Nos últimos anos, um dos temas de mais destaque na mídia e na academia foi o crescimento de uma ideologia conservadora no mundo, e um suposto triunfo de um movimento conservador que se iniciou em 2016 e se destacou em eventos diversos como:
A eleição de Donald Trump;
O Brexit;
Ascenção de políticos da chamada Alt Right como Matteo Salvini e Jair Bolsonaro.
Mas será mesmo que tanto os críticos quanto os simpatizantes desse movimento entendem de maneira satisfatória o que signfica a ideologia conservadora?
Antes de entendermos, o que é a ideologia conservadora, seus presupostos e características, precisamos entender o que siginfica ideologia.A ideologia significa um sistema de ideias sobre a distribuição de visões políticas e valores sociais que são adquiridos por uma parcela significativa da população.
Existem diversas interpretações sobre o conservadorismo, e alguns até negam efetivamente o seu status enquanto ideologia, elaborando que o mais adequado seria chamar o conservadorismo de um modo de vida ou estado de espírito como Russell Kirk, outros autores como Samuel Huntington elaboram que: o conservadorismo é sim uma ideologia, a partir do momento que ele tem em seu arcabouço teórico um conjunto específico de presupostos e características que se permite identificar como parte de uma ideia política em comum.
Nesse ponto específico a divergência de Kirk e Huntington não se dá sobre o conservadorismo em si, mas sim sobre o significado dado por eles ao conceito de ideologia. Existem de acordo com Huntington, basicamente três teorias sobre a natureza do conservadorismo enquanto ideologia .
A primeira delas é derivada do pensamento de Joseph de Maistre e bastante popular no meio reacionário brasileiro.É a teoria do conservadorismo aristocrático. Ela define portanto que o conservadorismo foi uma ideologia específica para um momento específico: A reação da aristocracia feudal agrária francesa contra a revolução francesa, o liberalismo e a ascenção da burguesia no final do século XVIII e início do século XIX.
Nas palavras do sociólogo Alemão Karl Mannheim o conservadorismo moderno nada mais é que “função de uma situação específica histórica e sociológica ” ( MANNHEIM, 1953,p 98). Para simplificar, o conservadorismo seria a ideologia da aristocracia, o liberalismo a da burguesia, e o marxismo a do proletariado.
”Portanto o Conservadorismo ficaria automaticamente associado ao feudalismo, o antigo regime, ao medievalismo e a nobreza, e se tornaria automaticamente rival da classe média, do comércio, da industrialização, da democracia, do liberalismo e do individualismo.” ( HUNTINGTON, 1954, p 454)
A segunda teoria é chamada de conservadorismo autônomo. Essa vertente sustenta que o conservadorismo não está ligado aos interesses de nenhum grupo em particular, e nem seria apenas verificável em momentos específicos da história. O conservadorismo seria um sistema de pensamento independente, com ideias gerais válidas e definido em termos universais como ordem, justiça, equilíbrio, prudência e moderação. O valor desses conceitos não dependeria da sua classe social, mas da sua capacidade pessoal de ver o lado bom desses conceitos e o porquê de sua existência, melhora a vida de toda a sociedade.
Essa é a visão de pensadores como Russell Kirk, Irving Kristol e C.S. Lewis. O conservadorismo seria, independentemente do momento histórico relevante e desejável. E seus valores e princípios superiores aos de outros arranjos sócio-culturais. É isso que Lewis quer dizer ao argumentar em Cristianismo Puro e Simples que “se um conjunto de ideias morais não fosse melhor que o outro, não haveria sentido em preferir a moral civilizada à moral bárbara, ou a moral cristã à moral nazista“.
A preferência demonstrada por nós seres humanos, por uma cultura mais civilizada, demonstra que acreditamos que existem valores morais superiores. Para os conservadores autônomos, esses valores morais superiores estão dentro e são basicamente intercambiáveis com os valores do ocidente enquanto civilização.
A terceira teoria é chamada de conservadorismo situacional. Essa é a de explicação mais complexa, porém talvez seja a mais válida. Ela estabelece o conservadorismo como uma “ideologia que surge e ressurge em diferentes momentos históricos em situações diferentes porém recorrentes em que uma ameaça fundamental é direcionada ás instituições estabelecidas e que os que apoiam essas instituições, usam a ideologia conservadora em sua defesa“ (ROSSITER, 1955, p. 9).
Partindo desse ponto o conservadorismo é o sistema de ideias que justifica a existência da ordem social, e defende essa ordem contra qualquer ameaça fundamental frente a sua existência. Isso não significa que o conservadorismo se opõe a qualquer tipo de mudança, ao contrário ele aceita que pode pode ser necessário ceder em alguns pontos para preservar os elementos básicos e fundamentais da sociedade, e a postura frente esse tópico é a maior linha divisória dos Conservadores com suas ideologias irmãs, o liberalismo e o reacionarismo.
O liberal é otimista por natureza, pois sua crença no progresso o leva encarar as mudanças de maneira positiva, e a empurrar a história para a frente, vide o fascínio dos liberais atuais com tópicos como as criptomoedas, engenharia genética, robótica e inteligência artificial. O reacionário por outro lado é um conservador mal sucedido podemos dizer, ele critica a sociedade existente em seu presente momento mas simultaneamente deseja recriar no futuro algo que ele assume ter existido no passado.
Portanto, ele se torna com o tempo um radical, ao passo que o ideal reacionário se torna cada vez menos relacionado a alguma sociedade real e existente no passado. O passado então passa a ser romantizado e ao final, o reacionário apoia um retorno a uma idealizada era de ouro que de fato nunca existiu. Vemos isso muito em leituras revisionistas da história e em movimentos que pedem a volta dos militares ao poder no Brasil ou a restauração da Monarquia. Outra representação comum disso é o ressentimento dos Conferados direcionados á União no contexto americano.
O liberalismo e o reacionarismo são chamados por Huntington de ideologias ideacionais. Essas ideologias possuem de forma percptível a todos, uma utopia. Isso não é algo que pertence ao conservadorismo, “nenhum filósofo político jamais descreveu uma utopia conservadora.” (HUNTINGTON, 1954, p 460).
O conservadorismo se diferencia das outras ideologias por isso, existe uma utopia e um elemento central nas ideologias a seguir:
- Marxismo (luta de classes);
- Liberalismo (individualismo);
- Reacionarismo (o passado).
No conservadorismo não existe esse elemento. Contudo, existiram vários elementos centrais em diferentes momentos da história. Por isso a visão do conservadorismo enquanto ideologia situacional acaba ganhando pontos.
Todas às três teorias sobre a ideologia conservadora tem seus méritos e todas são tradições filosóficas estabelecidas, com grandes autores defendendo cada um sua visão. Porém, em análise lógica a visão que mais parece fazer sentido é a terceira.
A teoria aristocrática que tenta ligar de forma umbelical o conservadorismo com o feudalismo, falha em um ponto fundamental, o país em que o Conservadorismo mais obteve sucesso teórico e prático foram os Estados Unidos da América, um país sem nenhuma tradição feudal. Outro erro da teoria aristocrática é tomar o conservadorismo como inimigo do liberalismo, quando na verdade eles são complementares, isso já estava implícito nos trabalhos de Burke e Adam Smith, e é evidenciado por Roger Scruton em Conservadorismo: um Convite á grande tradição.
Ao passo que das cinco grandes ideologias políticas (conservadorismo, reacionarismo, liberalismo, marxismo e social- democracia) a única que não possui um sistema econômico próprio é o conservadorismo. Ele pega emprestado pra si a teoria economica liberal, ao mesmo tempo que os liberais pegam emprestado do conservadorismo a capacidade de defender suas instituições quando elas são ameaçadas.
O verdadeiro inimigo do conservadorismo é o radicalismo. O que exemplifica esse radicalismo são propostas, como o apoio dos radicais liberais para terem permissão legal na venda de crianças, a validação da ditadura soviética feita pelos marxistas ou a revogação da lei do divórcio, uma demanda histórica dos reacionários.
Essa dicotomia não é sobre Conservadorismo x Liberalismo, Marxismo ou Reacionarismo, mas sim Conservadorismo x Radicalismo. A ideologia conservadora busca o equilíbrio entre empurrar a história para o futuro e reviver o passado no presente. Hoje o conservadorismo representa aquilo que na Grécia antiga o filosófo Aristóteles defendeu como Ponto Médio ou Equilíbrio.
A teoria autonôma falha também em um ponto fundamental, o conservadorismo não é uma força político-ideológica constante desde sua origem. Ao contrário, ele vive de espasmos pontuais em momentos chave da história, devido a isso, a melhor forma de compreender o conservadorismo é entendê-lo como uma ideologia situacional. Um bom exemplo para entender o componente situacional é observar que os dois primeiros ministros conservadores de maior sucesso no século XX no Reino Unido, Winston Churchill e Margaret Thatcher foram retirados dos seus cargos pelo seu próprio partido. Pois entenderam que sua missão já havia sido cumprida e eles não mais eram necessários.
Autores das três vertentes e também seus críticos parecem concordar em um ponto específico, identificar que o início do conservadorismo está sim ligado diretamente com a Revolução Francesa. E que ás reações capitaneadas por Edmund Burke e De Maistre formam o arcabouço originário dessa ideologia política, ainda que em leitura posterior De Maistre seja colocado como um pensador reacionário pela evolução do conservadorismo enquanto filosofia política. A Revolução Francesa é o primeiro evento histórico que gera um pico de reações conservadoras, outros picos ocorreram ao longo dos séculos. Com o século XX tendo grande destaque.
Diversos autores também parecem concordar com certos princípios básicos da teoria conservadora. É possivel extrair esses princípios seja de defensores ou de críticos dessa ideologia. Arthur Schlesinger Jr, um dos principais liberais do século XX, ao elaborar um debate em forma de artigo chegou basicamente aos mesmos pressupostos que Russell Kirk em “A Mente Conservadora”. Isso demonstra que é possível extrair princípios similares dos livros “O que é Conservadorismo” e “Como ser um Conservador” de Roger Scruton, ou das “Reflexões sobre a Revolução na França” de Edmund Burke. Quais são esses princípios ?
- A Sociedade é algo natural, produto de um desenvolvimento orgânico e não artificial, um desenvolvimento lento em perspectiva histórica, e as instituições hoje existentes incorporaram a sabedoria das gerações anteriores;
- O homem é uma criatura equilibrada entre instinto, emoção e razão. Por Isso, prudência é um valor tão elevado;
- A comunidade é superior ao indíviduo, conservadores são comunitaristas, um meio termo entre o individualismo liberal e o coletivismo marxista;
- Os homens não são iguais, a organização social é complexa e sempre incluiu na história uma variedade de classes e grupos, diferenciação, hierarquia e liderança são características inescapáveis, e inevitáveis de qualquer sociedade civil;
- A esperança dos homens é alta, mas sua visão é curta.
Após essa análise sobre ás tres visões do conservadorismo enquanto ideologia, e quais são os princípios básicos dessa ideologia, agora vamos analisar os momentos históricos em que se verificou uma força expressiva dessa ideologia e porque essa manifestação conservadora ocorreu. O primeiro deles foi a Revolução Francesa, o segundo foi a Segunda Guerra Mundial, o terceiro a Guerra Fria. Claro que esses eventos também tiveram impactos gerais já abordados em outros artigos do site que tratei sobre os eventos de alteração da ordem global, mas eles também inspiraram um “boom” de produções teóricas conservadoras por um motivo específico. Esses três momentos, em relação a todos os outros da história, foram os momentos em que as instituições, que são pré-requisitos para a existência humana, mais foram atacadas.
A revolução francesa foi tão longe a ponto de dar o nome ao fenômeno do terrorismo com sua famigerada Era do Terror (1792-1794). O holocausto permanece ainda hoje como um dos maiores genocídios da história,e o comunismo soviético com seus Gulags conseguiu ser ainda mais assassino que o terceiro reich.
No caso francês o cenário foi de grande ameaça em três fatores, a agitação social promovida, as ideologias que foram propagadas, e ás classes que acabaram por ascender ao poder, essa combinação colocou em perigo a civilização ocidental, a reação de De Maistre partindo em defesa da antiga ordem feudal, agrária e aristocrática foi apenas um lado da moeda. Burke realizou uma defesa conservadora da sociedade comercial e uma moderada constituição liberal.
Na américa os pais fundadores se utilizaram de princípios conservadores para defender uma constituição liberal á prova de ameaças revolucionárias como bem demonstrado por Alexis de Toqueville no clássico “Democracia na América” e por Martin Diamond em “História da Filosofia Política”.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) conseguiu o feito de unir a democracia liberal e o comunismo soviético contra a ameaça nazista, só isso já demonstra o quanto estava em jogo naquele momento. Franz Neumman, jurista e cientista político alemão, em importante obra afirmou sobre o período de poder do nacional socialismo que “era um caos, uma anarquia, o império da falta de leis “.
Neumann era marxista, membro da escola de Frankfurt que ganharia proeminência nas próximas décadas com autores como Adorno e Marcuse. Ainda assim suas visões sobre o Nazismo e sua máquina estatal eram semelhantes com a visão de muitos liberais e conservadores como Raymond Aron, um dos primeiros intelectuais a notar que o regime nazista se transformaria na ameaça global que se transformou e Reinhold Niebuhr que advogava pela entrada dos Estados Unidos na segunda guerra mundial muito antes do ataque a Pearl Harbour em 1941.
Foi no período pós guerra, que se confunde com a terceira grande onda conservadora, no período da Guerra Fria que a maioria dos conservadores hoje tidos como referência na filosofia política publicaram parte de seus principais trabalhos. Oakeshott com Racionalismo na Política e Outros Ensaios (1962), Aron com o Ópio dos Intelectuais ( 1955) e Paz e Guerra entre ás Nações ( 1962 ), Kirk com A Mente Conservadora ( 1953 ), Scruton com Pensadores da Nova Esquerda ( 1985 ) entre outros.
Também no período da Guerra Fria que temos o surgimento do Neoconservadorismo e por isso não inclui o 11/09 como um dos eventos responsáveis por um resurgimento da ideologia conservadora. Grande parte dos princípios dessa vertente já estavam presentes nos trabalhos de Leo Strauss, Allan Bloom, Irving Kristol e Andrew Roberts prévios ao evento. O olhar em busca desses autores após o atentado também é mais um ponto para a visão do conservadorismo enquanto uma ideologia situacional.
O período de embate geopolítico entre Estados Unidos e União Soviética também produziu na filosofia política o ápice do pensamento conservador, não por acaso, mas porque o momento pedia por isso. A vitória ocidental na guerra fria não veio apenas por uma bem coordenada estratégia político-diplomática. Mas também porque o conservadorismo foi devidamente bem aplicado na defesa das instituições do ocidente.
Ao tentar identificar nos movimentos de 2016 e no desenvolvimento subsequente dessa Alt-Right, em qual teoria da ideologia conservadora eles situam pode ser difícil, e discordo que o termo reacionário se aplique com 100% de exatidão, portanto, os filósofos e cientistas políticos ainda devem chegar a um termo mais adequado para esse conjunto de pensamento no futuro. Com isso, já podemos descartar de cara que eles seriam conservadores aristocráticos. Além de colocar a elite como inimigo, o objeto de defesa dessa vertente, essa vertente não admite a existência do conservadorismo fora daquele tempo específico.
É possível argumentar que eles se enquadrariam no conservadorismo autônomo ou no situacional? Em primeira análise, sim. O conservadorismo autônomo pode ser interpretado como dogmático, coisa que a Alt-Right também é. Porém, no conservadorismo autônomo, existem valores bem definidos sobre o que deve ser defendido, ao passo que a Alt-Right não tem muito claro aquilo que ela deseja defender.
No mesmo grupo existem entusiastas da economia de mercado, e desenvolvimentistas, abortistas como os seguidores de Marine Le Pen e movimentos pró vida. Alguns desejam uma democracia direta aos moldes Rousseaunianos e outros gostariam de uma centralização executiva. Outro fator que contribui para a Alt-Right não se encaixar no conservadorismo autônomo é o fato dela buscar incessantemente uma tradição intelectual local que a justifique, realizando leituras revisionistas da história para validar a sua posição, resgatando figuras políticas e intelectuais que no máximo teriam proximidade residual em determinado tema. Para o Conservadorismo autônomo os valores são universais e já estabelicidos, então não é necessário essa busca regionalizada.
A Alt-Right também não parece se entender sobre aquilo que deseja enfrentar, para alguns o inimigo é o liberalismo, o progressismo, o secularismo ou o materialismo. Sendo que mesmo entre o grupo não existe consenso quanto ao que significa cada termo, para ser integrada no conservadorismo situacional esse movimento precisaria ter um inimigo muito claro e definido, com rosto e capacidade, como foi a França Revolucionária, a Alemanha Nazista, a União Soviética e a Al Qaeda no passado.
Portanto o movimento Alt-Right não se enquadra em nenhuma das três visões ideológicas a cerca do conservadorismo, ele está no campo do espectro político da direita, até porque ideologia e espectro político são coisas distintas, mas é errado á luz da filosofia política dizer que os atores do movimento de 2016 são conservadores.
Referências Bibliográficas
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