T.S Eliot, poeta e dramaturgo americano, descreveu em After Strange Gods: A Primer of Modern Heresy, a consequência da desilusão com a imaginação idílica de Rousseau – que Irving Babbitt vai definir como o principio no qual o homem deva se libertar de toda e qualquer amarra moral e tradicional de uma civilização em prol de sua emancipação político-social e cultural. A chamada por Eliot de Imaginação Diabólica é a referida consequência, que nada mais é que a fascinação do homem pelo perverso e pecaminoso. Marquês de Sade, um pervertido sexual sem nenhum pudor, era o precursor deste pensamento libertino iniciado no finado século XVIII. Na obra de Sade, a depravação se torna elemento de desejo coletivo, o profano é tido como ação racional do homem e temos a ode ao assassinato pelo bem particular (como no romance de Sade, Juliette, que se centra em uma protagonista que abandona o convento ao ser convencida de que moralidade, leis naturais e religiões são farsas humanas. O correto seria apenas o viver como queres, nem que para isso dever-se-á matar para viver plenamente. Ainda que com uma ode a amoralidade, Juliette mata homens para fazer justiça as supostas mulheres “oprimidas”. É o discurso feminista em suas origens.
Não foram poucas as noções modernas incorporados entre as instituições políticas e jurídicas que absorveram tal mentalidade de Sade, ausente de moralidade, em que nem mesmo matar seria errado metafisicamente, teologicamente e juridicamente. O homem sem Deus e que caminha ao niilismo.
O aborto, prática perversa que assassina bebes no ventre de suas mães, é reflexo da Imaginação Diabólica. O homem deixa de conceber racionalmente que há direito natural, que há leis que regem à natureza, que possuem fundamento no transcendente, na assinatura divina na natureza para ordena-la e conduzir as almas humanas para aquilo que é correto, assinatura alcançada ao homem por sua razão natural, como dizia Santo Tomás de Aquino, e que nos leva à busca pela concepção universal de bem, verdadeiro e belo, a essência das leis e de todas as coisas, que têm como fim, a plenitude das essências alcançadas pelo transcendente. O aborto reflete uma sociedade que perdeu e se afastou da concepção principiológica de que à vida humana é sagrada, é lei natural. Para os herdeiros de Sade não! O que é sagrado é a vontade individual de exercer a perversidade moral e sexual e se o ônus for matar um bebê, por exemplo, que se faça. Já estamos secularizados, só concebemos a realidade imanente mesmo. Aliás, uma “Imanentização do Escathon” que falava Eric Voegelin, porém, ao inverso, imanentize o julgamento do fim dos tempos pela perspectiva do inferno, ou seja, trazer as trevas da condenação do inferno para a terra.
Não é estranho que os principais ícones do esquerdismo influenciados por Marquês de Sade, homens e mulheres, viveram à vida de Sade no contexto do século XX. Simone de Beauvoir se reunia com Sartre para orgias e estupros. Foucault e Derrida, como Sartre e Beauvoir, também eram entusiastas da pedofilia, no caso de Foucault, chegava à praticar.
Não surpreende, da mesma forma, que o aborto, em suas atuais defesas eugênicas, fora defendido pelo próprio Sade, o homem que deu o pontapé no movimento pró-aborto no Ocidente. Em seu La Philosophic Dans le Boudoir, obra escrita em 1795, que Sade não só defende a sodomia e o incesto, como o próprio aborto. Entretanto, a razão pela qual o autor propõe o abortamento não nos parece tão distante, é exatamente uma das mais importantes pautas a ser aplicada pelos globalistas: o controle populacional.
“Estado será sempre pobre se a população exceder os meios de subsistência, e, sempre florescente se, contendo-a nos justos limites, puder traficar com o excedente; não é preciso, para conservar o tronco, podar os ramos supérfluos? Todo o sistema que se afastar desses princípios será uma extravagância, cujos abusos nos conduzirão à subversão total do edifício que construímos com tanto trabalho. Não é quando o homem já está criado que devemos destruí-lo para diminuir a população; é injusto abreviar os dias de um indivíduo perfeito: mas não é injusto impedir a vida de um malconformado. A espécie humana deve ser selecionada no berço, único meio razoável de diminuir uma população que, por mais extensa, se tomaria perigosa. Caminhemos para a conclusão. (1) É preciso esperar que a nação acabe com essa despesa, a mais inútil de todas; todo indivíduo que nasce sem
La Philosophic Dans le Boudoir, Marquês de Sade
as qualidades necessárias para se tomar útil à república, não tem nenhum direito a conservar a vida e o que de melhor se há de fazer é rouba-la no momento mesmo em que ele a recebe.”.
Antes mesmo da primeira onda feminista do século XIX com Voltairine de Cleyre e Margaret Sanger, Marques de Sade já fundamentava o aborto enquanto tese e enquanto eugenia.
Enfim.
Se há algo para nos deixar aliviado com o avanço da agenda abortista na Europa e na América Latina é que a queda do Roe vs. Wade nos Estados Unidos mostrou que a luta pela vida desde a concepção ainda está mais viva que nunca!