Crowdfunding é, literalmente, “financiamento de multidão”, ou financiamento coletivo, colaborativo, participativo. Seja qual for a tradução ideal que se dê ao termo, ele é muito conhecido por caracterizar as famosas “vaquinhas” ou rifas online, visando levantar dinheiro para alguma causa e/ou projeto social a partir de pequenas doações individuais de um grupo de pessoas. Esse formato, porém, não caracteriza mercado financeiro, uma vez que os contribuintes disponibilizam recursos sem interesse em retorno monetário.
É aqui que entra um mercado que movimentou mais de R$59 milhões no Brasil em 2019 (+28% em relação a 2018), em 26 plataformas (contra 14 no ano anterior) e para 6.720 investidores, segundo a CVM 588, Instrução que regulamenta o modelo, e que merece atenção. “Os números mostram que o crowdfunding de investimento continuou crescendo e cada vez mais vem se tornando uma modalidade de financiamento interessante para as startups e empresas de pequeno porte”, afirma Antonio Berwanger, Superintendente de Desenvolvimento de Mercado (SDM) da CVM.
Diego Reeberg, fundador da Catarse.me, a primeira plataforma brasileira para financiar projetos criativos de forma colaborativa, complementa: “O atual movimento de crowdfunding tem, para mim, dois principais motivos. As formas tradicionais de financiamento não davam conta de abarcar todos os tipos de projeto que precisavam de grana, seja porque o projeto poderia requerer poucos recursos – e o financiamento público não dá conta disso –, seja porque o empreendedor/artista quer mais independência do que uma forma tradicional de captação pode oferecer. Além disso, o avanço da internet, principalmente após as ferramentas de interação terem se consolidado, facilitou que uma boa ideia/projeto se espalhasse para muito mais gente do que a rede de pessoas próximas, extrapolando os limites geográficos que restringiam de onde viria o financiamento”.
Desde uma startup que precisa vender participação e levantar caixa para crescer até uma construtora que deseja usar recursos para executar empreendimentos imobiliários, passando por investimentos alternativos, como royalties musicais e precatórios, além de diversas outras modalidades, a ideia é fechar uma lacuna de captação latente nessas empresas que, por suas características, não são atendidas nem pelo mercado de capitais tradicional (bancos, debêntures, ações,…) nem pelos fundos de venture capital e private equity. Dessa forma, eliminam-se diversas barreiras à entrada, tanto por parte de empresas, que não precisam se submeter às regras insanas de instituições tradicionais, quanto por parte de investidores, que não precisam ter exorbitantes montantes de capital disponível para aproveitar as oportunidades.
Com uma SELIC de 2% a.a. e um mercado de ações extremamente caótico (diga-se de passagem, muito mais por conta de bolsonarices do que por causa do coronavirus), essa alternativa parece unir rentabilidades atrativas, fuga dos mercados tradicionais e prazos razoáveis, embora (como qualquer investimento) haja riscos. Nesse caso, estes estão normalmente ligados à inadimplência da empresa emissora, à ausência de mercado secundário (não é possível se desfazer da posição, gerando um problema de liquidez) e ao risco dos negócios em si, além de serem empresas pequenas.
Sobre os riscos, Dorly Neto, especialista em Redes Sociais e Inovação Digital pela ESPM-SP, afirma que este método “não é recomendado para pessoas que não tenham recompensas para entregar, que ainda precisem de muito dinheiro ou que não tenham uma rede muito grande para divulgar o projeto”. Assim, o modelo possui, sim, seus nichos, e, portanto, suas saturações. Vejamos como isso anda nos próximos anos.
Assim como os personagens de High School Musical, no crowdfunding, estamos todos juntos nessa, mas lembrem-se: na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte (no caso, o vencimento dos títulos, seja de qual modalidade for) nos separe.