O povo brasileiro é, sem sombras de dúvidas, um dos povos mais multiculturais do planeta, em virtude de elementos históricos da colonização e de imigração de outros povos, pelos quais contribuíram para construção dessa multiculturalidade.
Embora a multiculturalidade do povo brasileiro, principalmente no que tange aos costumes sociais, alimentação e formas de pronunciar à língua portuguesa, deve-se considerar também que deste povo surgiram pessoas importantes, que contribuíram para a riqueza cultural e histórica do país, como Anita Garibaldi (1821-1849), que participou junto com o marido, o general italiano Giuseppe Garibaldi, de uma série de batalhas, tendo inclusive lutado na Revolução Farroupilha, Carmen Miranda (1909-1955), nascida em Portugal, mas brasileira de corpo e alma, a qual contribuiu para alavancar a imagem do Brasil no exterior, Monteiro Lobato (1882-1948), que foi um importante editor de livros inéditos da literatura infantil brasileira.
A cultura do povo brasileiro é extremamente rica e interessante. Todavia, nem tudo são flores. Atualmente é possível assistir, com sentimento ou não de tristeza, a destruição de toda riqueza cultural construída no Brasil durante décadas e uma profunda mudança de valores morais, que até assustam aos mais conservadores.
Um exemplo de destruição da cultura brasileira a ser citado é a desvalorização do ensino básico, que por sua vez, é evidente. Embora a diminuição da taxa de analfabetismo nos últimos anos e evasão escolar, é evidente observar a decadência a qualidade do ensino e o crescimento do analfabetismo funcional.
Hoje, boa parte dos brasileiros possuem acesso à escola, porém, muitos estão saindo dela sem ao menos saber aritimética, a cantar o hino nacional do país e tão pouco a interpretar um texto. Muitos pais de alunos aceitam, infelizmente, a realidade.
Além disso, está sendo valorizada nos tempos atuais a cultura da imoralidade como alguns costumam definir, pois atualmente existe uma grande inversão de valores e de papeis, em que o honesto é punido, assim como envergonhado e o desonesto é honrado com aprovação social e garantia da impunidade, o trabalho duro, a fidelidade e a confiança estão se tornando coisas banais para serem substituídos pela busca de uma vida fácil, promíscua com o famoso “jeitinho brasileiro”, bem como a educação, a gentileza, os valores morais em geral e a empatia estão ficando para o último plano. Em termos populares, pode-se dizer: “O poste está urinando no cachorro, a vaca está voando para o brejo e o porco está sentado à mesa se deliciando de uma carne nobre no jantar, a malandragem é o foco e o crime pode compensar”.
Neste esteio, é possível citar os últimos acontecimentos políticos e sociais. Em um passado não tão distante, houve a destruição da operação lava jato, que foi uma das maiores iniciativas de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história recente do Brasil.
Na política, por exemplo, essa operação culminou na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi condenado a 12 anos e 11 meses por corrupção e lavagem de dinheiro pelo juízo de 1ª instância.[1]
Diante da situação, os advogados de defesa do ex-presidente da República interpuseram recursos judiciais em 2ª instância, a fim de reformar à sentença condenatória proferida pelo juízo de 1ª instância, a qual, por conseguinte, foram julgados improcedentes os pedidos.
Por unanimidade, os três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) votaram em favor de manter a condenação e ampliar a pena de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.[2]
Tal situação desencadeou um sentimento de justiça para alguns e de injustiça para outros, que por sua vez, não aceitaram sua prisão, alegando à inocência e à honestidade deste nobre senhor.
Apesar dos grandes elementos probatórios juntados no processo que viabilizam à sua culpabilidade, após 580 dias de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em liberdade e deixou o prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) às 17h43 da 6ª feira do dia 08 de novembro de 2019 em clima de festa.[3]
O motivo da soltura do ex-presidente se dá em concordância com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a possibilidade de prisão após condenação em 2ª instância.[4]
O Supremo Tribunal Federal (STF) firmou-se novo entendimento, no sentido de que a execução penal provisória, antes de findadas as oportunidades para recurso, somente é cabível quando houver sido decretada a prisão preventiva do sentenciado, nos moldes do artigo 312 do Código de Processo Penal Brasileiro.
Além disso, o plenário do STF anulou, posteriormente, as decisões da Justiça Federal de Curitiba contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 4 processos da Lava Jato, tornando-o elegível e apto para disputar para as eleições de 2022, sob a justificativa de que às decisões judiciais foram proferidas por juiz incompetente. [5]
Sendo assim, Lula segue solto, disputando às eleições presidenciais de 2022 e no momento se encontra a frente das pesquisas como favorito.
Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (23/06/2022) mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 47% das intenções de voto na corrida pelo Palácio do Planalto. O atual presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 28%.
Observe que o ex-presidente Lula está solto e se encontra apto para disputar às eleições presidenciais de 2022 somente em virtude de as decisões judiciais proferidas em Curitiba anuladas, bem como também pela mudança de entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), no tocante a atribuir possibilidade de prisão em 2ª instância após o exaurimento de todos os recursos judiciais cabíveis e não por provar a inocência dos atos delituosos praticados.
Entretanto, muitos brasileiros comemoram os fatos ocorridos, defendem este nobre senhor, como se o mesmo fosse um “santo”, assim como à pessoa mais honesta do país, tanto que ele se encontra como favorito nas pesquisas para presidir novamente o cargo de presidente da república.
É dessa forma que o brasileiro honesto, trabalhador é punido, assim como envergonhado e o desonesto é honrado com aprovação social e garantia da impunidade, assim como os valores morais em geral e a empatia estão ficando para o último plano.
O político é retrato de seu povo. Se um candidato com o perfil de Lula se encontra na frente das pesquisas, o problema não se encontra com o mesmo e sim com os valores morais da sociedade, no caso em tela, a brasileira.
Se o povo aceita um corrupto no poder, com brado de louvor, assim como é possível vislumbrar no caso de Lula nas pesquisas de intenções de voto, é porque se encontra leniente com a corrupção e a imoralidade. Neste sentido, os brasileiros não podem abrir a boca para reclamar dos problemas que estão ocorrendo e que ocorrerão posteriormente.
Àqueles que são lenientes à corrupção e à imoralidade merecem, de fato, comer “capim e alfafa” no café da manhã, almoço e jantar, todos os dias da semana, para aprenderem a dar valor à moralidade, ética e justiça.
NOTAS:
[1] Lula é condenado a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em ação da Lava Jato sobre sítio de Atibaia – Disponível em: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2019/02/06/lula-e-condenado-em-acao-da-lava-jato-sobre-sitio-de-atibaia.ghtml (Acesso em junho de 2022).
[2] Em decisão unânime, tribunal condena Lula em segunda instância e aumenta pena de 9 para 12 anos. Leia mais em https://g1.globo.com/politica/noticia/julgamento-recurso-de-lula-no-trf-4-decisao-desembargadores-da-8-turma.ghtml (Acesso em junho de 2022).
[3] Lula livre: ex-presidente deixa a prisão em Curitiba – Leia mais em: https://www.poder360.com.br/justica/lula-livre-ex-presidente-deixa-a-prisao-em-curitiba/ (Acesso em junho de 2022).
[4] Juiz manda soltar Lula após decisão do STF que derrubou 2ª instância – Leia mais em: https://exame.com/brasil/juiz-manda-soltar-lula-apos-decisao-do-stf-que-derrubou-2a-instancia/ (Acesso em junho de 2022).
[5] Plenário do STF anula condenações de Lula na Lava Jato – Leia mais em: https://www.poder360.com.br/justica/stf-forma-maioria-para-anular-decisoes-da-justica-de-curitiba-contra-lula/ (Acesso em junho de 2022).
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