Após o fim da segunda guerra mundial o nacionalismo virou uma palavra proibida, qualquer um que dissesse algo nesse sentido era comparado a Hitler e Mussolini, com o senso comum da época dizendo que a causa da segunda guerra mundial (1939-1945) era esse pensamento de superioridade de uma nação frente as outras, no entanto a interpretação foi equivocada, renomados estudiosos das Relações Internacionais como Colin Gray (2007) e Edward Carr (1939) comprovaram que a segunda guerra mundial surgiu devido a vários fatores, para citar alguns, a mal fadada política de apaziguamento com a Alemanha nazista conduzida por Neville Chamberlain, então primeiro ministro do reino unido, a crença na capacidade de ação da liga das nações para coibir ações revisionistas no sistema internacional, e a incapacidade da França de lidar com o Estado vizinho motivado por revanchismo após o tratado de Versailles impor muito mais condições negativas a Alemanha que aos demais países, e o crash da bolsa de valores em 1929 que forçou os Estados Unidos a parar de financiar a reconstrução alemã e levou ao colapso da república de Weimar. No entanto intelectualmente falando quem levou a culpa foi o nacionalismo.
O Nacionalismo era apenas parte do pensamento dos fascistas italianos e nazistas alemães , como apontado por John Mearsheimer na obra Porque os líderes mentem (2012) o nacionalismo sempre foi usado em momentos de guerra com o fim de gerar coesão social. O lado do bem também usou de nacionalismo durante a segunda guerra mundial, Churchill e Franklin Roosevelt sempre ressaltavam a importância da pátria em seus discursos e sempre falando na terceira pessoa do plural “Nós” como forma de motivação das tropas. Em outro contexto, já na década de 90 nos EUA, mais precisamente. Na véspera do julgamento do impeachment do presidente Bill Clinton, mesmo os democratas usaram do nacionalismo autorizando que mais de 200 misseis sobre o Iraque sem qualquer tipo de aviso ou diplomacia. (GRANDIN,2015) uma Realpolitik que não se diferencia em nada do que Kissinger e Dick Chenney ( ambos republicanos ) fariam. Nos Estados Unidos ainda é presente a idéia de que a direita é mais nacionalista que a esquerda, e hoje creio até ser verídica a afirmação, mas historicamente a coisa não é tão simples.
Dou ênfase nos Estados Unidos nesse ponto do artigo pois apesar da reação da direita ter começado em alguns países europeus, notadamente o Brexit, foi apenas com a eleição de Donald Trump que todos passaram a falar sobre o assunto, ainda que sem base intelectual para tal. Acompanhando a história da política externa americana se pode notar um ciclo de engajamento e isolacionismo, que independe do partido e as vezes até mesmo um governo pode começar de uma maneira e terminar de outra, FDR só entrou na segunda guerra após ser atacado diretamente, Obama começa com a vontade de acabar com as intervenções unilaterais dos EUA e acaba por gerar o ISIS e o mesmo Bill Clinton tem uma mudança consistente em sua gestão de política externa quando comparados o primeiro e o segundo mandatos.
Conceitualmente falando a melhor obra sobre o tema foi escrita pelo antropólogo tcheco Ernest Gellner, na obra Nations and Nationalism (1983). Gellner argumenta que o nacionalismo seria primariamente um princípio que consegue manter a unidade política (Estado-Nação) e que no mundo moderno seria uma necessidade sociológica, esse argumento é interessante, pois demonstra uma interseção entre a cultura e a possibilidade de funcionamento de um Estado. O hino nacional, a bandeira e a língua são todos elementos capazes de gerar mesmo entre estranhos um sentimento de pertencimento a um local e identidade comum (SCRUTON, 2014)
Percebam que o que é levantado por esses três autores nada tem a ver com suposições de superioridade de uma nação frente as outras como é o entendimento do senso comum a cerca do tema. Porque então ainda hoje, em um contexto bem diferente daquele que antecedeu a segunda guerra, ainda vemos parte da academia e a mídia reagindo de maneira enfática e negativa as tentativas de reafirmar o sentimento nacionalista. Uma boa explicação para isso se dá através do debate teórico no campo epistemológico da política internacional. Como foi abordado no meu primeiro artigo aqui no O Jabotinsky. Após o fim da guerra fria o realismo perdeu o posto de principal teoria de Relações Internacionais, dando lugar a abordagem liberal institucionalista.
Para essa abordagem ser bem sucedida, os Estados precisam colocar seus objetivos econômicos acima dos objetivos políticos, e é com esse objetivo em mente que estudiosos como Andrew Moravcsik (1997) desenvolveram a teoria do liberalismo intergovernamental, os entusiastas da União Europeia ainda hoje tem o autor como um dos principais intelectuais a defender o processo de integração “ EU integration can best be understood as a series of rational choices made by national leaders. These choices responded to constraints and opportunities” ( A integração da União Europeia pode ser melhor compreendida como uma série de escolhas racionais feita pelos líderes nacionais. Essas escolhas respondem a constrangimentos e oportunidades – Tradução do autor) Moravcsik, A. (1998) The Choice for Europe. Social Purpose and State Power from Messina to Maastricht (Ithaca, NJ: Cornell University Press). P 18. Os autores dessa vertente consideram que existe uma racionalidade inerente no processo de integração, portanto ser contra a integração seria uma postura anti-racional, como o realismo se transformou em um campo minoritário grande parte dos acadêmicos de Relações Internacionais se colocaram como anti-Brexit. Enxergando o movimento britânico de recuperação da sua soberania como uma manifestação de nacionalismo, nesse ponto não estão errados, mas o significado dado a eles para a palavra nacionalismo está. Nacionalismo hoje é apenas a postura de querer ser governado por autoridades que foram escolhidas através de seu voto, não por burocratas sem rosto que é a forma como a União Europeia opera hoje.
Outra boa explicação para a postura antinacionalista se da através da exaltação do multiculturalismo, conceitualmente falando esse termo é uma descrição para um ambiente (cidade, estado, país) em que existem várias culturas em convivência. No mundo globalizado praticamente todas as grandes capitais são multiculturais, devido a internacionalização da mão de obra pelas multinacionais. O problema aqui não é o multiculturalismo em si, mas sim a falta de assimilação cultural por parte dos estrangeiros. Trazendo para uma questão cotidiana para exemplificar de forma mais simples, você está passando férias como convidado na casa de um amigo, você costuma se alimentar ao meio-dia mas eles almoçam tarde, as 14:00. O que você faz? Impõe o seu costume mesmo sendo visitante ou se adapta? A boa educação manda você se adaptar certo? Porém não é isso que ocorre com os imigrantes nos países europeus. Pressionados pela UE (União Europeia) os Estados adotam políticas públicas que favorecem mais os imigrantes (mesmo ilegais) que os seus próprios cidadãos, isso contribui para a ampliação do chamado choque de civilizações, a União Europeia condena esses atos de resistência dos nacionais como se fosse xenofobia, porém no auge de sua incompetência não percebe que ela mesma gera esses efeitos com a sua atrapalhada política de imigração.
A cúpula da UE é tão fora da realidade que ela não percebe que seus próprios atos estão levando a destruição do continente e por consequência a erosão de seu próprio poder, a Inglaterra já saiu, possivelmente França e Alemanha terão destinos similares com a mudança interna nos países nas próximas eleições. Macron e Merkel não devem conseguir novos mandatos, a insatisfação é enorme. Paris já virou uma favela a céu aberto em alguns pontos, inclusive turísticos. Na Alemanha a taxa de estupro disparou segundo dados da polícia Alemã, de 2014 (ano que a guerra na síria levou a uma crise migratória mundial) a 2017 os números quadruplicaram, chegando ao número de 13 estupros por dia. Dados da Criminalidade no Contexto da Migração (Kriminalität im Kontext von Zuwanderung), publicado pelo Departamento Federal de Polícia Criminal (Bundeskriminalamt, BKA)
O problema dos nacionalistas não é com a imigração, mas sim com a falta de assimilação cultural por parte dos migrantes, uma imigração desenfreada, especialmente de forma ilegal, não corroí apenas o tecido social, atacando frontalmente as culturas nativas, mas também impacta na capacidade do Estado prover bens públicos para a sua população, uma ampliação significativa de beneficiados em pouco tempo é uma desculpa perfeita para a ampliação da carga tributária.
Após entender o real significado de nacionalismo, e compreender o porque ele é importante, especialmente nos dias de hoje, não me parece que seja justa por parte da imprensa e de alguns acadêmicos as reações histéricas quanto a ascensão nacionalista que ocorreu nessa última década.