Enquanto os olhos do mundo se voltavam para o desempenho dos partidos da direita populista nas eleições para o parlamento europeu e nas eleições legislativas francesas houve uma troca eleitoral na Inglaterra que poucos prestaram atenção ou notaram fora os analistas. As eleições britânicas trouxeram uma qualidade que está em falta na política da europa central, na brasileira e na americana. O mais completo e absoluto tédio.
O partido trabalhista britânico (centro-esquerda) conseguiu pela primeira vez em quase 15 anos derrotar o partido conservador (direita). Os trabalhistas tiveram um desempenho extremamente positivo, conseguiram 410 dos 650 assentos no parlamento, os conservadores obtiveram apenas 131 cadeiras. Sir Keir Steimer terá maioria absoluta para governar, o resultado foi natural, 15 anos é muito tempo, e a democracia pede alternância de poder. As preferências da sociedade são dinâmicas e não estáticas. O que impressiona é que não houve sensacionalismo, fake-news, quebra-quebra e nenhuma tentativa de assassinato de nenhum candidato.
Aliás alguém deveria avisar os progressistas e radicais que quebrar tudo em comemoração da derrota dos populistas na França só reforça o discurso dos partidários de Marine Le Pen de que a França foi perdida para ignorantes, da mesma maneira alguém deveria avisar os progressistas que tentar matar Trump apenas garantiu a eleição do republicano, agora nem mesmo forçar Biden a desistir e invocar o carisma de Michelle Obama salvará os democratas de uma derrota acachapante em Novembro. Aqui no Brasil, Lula continua se prestando ao papel de garoto de recados dos terroristas do Hamas e desfilando anti-semitismo para todos verem, e não podemos esquecer que um militante do PSOL tentou assassinar Bolsonaro em 2018.
Uma das (várias) coisas que os americanos são superiores aos brasileiros, é no patriotismo, claro que os radicalizados progressistas do BLM e dos Antifas estão lamentando que o atirador mirou na orelha e não na cabeça de Trump. Mas até mesmo o democrata médio se solidarizou com o ex-presidente, outra nota para o Brasil quem sabe um dia conseguir deixar de ser o país do futuro que nunca chega. Em um país sério quem tenta matar um candidato a presidência morre na hora, não goza de um sem fim de proteções judiciais e nem tem partidos políticos tentando impedir que ás investigações avancem. Um ex-presidente sendo alvejado enquanto faz campanha é um ataque direto a democracia americana e aos valores fundamentais da nação.
Que fique claro, estou longe de ter simpatia por Donald Trump e o que ele representa, seu movimento populista “Make America Great Again” corroeu e destruiu internamente o partido republicano, outrora o maior partido de direita do mundo que eu cresci admirando e que influenciou diretamente a minha formação política e intelectual. O partido republicano de Richard Nixon, Ronald Reagan e George W.Bush não existe mais, o partido que era movido pelas idéias de Leo Strauss, Samuel Huntington e Irving Kristol hoje o máximo que consegue ter é um louco conspiracionista como Steve Bannon que pertence ao manicômio.
O partido que antes estava comprometido a fazer de tudo para manter o ocidente a salvo dos inimigos da liberdade hoje é simpático ao proto-fascismo da Rússia de Vladimir Putin. O partido que outrora era o campeão do Neo-liberalismo e que venceu a Guerra Fria hoje têm em suas fileiras políticos com idéias econômicas protecionistas e nacionalistas que não seriam aceitas nem mesmo no partido democrata nos anos 60. O partido que acabou com a escravidão na figura de Abraham Lincoln, hoje protege organizações que defendem a supremacia racial como os Proud Boys.
Dito tudo isso, como adulto na sala, não acredito que os problemas se resolvam com violência política armada. Por mais que eu abomine o projeto político de Trump ele têm o direito e o dever constitucional de apresentar esse projeto para a população sem medo de represálias ou de atentados. Acredito de maneira incondicional que divergências ideológicas não são e nunca serão motivos que justifiquem um clima de quase guerra civil como os Estados Unidos perigosamente estavam se aproximando.
Felizmente pelo que notei nas coberturas midiáticas parece que o atentado despertou um sentimento de união que havia sido perdido entre os americanos desde o fim da década de 2000. Biden e Trump ressaltaram que todos são americanos e pediram união em seus pronunciamentos. Uma fala equivocada de um dos lados poderia empurrar a nação para um conflito civil. Ambos mostraram estar a altura do que o momento pedia.
Se tem uma coisa que os eventos do dia 13 de Julho mostraram, é que mais uma vez o excesso de participação em uma democracia é pior do que a falta dela. Quem melhor abordou esse tópico e construiu uma teoria própria a respeito chamada de Elitismo Democrático foi o pensador austríaco Joseph Schumpeter.
Schumpeter é amplamente reconhecido nos campos da economia e filosofia, mas a sua contribuição para as ciências sociais que pode resolver os dilemas do século XXI está no campo das teorias do poder. O austríaco é considerado um dos primeiros teóricos a conseguir compatibilizar em sua obra Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942) os conceitos de elites e de democracia, para o autor seria necessário impedir que a democracia se tornasse tão democrática para conseguir a preservação do sistema, Schumpeter não está inventando a roda aqui, apenas retomando a obra dos filósofos gregos, em especial Aristóteles que já alertavam sobre os perigos da Democracia se desvirtuar para a demagogia através do populismo. Como alguém que testemunhou o horror cometido pelo Nazi-Fascismo é natural que Schumpeter fosse cético quanto a população ter um peso maior, por isso seria necessário criar salvaguardas para os excessos do sistema, uma das maneiras seria com o papel preponderante das elites bem educadas e não ignorantes uma vez que a natureza humana embora seja racional, em assuntos políticos com frequência é tomada pelas emoções, se a sociedade em questão se tratar de uma sociedade de massa a situação se torna ainda pior. Não é razoável esperar de um indíviduo comum a capacidade de deliberar sobre as Agendas da política nacional ou da política internacional quando até mesmo em seu universo imediato esse indíviduo toma as piores decisões.
Para Schumpeter a democracia seria mais eficiente e efetiva se os líderes políticos não tivessem que lidar com meros palpites advindos das massas. Difícil dizer que ele está errado, os eventos do dia 13 de Julho são fruto de uma sociedade hiper-politizada, que colocou ás preocupações políticas como algo fundamental para a sua existência, algo tão relevante que adquiriu caráter dogmático em que se está disposto a matar e morrer.
A Política pelo bem da democracia não deve ser assim, deve ser um tópico em que apenas políticos, acadêmicos e lobistas se preocupam. Parem de se odiar por opção partidária ou ideológica e voltem a se odiar pelo gosto musical. O que a política mais precisa nesse momento é do tédio que aconteceu na Inglaterra.
Referências Bibliográficas
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. 1961.