundo ao invés de virarem cachorrinhos de estimação de gente como Vladimir Putin e Xi Jing Ping e adotarem políticas isolacionistas que permitiram aos inimigos da civilização ocidental se fortalecerem e diminuírem o GAP de poder entre os EUA e os demais. Haley também é abertamente anticomunista e antichina, além disso também foi a autora do famoso discurso-resposta a Obama na ocasião do State of The Union de 2016.
Haley faz parte de uma nova geração de políticos republicanos que defendem a modernização institucional do partido e que busca lideranças mais jovens capazes de furar a bolha e conversar com ás novas gerações. Talvez Haley seja o melhor nome, mas paradoxalmente é quem têm menos chances de conseguir a nomeação.
O Possível
Considerando que Trump só não será candidato se o FBI o prender, o mais difícil para os postulantes que desejam a nomeação republicana é bater Trump nas primárias, onde a enorme militância do Make América Great Again é capaz de dar para o empresário a nomeação, muito embora seja uma derrota quase anunciada contra Biden. Nesse cenário o nome mais capacitado para derrubar Trump é o atual governador da Flórida Ron De Santis.
Ron de Santis saiu das Mid Terms como favorito na corrida pela Casa Branca. Sua performance eleitoral assustou a ala trumpista com o governador conseguindo vencer em condados historicamente democratas e cosmopolitas como a própria capital da Flórida, Miami. De Santis têm também a seu favor o fato de não ser mal visto pela cúpula do partido. Ainda que existam acusações de que ele representaria uma espécie de “ Trumpismo sem Trump “ por parte de autores e políticos de centro direita e paralelamente acusações de “ amigo do establishment ” por parte dos Trumpistas.
A maior diferença entre os dois é que De Santis é alguém da política, não caiu de paraquedas onde ele hoje se encontra, logo teria mais tato e habilidade para lidar com tudo que envolve a presidência americana e com os desejos e ambições do próprio partido Republicano. O que torna De Santis a opção que não agrada nenhum dos dois polos mas que pode ser votada pelos dois em uma operação de contenção de danos. Neoconservadores se sentiriam mais confortáveis votando em De Santis do que em Trump eliminando o voto republicano em Biden como ocorreu em 2020, ao mesmo tempo Trumpistas iriam preferir votar em De Santis do que em Nikki Haley pois De Santis consegue soar mais ideológico e quando necessário pode ser radical embora o prefira não fazer. Outra vantagem que De Santis carrega sobre Haley é também possuir uma militância organizada, não tão numerosa quanto a de Trump mas é possível de se expandir rapidamente ainda mais com os bons resultados de seu mandato como governador.
A Tragédia Anunciada
Quanto a Joe Biden, caso não ocorra uma milagrosa recuperação econômica ou uma vitória absoluta no conflito entre Rússia e Ucrânia suas chances de ocupar por mais 4 anos o número 1600 da Avenida Pensilvânia respondem apenas por um nome: Donald Trump.
Os péssimos resultados, e a habitual confusão interna em seu partido ( Moderados Sociais Democatas x Socialistas ) deixou bem claro que haveria amizade apenas para derrotar Trump, não para permitir Biden governar, e foi dessa maneira que a política americana andou nos dois primeiros anos de mandato, ainda que seu partido possuia maioria tanto na câmara quanto no senado. Agora sem a maioria na câmara seu trabalho ficará ainda mais difícil.
Porém uma coisa que poucos analistas entendem é que Biden vêm desafiando os prognósticos desde 2019. Poucos analistas apostavam em sua nomeação para rivalizar diretamente com Trump em 2020, a maioria dizia que a escolha democrata ficaria entre Bernie Sanders e Michael Bloomberg ( Fico feliz de ter cravado que Biden seria o nomeado com meses de antecedência ao fato ). Depois diziam que Biden jamais venceria um presidente tão popular quanto Trump. Mais uma vez Biden venceu, na eleição para o segundo turno da Georgia em 2020 diziam que os candidatos dele perderiam para os trumpistas, mais uma vez seus candidatos venceram, nas Mid Terrms do ano passado apostavam em uma grande onda republicana que iria varrer ambas ás maiorias democratas, os democratas mantiveram o senado e perderam a câmara por menos do que as projeções indicavam. Ou seja o nome de Biden têm dado vitórias ou diminuido derrotas para os democratas nos últimos anos, ao passo que Trump tem o efeito contrário no partido republicano. Outro confronto direto significaria outra vitória para Biden.
Os dirigentes republicanos já perceberam, até por isso, estão buscando alternativas em De Santis e Haley, porém o partido não possui uma regra qualitativa como os superdelegados são para os democratas, o que significa dizer que Trump pode bater seus companheiros de partido mesmo sem ter condições reais de vitória contra Biden. Essa é a tragédia anunciada que pode se abater sobre o partido republicano.