Ministério público gastando milhões com Iphones e Samsungs novos para promotores de “justiça”, STJ com orçamento de meio milhão para comprar biscoitos e doce de leite, prefeito pego com dólares na cueca sendo reeleito,…, todas essas situações, para alguém que, como eu, é um grande apreciador de stand-up comedy parecem vindas de um set de piadas de algum humorista mais sarcástico, ou de um especial do Netflix, mas, acredite se quiser (se não quiser, vai continuar acontecendo assim mesmo), isso está acontecendo no nosso Brasil brasileiro, o Brasil do meu amor, terra de nosso senhor.
Que o judiciário manda no país todos já sabemos, e que ele não é eleito por ninguém para cargos vitalícios já é fato recorrente, os supersalários também já são notícia requentada, então, vou colocar outro ponto de vista sobre isso: dívida pública brasileira.
O Brasil possui, no primeiro semestre de 2021, mais de R$650 BILHÕES para pagar de dívida, contraída a uma taxa média de aproximadamente 8% a.a., mas, como é sabido, nenhum governo em qualquer lugar do mundo paga suas dívidas, eles fazem o processo de rolagem (basicamente adiar o pagamento da dívida atual contraindo uma dívida futura). A taxa de rolagem da dívida brasileira está em 2% a.a., mas pensem bem: você emprestaria todo esse dinheiro para o governo brasileiro recebendo apenas 2% a.a.? Não né. Pois então, nem você, nem ninguém, tanto é que o tesouro SELIC já está pagando 110% da SELIC, e, assim, reflete-se o quanto esta taxa está irreal para o nível de risco país em que o Brasil se encontra. Lembrando que esse é o título de menor risco do Brasil, nosso risco soberano. Não somos o pior dos países emergentes, mas também não podemos nos dar ao luxo de cometer os excessos ali acima descritos, principalmente pelo fato de que estamos entrando numa trajetória de juros extremamente perversa: para manter essa taxa de juros (repito: artificialmente) baixa, o governo tem sido forçado a diminuir os prazos de pagamento da dívida interna brasileira (registrada pelas linhas azuis, a mais cara e mais perigosa que temos, dado que o prazo da dívida externa, registrado em laranja, está bem confortável), como se pode ver no gráfico abaixo. Com isso, gera-se um ciclo vicioso de aumento de risco e redução do prazo da dívida que acaba culminando em aumento de inflação.
Não sei vocês particularmente, mas eu fiquei com uma sensação de ter comido muito nessa pandemia. E não só eu, mas o mundo inteiro fez isso. Na internet em 2020, além dos africanos do caixão, um meme que circulou muito foi o do preço do arroz. Mas, como vemos abaixo, todos os alimentos subiram de preço esse ano, e exageradamente. Mais importante que lembrar que as commodities são todas dolarizadas, é lembrar que, ainda que a patrulha de PT, PSOL, PC do B, entre outros discorde, o Brasil é um país pobre (emergente ou em desenvolvimento é apenas um eufemismo, principalmente porque já temos esse rótulo há mais de 30 anos), com uma população que compromete grande parte de sua renda com alimentação básica, e, portanto, esses produtos têm grande peso nos índices de inflação.
Mas como o risco aumentou se a bolsa de valores se recuperou bem depois de passada a pandemia? Ela de fato recuperou, e até passou em alguns lugares do mundo, os patamares pré-COVID, mas, como a alta massiva de metais preciosos, como ouro e prata, e das criptomoedas, como bitcoin e ethereum, indicam, provavelmente não foram as empresas que evoluíram, mas sim o dinheiro que perdeu valor, dada a injeção massiva de moeda pelo FED nos Estados Unidos, pelo BCE na Europa e, em muito menor grau, pelo BC aqui do Brasil
Estão aí mais dois argumentos para provar que os juros e os riscos do Brasil estão em patamares preocupantes para se dizer o mínimo, e aí entra a questão da trajetória fiscal no Brasil, que está péssima (não venham dizer que é por causa dos gastos de pandemia, já estava ruim bem antes, a pandemia só agravou). A reforma da previdência ajudou um pouco na amenizada dessa curva, porém, a reforma administrativa é talvez 10x mais importante que isso, pois, cada vez mais, os governos, em todas as instâncias, comprometem e fixam gastos que não podem ser financiados nem por aumento de impostos, pois a população não consegue mais pagar tantos, nem por impressão de moeda, que só agravaria a tendência inflacionária citada acima. A única forma de resolver esse impasse é o governo gastar menos. Não existe mágica.
O gráfico abaixo nos mostra, de novo, o quão alarmante a situação é e o quão rápido o governo tupiniquim tem que agir. A linha azul mostra as taxas dos contratos de títulos de dívida de 2022, a linha vermelha mostra a mesma grandeza mas para 2025 e a verdinha, para 2031. Para rolar a dívida por mais tempo, terá de pagar muito mais. Por isso, os prazos de dívida caem e a qualidade da dívida piora, elevando os riscos de maneira cíclica.
Sem querer ser um teórico do caos, mas sabendo que já estou sendo, o departamento VDM do governo deve ser acionado rapidamente, ou o circo dos horrores poderá ser instalado no Brasil já em 2021.