Ninguém gosta de filmes mais, o peso e a relevância de Hollywood está cada vez mais colocado em xeque, porque será que isso aconteceu ?
Alguns motivos explicam e é sobre eles que o artigo de hoje irá tratar, assim como um resgate histórico das principais eras e movimentos cinematográficos que Hollywood passou ao longo dos anos. Antes de tudo não quero parecer saudosista, recentemente houveram alguns sucessos muito bem vindos como Homem Aranha: Sem Volta pra Casa ( 2021 ) e Top Gun: Maverick ( 2022). Na última década os chamados filmes de prestígio entregaram boas obras ( Spotlight, O Irlandês, Birdman ) e a Marvel conseguiu monopolizar o cinema comercial com seu universo de histórias interconectadas que só foi perder fôlego em 2019.
Portanto não se trata de saudosismo esse artigo, mas de uma infeliz constatação, a chave para a indústria do cinema se autossustentar é a boa vontade da audiência e ela está desaparecendo bem rápido, até mesmo a até então inquestionável Marvel cometeu erros em sequência, viu seu apreço na crítica naufragar e os milhões de dólares que seus filmes geravam para a Disney diminuir. Do lado dos filmes de prestígio a Academia sofreu um levante progresista em 2020 que tem deixado muito claro que a arte é secundária, o que importa é a agenda política para agradar vários tipos de minoria, não é por acaso que a audiência da cerimômia é cada vez mais um fiasco, e os filmes indicados naufragam na bilheteria com algumas raríssimas exceções.
A partir de 2024 portanto filmes como o elogiadíssimo por crítica e público Top Gun: Maverick não estariam aptos a concorrer como melhor filme pelo simples fato de não estar enquadrado em nenhuma das cotas que a Academia determinou, o vencedor desse ano, é um vídeo de Tik Tok com duas horas de duração como diz um amigo cineasta , se ainda fosse apenas os filmes de prestígio que estivessem nessa rota ainda haveria escapatória, mas os Blockbusters também estão adotando essa retórica vazia e pedante do progressismo. No último remake do clássico As Panteras, a diretora culpou a audiência masculina pelo fiasco do filme, o último filme dos X-men mais parecia uma palestra de alguma deputada do PSOL … Os exemplos são vários e todos associados de uma maneira ou outra a retórica progressista.
Essa adesão de Hollywood ao progressismo levou a indústria para sua primeira crise existencial em 50 anos, ao invés de produzir obras que tenham como objetivo inspirar com as telas a sociedade a ser melhor, surpreender, divertir… em resumo fornecer um entretenimento para todos como o cinema sempre o fez, a indústria acabou se curvando perante as minorias de maneira covarde e está amargando vários prejuízos com isso.
Hollywood passou por momentos delicadíssimos no passado e sempre conseguiu sobressair, por um motivo muito simples, eles davam ao público o que ele queria, ao invés de ditar ao público o que pensar, ou tentar ser um agente de transformação social, a própria história de Hollywood mostra que existe uma saída para além desse caminho suicida que a indústria está navegando.
Em sua primeira crise existencial, na mudança do cinema mudo para o cinema com falas a indústria precisou se reinventar, eram necessários novos atores, novos estilos de atuação, novos roteiristas, mais equipamentos para captação sonora, todo um novo tipo de pessoal técnico, e muito, muito dinheiro… mas a indústria não só sobreviveu como entrou, após esse período de adaptação, no período conhecido hoje como A Era de Ouro de Hollywood, quem tomava decisão na época entendia o que o público desejava ver e ofertava isso para eles, quando a TV se popularizou mas ainda era Preto & Branco, o cinema começou a usar cores, quando os programas de TV como I Love Lucy ( 1951-1957) ameaçaram sua popularidade, eles aumentaram o orçamento e apostaram nos épicos impossíveis de existirem na tela pequena, nos anos 60 outra crise existencial se abateu sobre a indústria, e os clássicos pareciam para o consumidor da época muito unidimensionais, a indústria ouviu e filmes como Bonnie & Clyde ( 1967 ) e Sem Destino ( 1969 ) abriram caminho para o que se convencionou chamar de Nova Hollywood, a velha guarda formada por Benson, Wilder, Hitchcock e John Ford saiu de cena e deu lugar a nomes hoje lendários como Scorsese, De Palma, Lucas, Spielberg, Friedkin, Coppola, Polanski, Nichols entre vários outros que desenvolveram um cinema mais cinzento, com narrativas mais complexas e protagonistas operando em uma bússola moral ambígua.
Nos anos 80 para ir de encontro a situação econômica pujante da América os filmes ficaram mais grandiosos e o conceito de Blockbuster se consolidou com filmes como Indiana Jones, De Volta para o Futuro, Top Gun: Ases Indomáveis e Batman, nos anos 90 as produções independentes começaram a chamar atenção com diretores sem estudo formal como Quentin Tarantino e Paul Thomas Anderson chegando ao estrelato.
Todas essas eras do cinema demonstram duas coisas, a primeira é que não é e nunca foi função do cinema ou dos cineastas alterar a percepção social do público, todas essas mudanças citadas seguiram uma lógica Bottom-Up e não Top Down. Não foram agendas políticas impostas para o público, mas sim uma reflexão daquilo que o público dessas respectivas eras estava sentindo e queria ver retratado na grande tela. O segundo ponto é que os estilos de filmes acabam sendo cíclicos, ou seja, a moda progressista atual cedo ou tarde chegará ao fim, só que diferentemente de todas as eras citadas, ela deixará pouco ou nenhum clássico para o futuro.
Claro, eu seria leniente se afirmasse que esse é o único motivo do declìnio da indústria cinematográfica, existem outros que também merecem atenção. A evolução dos vídeo games, cada vez mais realistas e cinematográficos está roubando parte do público que não se contenta mais em só assistir uma história mas quer ser parte dela. O fim do mercado home-vídeo reduz a profitabilidade dos filmes pois apenas os ingressos de cinema contam, não mais a venda de DVDs e Blu Rays ( Nos EUA esse mercado ainda é forte, mas em muitos mercados como a América Latina ele não existe mais ), reduzindo a margem de lucro, se torna mais difícil para os executivos apostarem em algo que não seja certeza de bilheteria o que reduz a qualidade geral dos filmes. Até mesmo a má qualidade dos diretores mais jovens é uma questão. A última grande revelação do cinema foi Denis Villeneuve (Os Suspeitos, Sicario, Duna ). Robert Eggers é um potencial fenômeno mas que ainda não conseguiu atingir ás massas, a pandemia também acomodou o público a esperar o lançamento no conforto do sofá.
Vários fatores refletem a decadência hollywoodiana, mas o progressismo sem dúvida é o maior culpado por limitar ás opções criativas de todos os envolvidos, resta torcer para essa moda acabar bem rápido e para que o cinema ainda possa ser salvo depois disso, não existe segredo, basta dar ao público aquilo que ele deseja.
2 Comentários
Muito bem escrito e esclarecedor
Parabéns
Excelente texto Felipe. Parabéns pela visão macro da questão 👏🏼