Ética é a parte da filosofia que tem por finalidade investigar, assim como nortear um conjunto de regras, princípios de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. É, de forma geral, o estudo da conduta humana, susceptível de qualificação sob a ótica do bem e do mal.
O tema, no entanto, é extremamente debatido desde à antiguidade até os dias atuais. Aristóteles e Platão, por exemplo, discutiram exaustivamente sobre o tema em suas obras.
A Ética de Aristóteles procurou responder às seguintes perguntas: quais os verdadeiros bens da vida e como classificá-los hierarquicamente? Como devemos viver? De acordo com a tradição ética grega, os verdadeiros bens da vida são aqueles que trazem a verdadeira Eudaimonia, sendo que o bem mais perfeito é aquele que traz a mais perfeita Eudaimonia.
Segundo o Professor de Filosofia Pedro Menezes, “a Eudaimonia significa alcançar as melhores condições possíveis para um ser humano, em todos os seus sentidos e não apenas a felicidade, mas também a virtude, a moralidade e uma vida significativa”.[1]
Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, dedica a Justiça como principal virtude ética, deixando claro que consiste num meio-termo, entre o excesso e a carência e o injusto, aquilo que é contrário a lei, iníquo e contrário ao bem da coletividade.
Platão já pensava de forma oposta. Para ele, a ética está ligada à alma humana, que se divide em três partes, sendo elas a alma racional (correspondente à parte superior do corpo, no caso a cabeça, à qual se liga a figura do filósofo, o que motiva a buscar conhecimento), a alma irascível (àquela que se enfurece com facilidade, sendo responsável pela produção de emoções) e a alma apetitiva (que corresponde aos prazeres). [2]
Tendo em vista essas características, Platão ensina que uma pessoa só pode tomar decisões quando a parte racional da sua alma fala mais alto.
Ou seja, a ética se encontra com a racionalidade e têm por finalidade levar o homem a se voltar para o bem, devendo o ser humano buscar aquilo que engrandece a sua alma e abrir mão das coisas materiais ou dos prazeres. É o indivíduo capaz de governar a si mesmo, que exercita a sua habilidade de autocontrole e, para agir de maneira ética, é preciso dar ouvido ao lado racional.
Outro filósofo que escreveu sobre ética é Baruch de Spinoza. Em sua obra denominada de “Ética”, em seu capítulo IV, quando fala sobre a servidão humana e a força dos afetos, ele chama de servidão a impotência humana para regular e refrear os afetos. Para ele, o homem submetido aos afetos não está sob seu próprio comando, mas sob o do acaso, a cujo poder está a tal ponto sujeitado que é, muitas vezes, forçado, ainda que perceba o que é melhor para si, a fazer, entretanto, o pior.
Nessa linha, é importante realizar uma reflexão sobre o tema, a fim de perguntar se porventura os brasileiros como povo, agem de maneira ética e se têm capacidade de cobrar de algum indivíduo ou de um líder parlamentar atitudes éticas.
A ÉTICA DO POVO BRASILEIRO
Após explanar em linhas gerais sobre o tema, difundida pelos pensamentos de Aristóteles, Platão e Baruch de Spinoza, será possível analisar se porventura a sociedade brasileira vive ou deseja viver ou não de maneira ética.
De maneira geral nem todos os brasileiros poderão ser incluídos neste rol, mas, tão somente em uma parcela deste, porquê existem muitos que possui intenções de viverem eticamente.
Mas, todavia, há uma grande parcela de brasileiros que gostam de furar fila, de mentir, de serem tóxicos com outras pessoas, realizando fofocas, assassinatos de reputações, traições, atos desleais, estelionatos, fraudes e outros atos pequenos como não pagar a tarifa do transporte público apenas com intenção de beneficiarem a si mesmos, por exemplo.
Essas ações, por sua vez, se transformaram em costumes que se enraizaram na cultura brasileira e são transmitidos em gerações, havendo até o ato de ridicularizar outras pessoas como forma de punição, que não desejam realizar tais práticas em seus convívios sociais. É o famoso “jeitinho brasileiro”.
O psicólogo André Rabelo, que é mestre e doutor na área, diz que “o jeitinho pode ser entendido como um tipo de ação visando obter benefício próprio ou a resolução de um problema prático, fazendo uso de criatividade, cordialidade, engano e outros processos sociais”. Ele cita que, no artigo “Personality and Social Psychology Bulletin”, pesquisadores identificaram três principais dimensões, no jeitinho: a criatividade, a corrupção e a quebra de normas sociais.[3]
No que tange à criatividade, ela está ligada ao bom humor e afetividade em se enfrentar as situações, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis. Na outra face da moeda, encontra-se a corrupção, que representa o exemplo citado acima e é algo que atrapalha o desenvolvimento das organizações brasileiras e as relações interpessoais.
Ainda, há a outra dimensão do lado negativo, mas que é aceita por muitos, desde que não lhe prejudique, ou melhor, quando lhe favorece, é a quebra de normas sociais, que “representa o uso do jeitinho para burlar normas sociais que dificultam a resolução de um problema”, como descreve Rabelo.
Neste sentido, pode-se concluir que uma parte dos brasileiros não são éticos do ponto de vista filosófico e nem se importam com isso. Pelo contrário, aceitam a corrupção, a quebra de normas como parte da cultura e, portanto, sequer têm moral para cobrar de outras pessoas ou de seus parlamentares eleitos atitudes éticas.
A ÉTICA DOS PARLAMENTARES
No tocante o desinteresse dos brasileiros em não ter e manter atitudes éticas, que, por sua vez, pode fazer com que a “massa” (grupo social) ouça o lado racional para realizar práticas de princípios de ordem valorativa e moral, conforme pensamentos filosóficos suscitados acima, pode-se arguir sobre os parlamentares, que são por si só são os reflexos da sociedade.
A pergunta que pode ficar no ar e facilmente poderá ser respondida é: Se a sociedade em si não se pauta pela ética, como um parlamentar se pautará? A minha resposta é quase impossível.
A característica da sociedade brasileira atual faz com que hoje tenhamos uma torcida organizada, no que concerne em apoios a parlamentares corruptos, em consequência da inversão de valores.
Por isso, é possível entender o motivo pelo qual no Brasil um ladrão é considerado herói, onde suas penas são anuladas e ainda têm chances de vencer as eleições para concorrer o cargo de Presidente da República, bem como um louco, que atualmente se encontra no Poder Executivo e é considerado um mito.
Neste sentido, há a subversão das leis, a insegurança física e jurídica, a violação de preceitos constitucionais, transformando-os numa mera folha de papel, como já dizia o Jurista Ferdinand de Lassale.
Os brasileiros, de fato, possuem os parlamentares que merecem e isso perdurará por muito tempo, até que haja uma mudança profunda no aspecto cultural. Infelizmente, a continuidade desses comportamentos levará o Brasil a sua imaginável destruição. Sobre isso, faço uma reflexão através do pensamento do filósofo Moshé Maimonides, que diz:
Uma sociedade que subverte a Justiça ao falhar em instruir um sistema que assegure a retidão e a moralidade e uma comunidade ou cidade onde não existem cortes ou leis será finalmente destruída pelos seus próprios habitantes, conforme foi demonstrado repetidas vezes.
Moshé Maimonides
Assim, o Brasil será destruído pelos seus próprios habitantes. É só uma questão de tempo, infelizmente, pois, o que a maioria dos brasileiros gostam é apenas ganharem o pão e terem os seus circos de cada dia.
REFERÊNCIAS
Os pensadores. In: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Nova Cultural LTDA., 1996. p. 193-215.
A servidão humana ou a força dos afetos. In: SPINOZA, Baruch de. Ética. Tradução por Tomas Tadeu. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. cap. 4, p. 154.
NOTAS
[1] Significado de Eudaimonia: Disponível em https://www.significados.com.br/eudaimonia/ . (Acesso em mar. 2021).
[2] Resumindo o que é ética para Platão: Leia mais em https://www.psicanaliseclinica.com/etica-platao-resumo/. (Acesso em mar. 2021).
[3] A cultura do Jeitinho Brasileiro. Leia mais em: https://administradores.com.br/artigos/a-cultura-do-jeitinho-brasileiro . (Acesso em mar. 2021).