Ao longo dos últimos anos o que mais se escuta dentro do heterogêneo grupo que forma a chamada “Nova Direita” no Brasil é que não existe organização interna, não existe nenhum passo, ao menos não em larga escala, rumo a um processo de institucionalização mais formal desse grupo político no país, mas paralelo a isso, em todas as mídias sociais desses grupos existem cobranças, a maioria descoladas da realidade, sobre ausência de ação política por parte dos atores ditos de direita.
Essa ironia vem dando o tom pelo menos desde a queda da presidente Dilma Rousseff em 2016, ao mesmo tempo que todos clamam por movimentos políticos, ninguém quer largar sua confortável militância de Whatsapp. Os grandes cruzados digitais, os guerreiros do Whatsapp que não arrumam nem a própria cama como diria o psicólogo e filósofo canadense Jordan Peterson. Ao longo desse texto irei abordar os principais obstáculos para a consolidação de uma direita mais institucionalizada no país, e um dos principais deles são os guerreiros do Whatsapp.
Em tempos de polarização, como abordei no artigo anterior para o site, disponível aqui.
O centro do espectro político se esvazia, e embora a maioria da população seja moderada (no consenso da janela de overton) , os líderes políticos desses períodos não estão, e para formar sua militância, não apostam em argumentos racionais, e sim nas emoções para atingir o objetivo, nessa circunstância se aumenta a necessidade de pertencimento por parte da população, fazer parte de algum grupo se torna parte da identidade da pessoa, e esses grupos políticos, em sua maioria, operam em estruturas hierarquicas, que impedem críticas, mesmo construtivas de serem feitas.
Aqui vale a pena mencionar dois grupos de militantes, concordando ou não com seus valores e métodos enquanto movimento político (O Direita Minas e o MBL), que conheço pessoalmente vários membros, incentivam um maior desenvolvimento intelectual de seus membros, com grupos de estudo, seminários e ciclos de palestas. É uma pena porém que os demais grupos de militância organizada da direita do país não enxerguem o valor e relevância do desenvolvimento intelectual, como diz aquele ditado, uma andorinha apenas não faz verão.
Devido a essa ojeriza a atividade intelectual no país, se tem um grande culto á burrice na direita brasileira, existe certo grau de culto a ignorância no Brasil todo, porém na esquerda é um pouco menos que na direita, por um motivo que irei explorar no próximo parágrafo. O mais irônico é que quase todos que gritam aos quatro cantos a importância da chamada Guerra Cultural, se orgulham de ser totalmente incultos. Grande parte do problema da direita brasileira está diretamente relacionado a falta de capacidade intelectual. Tente explicar para alguém de direita na Alemanha ou na Inglaterra isso e você não conseguirá, porque no mundo todo a direita é vista, até mesmo pelos seus rivais, como um grupo político erudito. É possível que a direita brasileira alcance esse estágio ? Sim, mas para isso precisa de duas coisas, intelectuais e produção acadêmica e cultural.
Esses pontos são críticos para o sucesso da construção e institucionalização da direita no Brasil, de nada adianta ter uma suposta dominância nas redes sociais se o trabalho de base no mundo real não é feito, percebam a forma que os financiadores da esquerda operam, o movimento Renova Brasil mandou dois jovens, atualmente deputados federais (Tabata Amaral e Felipe Rigoni) para estudar na Ivy League. Os intelectuais da direita não contam com nenhum tipo de patrocínio, nem interno e muito menos externo para seguir os seus estudos, sendo forçados a ou parar na graduação e conseguir um emprego dali em diante, ou depender do financiamento dos seus próprios pais para seguir os estudos. Ainda que, considerando o cenário mais positivo, um intelectual de direita esteja academicamente nivelado com o de esquerda, logicamente quem se formou em Harvard terá mais atenção do público, não existe uma falta de intelectuais dentro da direita, o que existe é um tipo de competição desleal por escolha da própria elite dita “Conservadora”, alguém já viu o excêntrico Luciano Hang por exemplo patrocinar alguma coisa ligada á cultura ? Ficar vestido de cover de Zé Carioca na Internet rende mais likes.
Os que tentam fazer algo diferente e pisar no mundo real são poucos demais para ter um efeito prático e duradouro no mundo real, e por vezes nem conseguem o devido Marketing porque ainda não possuem um grande público, mas merecem os elogios, recentemente chegou ao meu conhecimento a fundação de um instituto para divulgação e consolidação do pensamento conservador em Belo Horizonte, eles possuem um canal no YouTube que ainda está no início mas já estão com planejamento avançado para um documentário sobre o médico e político Enéias Carneiro, tido como figura precursora dessa chamada “Nova Direita Brasileira”. Tenho minhas restrições ao personagem em questão, porém é inegável sua importância no contexto brasileiro, então fiquem de olho e esperem boas coisas do Instituto Liberdade Conservadora.
https://www.youtube.com/channel/UCThYuy1KiqpgKtPe_T8dzOA
Esse tipo de produção cultural que é em larga escala inexistente no Brasil, que permitiu a consolidação da direita em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, basta observar a origem dos grandes intelectuais que todos estudam nos dias de hoje, Roger Scruton, o mais bem sucedido conservador britânico desde Edmund Burke, tinha nos anos 80 uma revista chamada Salisbury Review que serviu de inspiração para vários autores de sucesso como Niall Ferguson, Paul Johnson e Andrew Roberts (Três dos maiores historiadores do século XXI). Nos Estados Unidos, William Buckley Jr criou a National Review que até hoje é o periódico de direita mais influente e confiável no mundo, nas páginas da revista e no seu corpo editorial passaram autores como Russell Kirk, James Burnham, Frank Meyer, Allan Bloom, Murray Rothbard, Irving Kristol, Charles Krauthammer e Michael Oakeshott, entre vários outros. Importante notar que esses autores não faziam parte da mesma corrente do pensamento de direita, entre libertários e Neoconservaodores, a revista deu espaço para todos os pensadores do campo, outra lição que a direita brasileira também precisa aprender.
A maioria dos autores citados também eram professores das principais universidades do mundo. Allan Bloom era professor de filosofia na universidade de Cornell, Oakeshott era professor de ciência política na London School of Economics, Kirk era professor de História em Michigan State, Rothbard foi professor de economia na universidade do Brooklyn e em Nevada, aqui no Brasil os verdadeiros intelectuais da direita não existem ? Isso é falso, posso nomear vários professores que teriam muito a contribuir para a consolidação do pensamento de direita no país, mas de nada adianta se o grosso da população brasileira prefere o Whatsapp e não um bom livro ou revista de filosofia.