Graças ao Infante Dom Henrique, governador de Algarves e grão-mestre da Ordem de Cristo, e o apoio do Papa Martinho V, as frotas marítimas portuguesas catapultaram as grandes navegações. No entanto, infelizmente, Dom Henrique não viveu para ver muitos de seus frutos. O rei de Portugal era Dom Manuel, que deu a cruz da Ordem de Cristo ao marinheiro Pedro Álvares Cabral para zarpar com sua esquadra. Não apenas como forma de chegar às Índias pelas vias marítimas por riquezas, como a narrativa histórica vigente de caráter iluminista-marxista diz, mas para expandir a palavra de Cristo. Fazia poucos séculos antes do descobrimento que aquele povo havia lutado bravamente a partir da pequena região das Astúrias contra o domínio do Califado Omiada na Ibéria, uma batalha que levava a Cruz de Cristo sobre as espadas, heróis que resistiram bravamente contra a escravidão e a tirania islâmica contra os cristãos ibéricos.
É um povo que lutou por Cristo e que colocou a Cruz da Ordem em suas ações. Não era uma elite que pensava com a lógica burguesa mercantilista e capitalista: acumular riquezas e enriquecer a Coroa. Havia em Portugal, ainda, traços da elite nobre dos reinos medievais, regidas pelos códigos de cavalaria. Os Templários, após o fechamento da ordem pelo Papa Clemente V, formaram a Ordem de Cristo e se estabeleceram em Portugal. Eram homens devotos, guerreiros de Cristo e que constituíam uma Santa Nobreza.
Aqueles homens não navegaram por águas desconhecidas apenas em busca de pedras preciosas e fontes de riqueza. Havia ali um propósito maior.
Após o descobrimento, tivemos uma missa como primeiro evento público. Diz assim a carta de Pero Vaz de Caminha: “Ao domingo de Páscoa pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar muito bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.”
O Brasil nascia ali.
Nas décadas seguintes, chegaram os jesuítas, que contavam com a simpatia do rei João III de Portugal, e ocuparam Portugal europeia com Francisco Xavier, missionário que já havia sido apóstolo da Índia e Simão Rodrigues de Azevedo, grande conhecedor da língua portuguesa. No Brasil, chegaram em 29 de Março de 1549. Aportaram na Bahia o Padre Manuel da Nóbrega, chefe da missão, e os sacerdotes Leonardo Nunes, João de Azpilicueta Navarro e Antônio Pires. Sob o lema “ad majorem Dei gloriam”, os jesuítas educaram os povos que viviam aqui, os catequizaram, colocando-os sob a Cruz de Cristo. Santas foram as missões de Manoel da Nóbrega e São José de Anchieta (que chegaria posteriormente) por aqui, pois eram os alicerces da Cristandade no Brasil. Fizeram, dada as devidas proporções, o que foi feito pelos mártires após a queda do Império Romano. No Rio Grande do Sul, por exemplo, os jesuítas formaram os Sete Povos das Missões. Foram sete aldeamentos introduzidos pelos jesuítas ao oriente do Rio da Prata, eram localidades prósperas, com um desenvolvimento cultural e artístico belíssimo. Os índios guaranis eram ensinados às artes da música e da escultura, além do estudo da nossa língua mãe, o Latim. Formou-se uma cultura indígena-católica tão sublime, que ali poderia ser visto, naquelas reduções e aldeamentos, artistas do nível de mestres das artes medievais como Giotto Di bondone e Tommasso da Modena. A Redução de São Nicolau, por exemplo, era referência nas artes esculturais, criando com maestria uma arte sacra-barroca-guarani-jesuíta. No campo urbanístico, era um exemplo não só para Portugal, mas para a Europa. Enquanto os colonos britânicos protestantes massacravam os povos originários da América do Norte, no Brasil e na América Espanhola, os povos originários eram evangelizados, catequizados e formaram uma elevadíssima cultura. Os jesuítas construíram ali uma verdadeira civilização cristã na América.
Tudo começou a desmoronar quando os tentáculos da Maçonaria adentraram no Brasil. Dom José I, por influência do maçom Marquês de Pombal, expulsou os jesuítas do país e, com isso, destruiu o santo trabalho de catequização e educação dos povos que aqui viviam. Pombal, com o Reinado de Dom José I, começou a introduzir o absolutismo em Portugal, os princípios maçônicos e ajudou a trazer para Portugal aquilo que era comum na colonização das nações maçônicas e protestantes no norte do continente: o ódio e massacre dos povos indígenas. Quando assinado o Tratado de Madrid em 1750, mesmo ano em que Pombal se tornou Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, as terras entre portugueses e espanhóis foram delimitadas e os povos guaranis dos Sete Povos das Missões deveriam ser expulsos de suas terras e as missões orientais deveriam ser desmanteladas. No entanto, os índios guaranis resistiram bravamente, mas foram massacrados na Batalha de Caiboaté, em que mil e quinhentos índios foram mortos por espanhóis e portugueses. O apoio dos jesuítas aos índios guaranis revoltou a Coroa Portuguesa e foi um dos subterfúgios usados por Pombal para expulsar os jesuítas. Se há um fato que a historiografia mostra é que, no momento em que a Maçonaria tomou as rédeas do poder na América, povos indígenas e negros foram escravizados ou massacrados.
A escravidão não existiria se os jesuítas estivessem aqui, pois a moral e ética cristã, as bulas e encíclicas seriam obedecidas, como as bulas Sublimis Dei e Veritas Ipsa do Papa Paulo III, que condenavam a escravidão indígena e africana. Os povos nativos eram protegidos, catequizados e desenvolviam uma cultura indígena-católica elevada. Não havia destruição cultural dos povos indígenas, ao contrário, a aculturação era parte da visão evangelizadora dos jesuítas, que acreditavam que a correta catequização deveria preservar a cultura dos povos e harmonizar as práticas com a moral cristã, ordenando-a e purificando-a, encerrando práticas como canibalismo e antropofagia, contrárias à lei moral e natural, e preservando aspectos culturais neutros moralmente. Um exemplo da aculturação jesuítica como método catedrático era o teatro, como explica Antônio Teixeira de Barros:
“O teatro foi um dos recursos de maior importância comunicativa de que se serviram os jesuítas, constituindo o estágio mais avançado no processo catequético-educativo. Antes da vinda dos missionários os colonos portugueses representavam autos nas igrejas, prática comum em Portugal, que possuía, na época do renascimento, um numeroso elenco de artistas, tanto autores como atores. Entre os autores destacou-se Gil Vicente. Os jesuítas observaram que nos rituais indígenas, a música e a dança eram extremamente expressivas, ricas em mímicas, um espetáculo da arte de representar. Concluíram, então, que seria uma estratégia pedagógica muito promissora a introdução doteatro como meio de comunicar aos índios a doutrina católica e os valores morais e culturais. Utilizaram o mesmo método já experimentado no ensino da língua e da música (o da “acomodação”), incorporando elementos indígenas retirados da fauna e da etnologia, o que favorecia a aceitação e assegurava o bom desempenho dos atores nativos. Depois dos primeiros ensaios, realizados da forma mais simples possível, do bom desempenho dos atores (na maioria nativos), partiram para um aperfeiçoamento progressivo, não tardando a realização de duas modalidades teatrais que marcaram a prática teatróloga da Companhia de Jesus: os autos para os colégios e os autos para as aldeias. Essa distinção manifesta que os jesuítas não pretendiam apenas proporcionar diversão aos índios, mas sobretudo instrução religiosa. Foi José de Anchieta quem fundou o teatro nacional. Investiu muito tempo em tal tarefa, traduzindo peças ou escrevendo as suas próprias para a catequização dos índios,que atingia não só o objetivo religioso, mas também o moral e o social. Frutos que advinham da acentuada compreensão da relação da arte com a psicologia, da qual o referido sacerdote era portador.”
Luiz Beltrão e Gilberto Freyre: paralelos no estudo da folkcomunicação e
religiosidade na catequese jesuítica no Brasil colonial, Antônio Teixeira de Barros
O Padre Fernão Guerreiro, em 1605, relatou: “se não fossem os padres (jesuítas), nem um índio no Brasil haveria hoje na costa, porque todos já teriam sido consumidos ou fugido e metido no sertão, nem também o próprio Estado do Brasil se poderia conservar”. Com os jesuítas no Brasil, a influência maçônica seria possivelmente inexpressiva, dada a força que a Companhia de Jesus tinha nas instituições e nos povos do Brasil na época, força que a Maçonaria desejava ter, e a partir do final do século XVIII e no decorrer do século XIX, conseguiu. A Igreja, contrária à escravidão, sem a influência jesuíta, nada podia fazer contra o poder das elites maçônicas escravocratas.
Os trabalhos nas missões foram jogados aos trapos e a defasagem da educação no Brasil perdurou por, ao menos, cinco décadas. A catequização indígena jesuíta que tinha como fundamento uma elevada vida cristã, inclusive no aspecto cultural, foi destruída e o vácuo foi preenchido pelo catolicismo popular messiânico, supersticioso e fideísta que predomina no Brasil desde a expulsão dos jesuítas até os dias atuais.
A Revolução Liberal do Porto representou mais um impacto significativo da Maçonaria no mundo lusitano, com consequências para o Brasil. O tumulto da Revolução Francesa chegou a Portugal seguindo um padrão semelhante: aversão à Igreja, racionalismo, liberalismo e hostilidade às instituições orgânicas, municipais e rurais. As cortes que emergiram dessa revolução se assemelhavam às assembleias revolucionárias francesas, desejando transformar o Brasil em uma colônia semelhante a Porto Rico em relação aos Estados Unidos, tirando do Brasil o status de província. Os ideais do Iluminismo e da Maçonaria influenciaram profundamente Portugal.
A expulsão do exército português de Pernambuco antecipava a independência do Brasil. Não era porque o povo não se identificava mais com Portugal, mas por conta das ações das cortes revolucionárias. Reconhecendo a inevitabilidade da separação do Brasil de Portugal, a Maçonaria brasileira impulsionou a criação de um Estado iluminista à moda girondina. A Independência resultou de negociações entre forças maçônicas, com participações cruciais de Dom Pedro I e José Bonifácio, figura central do liberalismo conservador. A intenção era criar um Brasil liberal e anticatólico, porém de maneira menos evidente do que em Portugal e França. No Brasil independente, a Igreja foi relegada a uma instituição estatal sob influência maçônica, mesmo sendo formalmente um Estado Católico.
O Brasil desvinculou-se de Portugal, onde antes era parte integrante do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Agentes maçônicos encabeçaram a revolução que distanciou o Brasil de Portugal, alinhados em parte com ideais da Revolução Francesa, porém de forma mais moderada. Durante o processo de independência, além das intrincadas negociações maçônicas, interesses estrangeiros, como o Tratado Comercial anglo-lusitano de 1810, estavam em jogo. A Inglaterra, potência liberal da Europa e adversária dos povos ibéricos, estava preocupada com a ascensão de Dom Miguel, tradicionalista católico. É significativo que uma das cartas recebidas por Dom Pedro às margens do rio Ipiranga fosse de Henry Chamberlain, cônsul britânico e colega maçom de José Bonifácio.
Figuras liberais maçônicas, como o Padre Diogo Antônio Feijó, foram fundamentais na formação do Brasil independente, almejando a primazia da política e do poder temporal sobre o espiritual e religioso. Pretendiam transformar o clero em funcionários públicos sob ordens imperiais. Esse ideal materializou-se parcialmente através do regime de padroado, que almejava tornar a Igreja do Brasil semelhante a uma entidade pública, assim como a Constituição Civil do Clero defendida pelos revolucionários franceses. No contexto brasileiro, essa influência do liberalismo enfraqueceu instituições que mediam a relação entre indivíduos e Estado, culminando em um Estado centralizado. Enquanto na França a Revolução dissolveu corporações e regionalismos que sustentavam o Antigo Regime, no Brasil, o regime de padroado se tornou uma forma de controle estatal sobre a Igreja. A Bula de 1827, que validaria esse regime, foi rejeitada pelo Império, que não concordou com as condições da Santa Sé. Contudo, o padroado permaneceu vigente no Brasil, mesmo sem a bênção eclesiástica
Os “pais fundadores” do Brasil eram entusiastas dos princípios liberais-maçônicos, como Joaquim Gonçalves Ledo e José Bonifácio, ambos maçons e próximos do Príncipe Dom Pedro. O Império do Brasil não tinha muito de católico, exceto por se declarar um Estado Confessional Católico. As ordens religiosas foram perseguidas, e a Maçonaria infiltrada no clero, como exemplificado pelo Padre maçom José Antônio Caldas, que desejava abolir a admissão de candidatos à vida sacerdotal em 1823. A campanha contra a Igreja pela Maçonaria se radicalizou com a chegada de Dom Vital, bispo de Olinda, e Dom Macedo Costa, Arcebispo de São Salvador, que eram independentes do clero maçônico. Jornais de Recife difamaram o bispo e os Dogmas da Igreja, bem como as encíclicas do Papa Pio IX.
Como diz o Professor Octávio Monteiro:
“Antes da chegada de Dom Vital a Recife, os jornais maçônicos já suscitavam a desconfiança contra o novo Bispo, classificando-o como “homem perigoso”, ultramontano e frade “impregnado” do “espírito inquisitorial”.
Ocorreram inúmeras outras provocações e insultos, durante cinco meses, durante os quais Dom Vital manteve-se em silêncio. O Bispo de Olinda sabia que o mínimo protesto daria início a uma grande luta. Entretanto, um pastor publicou, num jornal maçônico do Recifechamado A Verdade, um artigo atacando o dogma da virgindade perpétua de Nossa Senhora. Diante da blasfêmia contra a Santíssima Virgem Maria, Dom Vital, não pôde mais calar-se.
Então, na festa da Apresentação de Nossa Senhora, em 21 de novembro de 1872, Dom Vital publicou um forte protesto:
“…. Chegaram ao ponto, diletíssimos Irmãos, de negar à nossa Mãe Santíssima. uma das prerrogativas que é o mais precioso brilhante de sua coroa de glória; negaram a sua virgindade perpétua!(…) Em face desse derramamento de doutrinas pestilentas, não podemos conservar-nos quedos e mudos. Semelhante procedimento tornar-nos-ia réu de traição à missão augusta e divina de que fomos encarregados. ” (Olívola, Frei Felix de. Um Grande Brasileiro, página 67,1967)
O jornal A Verdade ficou satisfeitíssimo por ter obrigado Dom Vital a sair do silêncio e, para desafiá-lo, publicou uma lista, primeiramente, de todos os padres e cônegos filiados à Maçonaria e, posteriormente, uma segunda lista com os nomes dos presidentes, secretários e tesoureiros de Irmandades Religiosas que pertenciam às Lojas.
Dom Vital chamou um a um, tanto os clérigos como os leigos das Irmandades. Com caridade, explicou-lhes os erros da seita, as penas lançadas pelo Papa, pedindo-lhes que abandonassem a Maçonaria e prometendo-lhes o perdão. Muitos padres se arrependeram e duas Irmandades, como a maioria de seus membros era católica, obedeceram. Porém as outras Irmandades, em que a maioria dos integrantes fazia parte da Maçonaria, responderam com insultos e zombarias.
Em consequência, Dom Vital interditou as capelas de suas Irmandades. Uma delas, embora não imediatamente, interpôs um recurso à coroa contra o Bispo, conforme o código legislativo brasileiro da época.
Dom Vital, depois de receber pedidos para que retrocedesse de sua decisão sobre a questão religiosa, escreve um primeiro documento de resistência, uma carta:
“Exmo. Sr. Conselheiro,
Sinto em extremo ir perturbar a V. Ex.ª no meio a grave questão que, atualmente, se agita no meio deste meu querido rebanho. Estou em luta com a Maçonaria. Creia, porém V. Ex.ª que da minha parte houve menos imprudência que rigoroso dever de consciência.
A Maçonaria, talvez por acinte, publica jornais com os nomes de seus iniciados, declarando-os ao mesmo tempo membros das Irmandades religiosas: há respeitáveis maçons, diz ela, que nas lojas empunham o malhete de Venerável e nas Irmandades a vara de Juiz. Para que tamanha ostentação, senão para desmoralizar a Igreja e seus delegados que a condenam?
Sabe V. Ex.ª que na qualidade de Bispo da Igreja Católica não posso de modo algum permitir semelhante mistura nas corporações e Irmandades religiosas; porquanto o elemento maçônico é condenado por aquela Igreja da qual sou o representante, posto que imeritamente, máxime quando a maçonaria faz disto tanto alarde e tira argumentos contra o Prelado Diocesano.
Em virtude das Bulas de seis Pontífices Romanos, a Maçonaria está fulminada com pena de excomunhão maior em que incorrem ipso facto todos os seus filiados; e como tais não podem estes fazer parte de qualquer irmandade ou confraria.
Em consequência, instante e caridosamente, tenho exortado os membros das Irmandades que, por infelicidade, são maçons a que abjurem ou então se retirem. Os membros recusam, as Irmandades não querem eliminá-los de seu grêmio como deveriam e eu vou lançando interdito sobre as Irmandades.
Os maçons vão apelar para os altos poderes do Estado, porque as Bulas não receberam Beneplácito régio. Porém V. Exª bem sabe que o Beneplácito não é admitido e até é muito condenado pela Igreja. Tanto mais que na questão vertente o Sumo Pontífice declara formalmente dita excomunhão atingir a Maçonaria em todo e qualquer País, ainda mesmo naqueles em que está tolerada pelos Imperantes (Pio IX em sua declaração de 1865).
De modo algum me convém ceder nesta questão, porque seria transigir com a minha consciência, seria trair os direitos da minha missão, seria finalmente desmoralizar-me completamente. Estou, por conseguinte, disposto a todos os sacrifícios, contanto que fique salvo o direito da Igreja.
Tenho inteira certeza de que V.Exª como verdadeiro católico e como ministro de uma nação, cuja religião é a católica apostólica romana, apoiará o procedimento de um Bispo católico principalmente em questão de tão subido alcance para a religião e também para o Estado, creia-me V.Exª.
Repito a V.Ex.ª e asseguro-lhe que fui arrastado pelo dever ao qual eu não poderia faltar sem graves remorsos de consciência, e sem grande descrédito do meu caráter episcopal.
Fico orando para que o Altíssimo outorgue a V.Exª luz e força, e declaro-me, como sempre.
De V.Ex.ª
amigo fiel e criado mui grato
Frei Vital, Bispo de Olinda
Recife, 10 de janeiro de 1873 ”.”.
“Dom Vital, a questão religiosa no Brasil e a maçonaria“
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/dom_vital1/
Online, 07/09/2022 às 21:48:32h
O Papa Pio IX orientou Dom Vital a permanecer em sua luta e ratificou sua atuação. Por ter sido fiel à Santa Sé e ao Papa, Dom Vital foi condenado por ferir a Constituição do Império e por desobediência civil, sendo obrigado a se sujeitar a trabalhos forçados. Foi liberto graças a um apelo do Papa. No entanto, a questão religiosa, como ficou conhecida, mostrou o domínio da Maçonaria nas instituições do Império e o ódio desta em relação à Igreja, ao Papa e à Doutrina.
A Monarquia brasileira, diferentemente das antigas monarquias feudais descentralizadas, é filha de seu tempo, forjada pelo Iluminismo, centralizada, sem a mediação das esferas de poder autônomas e orgânicas, dominada pela Maçonaria e pouco simpática à Igreja.
Mesmo sendo uma construção maçônica, ainda assim há elementos de superioridade na Monarquia Brasileira quando comparada à República carcomida que surgiu de um golpe. Tivemos estabilidade política, embora cheia de conflitos regionais promovidos pela Maçonaria (Revolução Farroupilha, Federado de Guanais…), dois partidos majoritários e estáveis e uma representação simbólica da nação que dava algum grau de legitimidade popular àquelas instituições, com Dom Pedro I e Dom Pedro II. Princesa Isabel era, diferentemente dos dois Pedros, uma mulher extremamente devota, ultramontana, como era chamada por seus adversários, casada com um homem que simbolizava uma perdida aristocracia medieval, um nobre francês, no melhor sentido do termo. Provavelmente teríamos um rumo distinto se Princesa Isabel assumisse o trono, mas novamente, a Maçonaria (sempre ela), unida à elite escravocrata e a partes do exército, derrubou a Monarquia. Possivelmente, não seria agradável para a Maçonaria uma “ultramontana” como Imperatriz.
Concluindo,
Os tentáculos da Maçonaria liberal-naturalista-secularista buscaram destruir aquilo que construiu esta terra: o Brasil de Pedro Álvares Cabral, fundado pela Cruz de Cristo, chamada pelos portugueses de Terra de Santa Cruz, educado e canonizado pela Companhia de Jesus, que formou ali uma riqueza cultural imensa, uniu o povo luso-ibérico — um povo guerreiro, católico, que séculos antes derrotou a opressão do Califado Omíada — com a cultura indígena em seu aspecto mais lúdico e formou uma nova e belíssima civilização católica.
Neste dia da independência, lembremos do Brasil que é português, do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, dos jesuítas São José de Anchieta e Manuel de Nóbrega, do Brasil das aldeias jesuíticas. Não caiamos em narrativas históricas fundamentadas em ideologias mentirosas, como a crença marxista de que a descoberta do Brasil foi um roubo de riquezas e massacres, ou a ideia tradicionalista de que houve uma Monarquia Católica Tradicional rompida pela República liberal, pois ambas ignoram o caráter também maçônico e liberal do Império. É importante estudarmos a real história do Brasil e entendermos o que somos enquanto ethos. Afinal, somos uma extensão de Portugal.
Fontes:
“Dom Vital, a questão religiosa no Brasil e a maçonaria“
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/dom_vital1/
Online, 07/09/2022 às 21:48:32h
“História da Igreja no Brasil”, Flávio L. Alencar, Edição Intersaberes, 2018.
“1822 – A Separação do Brasil”, Marcelo Andrade, Editora Flos Carmeli, 2022.
BARROS, A. Luiz Beltrão e Gilberto Freyre: paralelos no estudo da folkcomunicação e religiosidade na catequese jesuítica no Brasil colonial. Revista Internacional de Folkcomunicação, [S. l.], v. 1, n. 2, 2008. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/folkcom/article/view/18563. Acesso em: 7 set. 2022.