Saindo um pouco dos temas históricos e filosóficos, falaremos hoje de uma paixão do colunista que lhes escreve: o cinema. O amor pela sétima arte vem de casa. Cresci assistindo a clássicos do cinema de época com meu velho tio Newton e, graças a ele, me encantei pelo gênero que é, até hoje, meu predileto: o western spaghetti, ou o Faroeste Italiano. Muitos podem preferir os clássicos westerns americanos de Burt Lancaster, Gary Cooper e John Wayne. Entretanto, os cenários mais visualmente realistas da época, a violência mais gráfica e o predomínio de anti-heróis mais cínicos, mas carismáticos, me atraíram mais nos italianos do que a vertente americana do gênero. O Faroeste Italiano é uma das poucas coisas boas que o fenômeno da contracultura dos anos 60 nos trouxe.
Deixo aqui uma lista dos 8 melhores filmes do Western Spaghetti (ou Faroeste Italiano) de todos os tempos.
Per un pugno di dollari (1964):
Em 1964, o mundo cinematográfico testemunhou o nascimento de um ícone quando Clint Eastwood assumiu o papel do “Homem Sem Nome” em “Per un pugno di dollari”, também conhecido como “A Fistful of Dollars”. Dirigido pelo magistral Sergio Leone, este filme não foi apenas a entrada de Leone no gênero western spaghetti, mas também a obra que redefiniria e revitalizaria o gênero.
A trama, inspirada pelo clássico “Yojimbo” de Akira Kurosawa, segue o astuto anti-herói enquanto ele manipula duas facções rivais em uma cidade fronteiriça. A estrutura narrativa é de uma simplicidade enganadora, pois o que Leone faz com essa estrutura é tudo menos simples. Ele introduz uma nova linguagem visual para o western, caracterizada por close-ups intensos, paisagens panorâmicas e uma tensão palpável que se desenrola lentamente até seus momentos climáticos.
O visual é apenas uma parte do que faz “Per un pugno di dollari” ser tão cativante. A colaboração de Leone com o compositor Ennio Morricone é outra. A trilha sonora do filme é uma revolução por si só, introduzindo uma combinação de assobios, guitarras e instrumentos percussivos que capturam perfeitamente a essência do Oeste de Leone: selvagem, melancólico e sempre à beira do perigo.
Clint Eastwood, com seu charuto e olhar penetrante, personifica o arquétipo do pistoleiro solitário que viria a dominar o gênero. Ele fala pouco, mas quando o faz, cada palavra conta. Sua performance, com uma combinação de astúcia e misteriosa calma, o solidifica como um dos maiores anti-heróis do cinema.
No entanto, o filme não está isento de controvérsias. A evidente semelhança com “Yojimbo” levou a acusações de plágio, e, enquanto “Per un pugno di dollari” brilha como um tributo, não se pode ignorar sua dívida com o filme de Kurosawa. Além disso, o tratamento dado a alguns personagens e as representações de violência, embora estilizados, podem ser difíceis para alguns espectadores modernos, politicamente corretos e chorosos (para alguns um defeito, mas para quem vos escreve, uma virtude).
Apesar dessas ressalvas, “Per un pugno di dollari” é um testamento da genialidade de Sergio Leone. Ele não apenas adotou um gênero americano, mas também o reinventou, infundindo-o com uma estética e sensibilidade europeias. O resultado é um filme que, quase seis décadas depois, permanece tão poderoso e influente como sempre. Para aqueles que buscam entender a evolução do western ou simplesmente desejam experimentar uma obra-prima cinematográfica, este filme é essencial.
Per qualche dollaro in più (1965):
Se “Per un pugno di dollari” apresentou ao mundo a genialidade de Sergio Leone no gênero western spaghetti, “Per qualche dollaro in più”, ou “For a Few Dollars More” em inglês, solidificou seu domínio e aprofundou sua exploração do Velho Oeste estilizado que ele imaginava.
Leone retorna ao universo do “Homem Sem Nome” (Clint Eastwood), mas desta vez introduz um novo personagem, o igualmente enigmático Coronel Douglas Mortimer, interpretado pelo inimitável Lee Van Cleef. Juntos, estes dois caçadores de recompensas formam uma aliança tênue para caçar o cruel bandido Indio (Gian Maria Volontè). Este é um enredo mais complexo em comparação com o filme anterior, com reviravoltas e uma rica exploração das motivações dos personagens.
Visualmente, Leone amplia seu uso de close-ups expressivos e tiros panorâmicos para criar uma tapeçaria visual que, combinada com sua característica construção lenta de tensão, resulta em sequências de duelo que são quase operísticas em sua grandiosidade. Cada cena parece uma pintura em movimento, reforçada por uma paleta de cores que ressalta os tons terrosos do deserto e a paleta fria e metálica das cidades fronteiriças.
O retorno de Ennio Morricone para a trilha sonora é, sem dúvida, uma das melhores decisões. Sua música para “Per qualche dollaro in più” é tão memorável quanto a do primeiro filme, se não mais. Morricone consegue evocar o sentimento do Oeste de uma maneira que poucos compositores conseguiram, criando temas que são ao mesmo tempo melódicos e ameaçadores.
Eastwood e Van Cleef compartilham uma química magnética na tela. Enquanto Eastwood mantém a quietude fria e o carisma do “Homem Sem Nome”, Van Cleef, com seu olhar penetrante e presença imponente, cria um personagem que é ao mesmo tempo formidável e tragicamente humano. Gian Maria Volontè, como o antagonista, oferece uma performance que é a personificação da ameaça e da loucura.
Em resumo, “Per qualche dollaro in più” é uma obra-prima, uma evolução lógica e bem-vinda do filme anterior de Leone. Enquanto “Per un pugno di dollari” pode ter introduzido o estilo de Leone, este filme o aperfeiçoa, apresentando uma narrativa mais rica e personagens mais profundos. Uma joia absoluta no gênero western spaghetti, e um testamento do talento inigualável de Leone.
The Good, the Bad and the Ugly (1966):
Com “The Good, the Bad and the Ugly” (“Il buono, il brutto, il cattivo” em italiano), Sergio Leone não só alcançou o ápice de sua trilogia do “Homem Sem Nome”, mas também criou uma obra-prima indiscutível do cinema mundial.
O cenário é a Guerra Civil Americana, uma escolha que adiciona uma camada extra de caos e desespero ao já implacável universo do western spaghetti de Leone. O enredo gira em torno de três personagens emblemáticos: Blondie (Clint Eastwood), o Bom; Angel Eyes (Lee Van Cleef), o Mau; e Tuco (Eli Wallach), o Feio. Eles estão em uma corrida frenética em busca de um tesouro enterrado, e a jornada que se segue é repleta de traições, alianças temporárias e muita, muita tensão.
A cinematografia é absolutamente deslumbrante. Cada quadro parece uma obra de arte, com paisagens expansivas contrastando com close-ups intensamente detalhados. Estes close-ups, em particular durante os duelos, tornaram-se sinônimos do estilo de Leone, ampliando a tensão ao focar nos olhos dos duelistas, fazendo o espectador sentir cada segundo do impasse.
Ennio Morricone retorna para entregar talvez a trilha sonora mais icônica de sua carreira. O tema principal é instantaneamente reconhecível, uma melodia que encapsula perfeitamente o espírito do filme. Cada nota, cada acorde, intensifica a narrativa, tornando-se um personagem em si.
As performances são excepcionais. Eastwood, retornando como o laconicamente carismático “Bom”, apresenta o equilíbrio perfeito de astúcia e moralidade. Van Cleef, com seu olhar gélido, é a personificação da ameaça como o “Mau”. No entanto, é Eli Wallach quem rouba a cena como o volátil, mas estranhamente amável “Feio”. A dinâmica entre os três é uma aula de atuação e química na tela.
Entretanto, “The Good, the Bad and the Ugly” permanece como um testemunho do poder do cinema. É uma obra épica em todos os sentidos da palavra, abordando temas universais de ganância, honra e mortalidade contra o pano de fundo de um Oeste impiedoso e uma guerra devastadora. Este filme não é apenas o melhor da trilogia de Leone, mas um dos maiores filmes de todos os tempos.
C’era una volta il West (1968):
Após definir e dominar o gênero western spaghetti com sua trilogia do “Homem Sem Nome”, Sergio Leone embarcou em uma obra ainda mais ambiciosa com “C’era una volta il West”, conhecido em inglês como “Once Upon a Time in the West”. Este filme é mais do que apenas um western; é uma meditação poética sobre o fim de uma era, o choque entre a natureza e a industrialização, e a complexidade da vingança e da redenção.
Desde sua abertura icônica, que é uma longa sequência em uma estação de trem deserta, o tom do filme é estabelecido. Não há diálogo por quase 10 minutos, mas a tensão é palpável, culminando em um duelo de pistolas que introduz o misterioso protagonista, Harmonica, interpretado por Charles Bronson.
A trama segue a recém-viúva Jill McBain (Claudia Cardinale), que se vê no meio de uma batalha pela terra que herdou, uma terra que é crucial para o avanço da ferrovia. Henry Fonda, em uma reviravolta surpreendente de seu tipo usual, interpreta o vilão Frank, enquanto Jason Robards assume o papel do fora-da-lei Cheyenne.
Visualmente, “C’era una volta il West” é um espetáculo. As paisagens amplas e os close-ups característicos de Leone nunca foram tão bem utilizados. A cinematografia captura a beleza austera do Oeste, e cada quadro pode ser uma pintura à parte.
Ennio Morricone, o colaborador frequente de Leone, entrega uma trilha sonora magistral. Cada personagem principal tem seu próprio tema, que não apenas os define, mas também evolui ao longo do filme à medida que os personagens se desenvolvem. A música, por vezes etérea e outras vezes assombrosa, é tão integral à narrativa quanto qualquer personagem.
No entanto, é a performance de Fonda que mais se destaca. Conhecido por seus papéis de herói, ele inverte as expectativas ao interpretar o vilão implacável Frank. Essa escolha de elenco é uma das jogadas geniais de Leone, fazendo com que o público reavalie suas próprias percepções e expectativas.
A principal crítica que pode ser feita ao filme é o seu ritmo deliberado. Leone leva seu tempo, construindo lentamente cada cena. Para alguns, isso pode parecer excessivo, mas para aqueles dispostos a se entregar ao ritmo do diretor, a recompensa é uma experiência cinematográfica rica e imersiva.
“C’era una volta il West” é uma obra-prima que transcende o gênero. Não é apenas um western, mas uma obra épica sobre mudança, perda e vingança. Em sua essência, é uma ode ao Oeste que já se foi, capturado no momento de sua transição. Um filme indispensável para qualquer amante do cinema.
Red Sun (1971):
Dirigido por Terence Young, é uma rara fusão do gênero western com elementos do filme de samurai. Esse cruzamento cultural é refletido em seu elenco internacional, que inclui Charles Bronson, Toshirô Mifune, Ursula Andress e Alain Delon. O filme não é apenas um experimento intrigante em termos de gênero, mas também uma exploração da honra, lealdade e o choque de culturas.
A trama gira em torno de um samurai (Mifune) que está em uma missão para recuperar uma espada valiosa, que foi roubada e está agora em posse de bandidos liderados por Gauche (Delon). Link (Bronson), um fora-da-lei, se vê envolvido na busca ao perceber o valor da espada. A relação relutante entre o samurai e o fora-da-lei, enquanto eles buscam o mesmo objetivo, mas por razões diferentes, é o coração do filme.
Charles Bronson, em seu papel característico de anti-herói do Oeste, entrega uma atuação sólida e convincente. Toshirô Mifune, um dos maiores atores do cinema japonês, traz dignidade e intensidade ao seu papel de samurai. O contraste entre os dois, tanto em termos de estilo de atuação quanto de personalidade dos personagens, cria uma dinâmica fascinante na tela (aliás, aqui cabe apontar uma das virtudes do western spaghetti: a brilhante capacidade de criação de duplas contrastantes entre os protagonistas, foi assim com Terence Hill e Bud Spencer em Lo chiamavano Trinità, Giuliano Gemma e Lee Van Creef em I giorni dell’ira e Clint Eastwood e Lee Van Creef em Per qualche dollaro in più).
A cinematografia é eficaz em capturar a expansividade do Oeste Americano, e Terence Young faz um bom trabalho ao equilibrar as sequências de ação com momentos mais tranquilos e contemplativos. A trilha sonora, composta por Maurice Jarre, oferece uma combinação evocativa de sons ocidentais e orientais, refletindo a fusão de culturas que é central para o filme.
No entanto, “Red Sun” tem suas falhas. Apesar de sua premissa intrigante, o filme às vezes se perde em subtramas que não adicionam muito à narrativa principal. Ursula Andress, apesar de sua presença marcante, é subutilizada, e sua personagem carece de profundidade.
No geral, “Red Sun” é um filme valioso para aqueles interessados em uma abordagem diferente do gênero western. Embora possa não ser perfeito, oferece uma combinação única de talentos e uma fusão de estilos que é raramente vista no cinema. Vale a pena assistir para aqueles que buscam algo um pouco fora do comum.
I giorni dell’ira (1971):
Ambientado na vastidão empoeirada do Velho Oeste, “I giorni dell’ira”, ou “Day of Anger” em inglês, é uma meditação sobre a ascendência de um jovem, Scott (interpretado por Giuliano Gemma), da posição humilde de varredor de ruas à de um pistoleiro sob a tutela de Frank Talby (Lee Van Cleef). Este filme, dirigido por Tonino Valerii, aborda as complexidades morais do gênero western spaghetti de uma maneira que poucos conseguem.
A primeira coisa que chama a atenção é a cinematografia. As vastas paisagens são filmadas de maneira majestosa, fazendo com que o espectador sinta tanto a beleza quanto a desolação do Oeste. As cidades, por sua vez, são retratadas como lugares onde a civilização e a barbárie coexistem, muitas vezes na mesma rua.
A música, elemento chave em qualquer western spaghetti, aqui também não decepciona. Riz Ortolani compõe uma trilha que oscila entre o melancólico e o épico, acentuando os momentos de tensão e introspecção do filme.
No entanto, o que realmente eleva “I giorni dell’ira” são as atuações. Giuliano Gemma, com sua aparência inocente, retrata um jovem que, embora inicialmente seja desprezado por todos ao seu redor, revela uma capacidade inata de aprendizado e ambição. Ele é o contraponto perfeito para Lee Van Cleef, cujo Frank Talby é uma figura paterna complexa. Talby, por um lado, é um mentor, ensinando Scott sobre as regras não escritas do Oeste. Por outro, ele é uma figura moralmente ambígua, forçando Scott (e o espectador) a questionar até que ponto vale a pena seguir o caminho da vingança e do poder.
O filme é uma crítica, em certo sentido, a exclusão social, visto através da jornada de Scott. Scott era um homem desprezado pelos cidadãos de Clifton, o que muda a partir de seu contato com Frank, um tutor que faz do menino desprezado, um homem de respeito.
No entanto, o filme tem seus momentos de lentidão. Há cenas que poderiam ter sido encurtadas sem prejudicar a narrativa, e em certos momentos, o ritmo sofre por isso.
Em resumo, “I giorni dell’ira” é uma adição valiosa ao gênero western spaghetti, trazendo à tona questões morais e sociais enquanto oferece uma história envolvente e atuações memoráveis. Embora possa não ser tão reconhecido quanto alguns de seus contemporâneos, é um filme que merece ser visto por qualquer fã do gênero.
Il Mercenario (1968):
Sergio Corbucci, frequentemente ofuscado pelo gigante do gênero, Sergio Leone, demonstrou com “Il Mercenario”, conhecido em inglês como “The Mercenary” ou “A Professional Gun”, que ele é um diretor talentoso com uma visão única para o gênero western spaghetti. Aqui temos um Zapata Western (um subgênero dos filmes de spaghetti western que emergiu nos anos 1960 e 1970. Estes filmes são ambientados principalmente durante a Revolução Mexicana do início do século XX e apresentam uma mistura de ação, drama e comentário político. O nome “Zapata” vem de Emiliano Zapata, um líder revolucionário mexicano de tendência caudilhista, era famoso pelo seu lema Tierra y Libertad).
O filme é ambientado durante a Revolução Mexicana e segue um mercenário polonês, Sergei Kowalski (Franco Nero), que se junta a um revolucionário mexicano, Paco Roman (Tony Musante), para assaltar e saquear enquanto ensina ao último a arte da guerra moderna. No entanto, à medida que a trama se desenvolve, percebe-se que a história é menos sobre seus feitos e mais sobre a complexa relação entre os dois, com temas de honra, traição e o preço da revolução.
Franco Nero brilha como Kowalski. Ele exala carisma e confiança, tornando-se um protagonista envolvente. Tony Musante, como Paco, fornece o equilíbrio perfeito, oferecendo uma atuação energética e apaixonada que contrasta bem com o cinismo calculado de Nero.
A cinematografia é excepcional, com Corbucci utilizando a paisagem desértica e a arquitetura mexicana para criar cenas memoráveis, especialmente nas sequências de batalha. A ação é dinâmica e, em muitos momentos, bastante brutal, refletindo a natureza violenta e caótica da revolução.
A trilha sonora, composta pelo lendário Ennio Morricone, é um dos destaques do filme. Ele cria temas inesquecíveis que não apenas complementam a ação na tela, mas também aumentam a tensão e o drama. O uso de instrumentos tradicionais mexicanos dá à trilha sonora uma autenticidade e imersão que são fundamentais para a ambientação do filme.
Contudo, “Il Mercenario” tem seu ponto fraco. Há momentos em que a narrativa pode parecer um pouco dispersa, com algumas subtramas não sendo plenamente exploradas.
No entanto, “Il Mercenario” é uma adição valiosa ao gênero western spaghetti. Ele combina ação, drama e comentário político de uma maneira que é ao mesmo tempo entretenida e instigante. Corbucci prova que, quando se trata de criar westerns ricos e complexos, ele pode muito bem estar no mesmo nível que seu contemporâneo mais famoso.
Django (1966):
Outra obra dirigida por Sergio Corbucci, “Django” é um daqueles filmes que, apesar de não ser o primeiro de seu gênero, tornou-se um dos mais emblemáticos e influentes representantes do western spaghetti. Com uma atmosfera crua, personagens inesquecíveis e uma abordagem gráfica da violência, “Django” é uma jornada cativante através do árido e brutal Oeste.
Desde o início, o tom do filme é estabelecido quando vemos o personagem principal, interpretado de maneira icônica por Franco Nero, arrastando um caixão pelas paisagens áridas. Este simples ato instiga curiosidade e estabelece a solidão e a determinação do protagonista. E, claro, o caixão esconde um segredo, cuja revelação é tanto um golpe de gênio narrativo quanto uma declaração do estilo do filme.
A estética de “Django” é uma de suas maiores forças. Corbucci não se afasta da representação da violência. Em vez disso, ele a abraça, mostrando as consequências brutais de um mundo sem lei. O resultado são cenas que permanecem na memória, tanto por sua brutalidade quanto por sua inovação cinematográfica.
Musicalmente, Luis Bacalov compõe uma trilha que se torna quase tão icônica quanto o próprio personagem. As canções são melódicas, mas carregam uma sensação de melancolia e ameaça, acentuando o tom do filme e amplificando a tensão das cenas.
Franco Nero, com seu olhar intenso e presença carismática, cria um anti-herói que é tanto um produto quanto uma crítica ao mundo violento em que vive. Sua performance é complementada por um elenco de apoio convincente, cada um contribuindo para o mosaico de moralidade ambígua que o filme apresenta.
Ainda assim, “Django” é um triunfo do cinema de gênero. Ele redefine o western com uma abordagem europeia, resultando em um filme que é ao mesmo tempo familiar e surpreendentemente inovador. Ele não apenas influenciou inúmeros outros filmes, mas também estabeleceu um padrão pelo qual outros westerns spaghetti seriam medidos. Para fãs do gênero e amantes do cinema em geral, “Django” é uma parada obrigatória.
Menções honrosas:
Lo chiamavano Trinità (1970): Um desvio bem-vindo para o lado mais leve do western, este filme é uma comédia com momentos genuinamente engraçados. Terence Hill e Bud Spencer provam ser uma dupla carismática, tornando-o um clássico do gênero.
Un dollaro bucato (1965): Enquanto pode não alcançar as alturas dos clássicos de Leone, este filme ainda tem méritos, com uma narrativa envolvente e sequências de ação bem coreografadas.
Arizona Colt (1966): É uma interessante entrada no gênero spaghetti western, dirigido por Michele Lupo. Ao mesmo tempo que carrega muitos dos clichês esperados do gênero – tiroteios, confrontos e vilões com motivações claras -, há um charme distintamente europeu que o diferencia de seus contemporâneos americanos. Giuliano Gemma, no papel-título, traz uma mistura equilibrada de carisma e vulnerabilidade, tornando seu personagem memorável. Enquanto a trama pode ocasionalmente se perder em subtramas secundárias, o ritmo geral e a cinematografia são pontos fortes que mantêm o público envolvido.
Una Pistola per Ringo (1965): Também estrelando Giuliano Gemma, “Una Pistola per Ringo” é um dos exemplos mais notáveis do gênero spaghetti western, misturando humor e ação de uma maneira que era relativamente nova para o gênero na época. Gemma brilha como Ringo, um anti-herói descontraído mas habilidoso, cuja capacidade de sair de situações difíceis é tão impressionante quanto sua destreza com uma pistola. A direção de Duccio Tessari é dinâmica, com sequências de ação bem coreografadas que mantêm o espectador na ponta da cadeira. A trilha sonora, uma marca registrada dos westerns italianos, é cativante e ajuda a estabelecer o tom do filme. Embora possa parecer um pouco datado para os padrões modernos, “Una Pistola per Ringo” permanece uma joia do gênero, merecedora de uma revisão.
Il mio nome è Nessuno (1973): Dirigido por Tonino Valerii e com produção de Sergio Leone, “Meu Nome é Ninguém” é um western spaghetti que mistura elementos clássicos do gênero com toques de comédia. O filme, protagonizado por Terence Hill e Henry Fonda, se destaca por explorar o fim da era do Velho Oeste e a transição para a modernidade. Hill, com sua presença carismática e humor leve, representa a nova geração de cowboys, enquanto Fonda, no papel do velho pistoleiro Jack Beauregard, simboliza o fim de uma era. A trama, que envolve o desejo de Ninguém (Hill) de ver Beauregard sair em grande estilo, é tanto engraçada quanto melancólica. A cinematografia é robusta e a trilha sonora de Ennio Morricone, como sempre, é um destaque. No entanto, o tom variável do filme, oscilando entre comédia e drama, pode não agradar a todos. Apesar disso, “Meu Nome é Ninguém” é uma reflexão nostálgica e divertida sobre o fim dos tempos do Velho Oeste e vale a pena ser visto por fãs do gênero.