Joe Biden e Donald Trump se enfrentaram novamente pela segunda vez após um primeiro debate caótica em setembro. O encontro ocorreu em Nashville, Tennessee, na última quinta-feira, dia 22 de outubro. O segundo debate, diferente do primeiro, foi minimamente civilizado, com poucas interrupções e uma mediação consensualmente melhor, destaque para a mediadora Kristen Welker.
O primeiro assunto da noite foi a pandemia da COVID-19, tema desconfortável para o atual presidente, os Estados Unidos já ultrapassam duzentas mil mortes e mais de oito milhões de casos. Trump defendeu a sua gestão da pandemia, buscou responsabilizar a China e afirmou que uma vacina estaria chegando em semanas. Biden atacou a gestão de Trump na pandemia, lembrou o número de mortes para argumentar que o Presidente Trump não mereceria ser reeleito.
Biden responsabilizar Trump pelo alto número de mortes por COVID-19 nos Estados Unidos pode ser uma estratégia bastante eficaz. Em uma eleição onde presidentes são eleitos e reeleitos por quinhentos votos (vide Bush vs. Gore em 2000), o impacto eleitoral de uma pandemia que impacta, centenas de milhares de pessoas não é um bom sinal para o governante em exercício. O que saberemos no dia da eleição é se o povo americano responsabilizará mais a China pela pandemia, como quer Trump, ou responsabilizará mais a gestão de Trump, como quer Biden. Segundo uma pesquisa feita em parceria pelo Instituto Ipsos e a agência Reuters, a gestão de Trump na pandemia é aprovada por apenas 37% e desaprovada por 59% dos entrevistados. Não é uma boa notícia para Trump.
Ao tratarem de segurança nacional, Biden comentou uma acusação de que Irã e Rússia estariam tentando interferir na eleição americana, acusações feitas pelo Diretor de Inteligência Nacional dos EUA, John Ratcliffe. Biden afirmou que qualquer país que tentar interferir na eleição americana pagará um “alto preço” e criticou Trump por não dizer nada a Putin, chamou também o advogado de Trump, Rudolph Giuliani, de “peão russo”. No momento seguinte, Trump comentou uma acusação que afirma que o filho de Biden, Hunter, recebeu de forma bastante obscura, 3,5 milhões de dólares de Elena Baturina, esposa do ex-prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, que deixou o cargo em 2010 por suposto envolvimento com corrupção. Trump chamou à atenção para os negócios suspeitos de Hunter na Ucrânia durante o mandato de Joe Biden como vice-presidente, Joe Biden teria feito com que um promotor ucraniano fosse destituído do cargo para evitar que a companhia de gás ucraniana Burisma fosse processada por corrupção, pois seu filho Hunter Biden fazia parte do conselho de diretores do grupo. Trump lembrou do artigo do site de noticias New York Post que teria tido acesso ao disco rígido de um computador abandonado por Hunter em um conserto em Delaware, os e-mails teriam chegado ao jornal por meio do advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani. A reportagem contem detalhes das negociações comerciais de Hunter na Ucrânia, assim como, da participação de Joe Biden em reunião com consultor da Burisma. Biden negou que tenha recebido dinheiro de fonte estrangeira e afirmou que Trump pagou mais impostos na China que nos Estados Unidos e acusou Trump de possuir uma conta bancária secreta na China. Trump rebateu afirmando que entre 2013 e 2015, possuiu uma conta na China, pois cogitou fazer negócios na China, mas desistiu, e que isso não seria ilegal.
Nas trocas de acusações, Trump se saiu melhor, Biden não conseguiu rebater as acusações gravíssimas envolvendo sua família, já Trump entregou uma resposta coerente a acusação de Biden envolvendo uma conta bancária de Trump na China. Ainda assim, as acusações de ambos os lados não devem ter impacto eleitoral.
Ao discutir o tema racismo, Trump lembrou da Lei de Crimes de 1994 endossada por Biden, lei que teria sido prejudicial aos afro-americanos. Biden acusou Trump de ser o presidente mais racista da história americana, e, criticou Trump por declarações ofensivas contra militantes de extrema-esquerda do movimento Black Lives Matters. Diferente do primeiro debate, quando Trump evitou condenar veementemente grupos supremacistas-brancos, o atual Presidente se saiu melhor, buscou exaltar seus feitos pela comunidade negra e lembrou do histórico negativo de Biden no que tange o tema, Trump acabou obrigando um pedido de desculpas público de Biden pelo endosso a lei de 1994.
Ao falar sobre a situação econômica americana, Biden defendeu o aumento do salário mínimo, Trump ponderou o risco de que o aumento em um cenário onde as empresas americanas estão vivendo graves problemas financeiros, levaria a demissões, citou as complexidades econômicas de cada Estado no que tange a questão salarial, e defendeu que quando se trata de salário mínimo, a discussão deve partir de Estado para Estado, Biden rebateu, afirmou que busca, com o aumento do salário mínimo, combater a pobreza, aumentando-o para 15 dólares, e que não haveria evidencias de que empresas fechem com o aumento. Em um cenário de vulnerabilidade econômica devido a pandemia da COVID-19, o discurso de Biden em defesa do aumento do salário mínimo, tende a ter apelo popular, para a surpresa daqueles que afirmam um populismo de Trump.
No tema imigração, Trump foi confrontado com a notícia de que 545 crianças foram separadas de seus pais na fronteira e ainda não foram reunidas, pois seus pais ainda não foram encontrados. Afirmou que as crianças foram trazidas por carteis que as usavam para entrar no país e que estaria trabalhando para resolver a situação, Trump comentou a acusação impenetrada a ele de que estava criando jaulas e gaiolas que detinham filhos de imigrantes ilegais, o atual Presidente lembrou que essa política tem início em 2014 no governo Obama. Biden foi lembrado pela mediadora do recorde de deportações e da promessa não-cumprida de reforma imigratória durante o governo Obama em que Biden era vice, e, curiosamente, Biden criticou a demora do governo Obama em lidar com a questão imigratória. Biden prometeu dar cidadania a 11 milhões de indocumentados.
No ponto de maior ganho para Trump no debate, ao comentar a questão do fracking (método usado para extrair gás do solo), Trump questionou o ex-vice-presidente se ele acabaria com a indústria do fracking que gera dezenas de milhares de empregos, especialmente em swing-states como a Pensilvânia, Biden afirmou que: “A indústria do petróleo polui significativamente. Ela deve ser substituída por energia renovável com o tempo.”, um prêmio de Biden para Trump. A terrível resposta de Biden pode refletir positivamente ao atual mandatário da Casa Branca em um dos mais importantes swing-states da eleição. A Pensilvânia possui 20 delegados no Colégio Eleitoral, dependendo de combinações, poderá ser o estado decisivo em 3 de novembro.
CONCLUSÃO
Trump fez tudo que deveria ter feito no primeiro “debate”, reduziu as interrupções e conseguiu muitos pontos, buscando enfatizar em diversos momentos que Biden como vice de Obama, não resolveu nenhum dos problemas que jura resolver e colocou o ex-vice-presidente contra a parede na questão do fracking. Biden se saiu pior que no primeiro debate, mas conseguiu vitórias quando o assunto é a pandemia da COVID-19, tema delicado para Trump que Biden conseguiu usar a seu favor no debate.