Quando voltou da Casa Branca, em março de 2019, Bolsonaro estava certo do apoio do presidente (quer queiram quer não) americano Donald Trump à entrada do Brasil na OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico, ou, como prefiro chamá-la, clube dos riquinhos). Porém, o apoio à Argentina vindo antes gerou polêmica e a lua de mel teve que dar uma pausa. Ela continuará? O casamento será benéfico? Para quem? Esse tema é uma pauta já esperada em diversos jornais, não tanto quanto as contusões de Neymar próximas ao Carnaval, mas ainda sim recorrente, pois envolve diplomacia, o ponto que não talkei no governo do pai dos três patetas.
Afinal de contas, o que é OCDE? Segundo o ministério das relações exteriores, “constitui foro composto por 35 países, dedicado à promoção de padrões convergentes em vários temas, como questões econômicas, financeiras, comerciais, sociais e ambientais. Suas reuniões e debates permitem troca de experiências e coordenação de políticas em áreas diversas da atuação governamental.” Definição burocrática, mas, no fim, é isso: a ONU e a OMC são órgãos globais e jamais tratarão de temas polêmicos, mas críticos, e a OCDE seria uma forma de “dar um jeitinho” através da coordenação de medidas e conceitos.
Enfim, seguindo. Todos nós ficamos extremamente felizes com notícias boas. Cada um faz isso de uma forma. O Zeca Baleiro recebe telegramas positivos e manda flores ao delegado, bate na porta do vizinho e beija o português da padaria. Quem vos fala lê os incontáveis e-mails de corretoras e casas de análise falando do momento da economia e começa a ouvir músicas agitadas e jogar joguinhos. Nosso presidente recebe a notícia que Donald Trump quer apoiá-lo a entrar na OCDE e já começa a abrir concessões para os americanos, muitas delas de maneira precipitada. Cada um celebra de um jeito, e isso é fantástico, mas até que ponto pode ser saudável?
O máximo que pode acontecer ao cantor é a vizinhança inteira considerá-lo louco. A mim, dores de cabeça e chutes no pé da porta posteriores são bem comuns. Ao Jair, da política dar bem errado e o mandatário americano “não considerar isso uma prioridade”, na maneira diplomática de dizer.
As tentativas do Brasil de se enturmar com em seu novo bairro (sem ainda ter feito a mudança, é bom que se diga) remonta à década de 1990, já tendo participado de questões estratégicas da organização. Porém, foi apenas no governo do vampiro, em 2017, que o país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza resolveu emitir um pedido formal para esse fim. Uma pena que Peru, Croácia, Bulgária, Romênia e los hermanos chegaram primeiro na fila do pão e a entrada maciça de países na organização não é algo bem visto pelos EUA (aplicação direta do Princípio de Sade). Assim, a pauta esfriou, mas voltou no final do ano passado com o apoio dos EUA à entrada… da Argentina no grupo, na famosa mensagem do secretário de estado americano Mike Pompeo. A polêmica gerou mal entendidos de um lado e a turma do deixa disso botou panos quentes, mas, de fato, houve uma surpresa.
Não por nada. A lista de concessões do Brasil para tal apoio é longa, indo desde acordos comerciais envolvendo o etanol e o trigo americanos até a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, algo simbólico para alguns, mas de algum impacto para a comunidade internacional, passando por isenção de vistos sem reciprocidade e o uso de bases espaciais no Maranhão, terra de Zeca Baleiro. Destaque maior para o Brasil ter aberto mão do status de país em desenvolvimento, o que gerou atrito com Índia.
O Brasil tem sido um aliado fiel do governo do cabeça de chapéu de panqueca, mas a amizade tem estado bem assimétrica até agora. As flores estão apenas no topo das plantas e, para chegar lá, temos que botar as mão em muitos espinhos ainda, o que significa que, para ser membro do Código e receber o “reconhecimento internacional dos esforços recentes do governo brasileiro de promover um ambiente aberto, estável e atraente para investimentos estrangeiros”, o Brasil terá de negociar regulamentações e práticas internas que discriminem residentes de não residentes. Pode parecer pouco, e de fato é, mas como em um parto fatídico (ou na elaboração de uma monografia), qualquer exigência ou esforço adicional gera polêmica e desgaste.
Nitidamente, a estratégia do governo Bolsonaro segue sua lógica padrão: confusa, por caminhos tortuosos, com muita polêmica e discussão, mas, no final, a economia cresce. É inegável que esse acordo com países desenvolvidos, nos quais estão as grandes empresas e tecnologias do mundo, é muito melhor do que o que tínhamos com o MERCOSUL, que serviu muito mais para os outros que para nós, e os “acordos” (na falta de um termo menos pior) que tínhamos com a união europeia. A agenda de reformas do Brasil possui de fato mais um item: a da abertura econômica. os estrangeiros já olham bem para o Brasil, que derrubou seu risco país, conjuntamente com a inflação e os juros e segue a melhorar o ambiente de negócios, o que retroalimentará o ciclo de desenvolvimento tupiniquim, através de investimentos estrangeiros diretos, movimentação de capital e provisão de serviços. Esse movimento já está em curso, com o investimento externo do Brasil aumentando 25% em 2019, o que nos levou ao quarto lugar do mundo que mais recebe dólares de fora, perdendo apenas para Estado Unidos, China e (pasmem) Singapura.
A imagem econômica do Brasil cresce à medida que sua postura diplomática só afrouxa. O bom desempenho de Paulo Guedes em Davos e o bem sucedido processo de avanço das reformas oculta respostas desnecessariamente rudes do presidente a órgãos e governantes internacionais (não que eles não mereçam, mas isso agir de como criança brava com o coleguinha por causa do biscoito do lanche tem uma chance praticamente nula de ajudar em qualquer que seja o objetivo).
A ideia é que, independente se o telegrama vier de Aracaju ou do Alabama, ele chegará ao seu destino com muito menos complicações do que existe hoje. Vejamos as cenas dos próximos capítulos.
1 comentário
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