Com quatro meses de governo ficou clara a fragilidade do novo governo petista, não possui maioria na câmara e apenas uma leve vantagem no senado, mesmo tendo no presidente do congresso nacional um aliado, o PT não controla os votos tanto como gostaria. O governo está sofrendo oposição interna como evidenciado no inferno astral que o ministro da fazenda Fernando Haddad vem sofrendo de integrantes da própria sigla como a própria presidente do partido Gleisi Hoffman, o ministro da justiça Flávio Dino sofre para resolver uma crise de segurança pública no nordeste e cada vez mais parece implicado nos eventos do dia 08/01 em que uma CPI deve buscar seu indiciamento por prevaricação, enquanto o presidente da república visivelmente incorfomado que não consegue exercer mais o domínio que exercia em seus tempos áureos no início do século apenas vive usando frases de efeito praguejando contra os inimigos de sempre do petismo.
A Política Externa é um desastre a parte, movido pelo histórico antiamericanismo do petismo colocou o Brasil na posição de na prática se tornar um Estado Satélite da China, Petistas e Nacionalistas se alegraram ao ver o governo supostamente peitando os Estados Unidos, sem perceber que o Brasil está não afirmando a sua soberania mas sim abrindo mão dela, no caso dos primeiros é muito simples de entender, os Estados Unidos representam tudo aquilo que a esquerda é contra, meritocracia, respeito a propriedade privada, instituições sólidas que não se dobram a vontades populistas, em resumo são os melhores representantes do modelo político que permitiu ao ocidente alcançar o topo da cadeia alimentar das Nações. A Democracia Liberal é uma ofensa para a esqueda, daí o alinhamento automático do PT com o Bloco liderado por China e Rússia. Não é por pragmatismo como os nacionalistas dizem, nenhum pragmático emprestaria dinheiro para quem não pode te pagar e tomaria dinheiro emprestado com quem se você não tiver condições de pagar vai cobrar a alma da Nação.
Os Nacionalistas erram nesse tópico por motivos diferentes, mas acabam ajudando a Esquerda, o problema dos nacionalistas é que desejam a todo custo transformar o Brasil em mais do que uma potência regional, e acreditam ser mais fácil realizar isso num mundo sem um hegemona ( EUA ), porém ignoram que a China não deseja uma ordem multipolar, a China deseja ter a hegemonia que hoje pertence aos americanos, não importa se o discurso seja de emancipação, a prática é de imperialismo, como a ampla dominação na África indica e a recente ofensiva pelo controle da alma da América Latina demonstra.
De todos os erros petistas, aquele que cobrará mais caro será o da Política Externa, como função de Estado e não de Governo, ás casas legislativas não podem exercer impacto e com o Itamaraty cada vez mais desprestigiado na formulação e execução da Política Externa, fica basicamente tudo a cargo da famigerada Diplomacia Presidencial. Uma vez que o Brasil esteja dentro da Diplomacia da Armadilha da Dívida Chinesa não terá volta.
A Diplomacia da Armadilha da Dívida foi usada constantemente pela China nos últimos anos, um estudo recente da universidade de Harvard demonstrou como a China vem operacionalizando essa diplomacia emprestando para países incapazes de pagar de volta e usando essa dívida para o alcance de objetivos estratégicos, como demonstrado na obra Debtbook Diplomacy de Gabrielle Chefitz e Sam Parker. O Sri Lanka por exemplo após ter dificuldades de honrar seu compromisso financeiro com a China o governo transferiu o controle de seus portos para a China por 99 anos assim como cedeu espaço para uma base militar chinesa. O que aconteceu em Djibuti aconteceu em vários países africanos ao longo dos anos e deve acontecer com o Brasil nos próximos.
Já na parte da política interna pudemos também constatar que se trata de um governo fraco, incapaz e que na prática está na mão do presidente da câmara Arthur Lira ( PP – Alagoas ), assim como o governo anterior estava dado ao fenômeno do Hiperlegislativismo consagrado em nossa carta constitucional. Em outros artigos para o site expliquei em termos comparativos que o peso da caneta presidencial vale bem menos no Brasil do que nos Estados Unidos ou na França por exemplo.
Com um governo em que o chefe de oposição têm sido a presidente do partido que ocupa o poder é bem claro que falta qualquer senso de estratégia no governo, uma vez que o único nome do partido com chances reais é o atual ministro da Fazenda que vêm sofrendo mais ataques da esquerda do que da direita, a outra opção é eventualmente lançar o vice Geraldo Alckmin, porém baseado nos ataques que Haddad vêm sofrendo, Alckmin sofreria ainda mais com o fogo amigo.
A esquerda brasileira está perdendo a mão, se antes a mídia e as redes sociais só conseguiam descobrir brigas internas na direita, agora em todo noticiário político se percebe que as manchetes dão conta de um governo petista bem parecido com o de Bolsonaro na incapacidade de controlar ás relações públicas.
O cenário se mostra extremamente positivo para a oposição de direita pensando em 2026. Bolsonaro provavelmente será um King Maker , mas não poderá ser candidato com toda a certeza, dado o volume de processos pedindo sua inegebilidade no TSE e para alguns amigos o próprio suícidio de seu capital político ao sair do país e não se tornar a cara da oposição ao PT mesmo tendo perdido a eleição por pouco.
Por um lado a ausência de Bolsonaro irá contribuir para a direita não ser percebida como radical pela grande massa, ampliando dessa maneira sua base eleitoral, por outro lado ela perderá um certo elemento unificador que o nome do ex-presidente fornecia. E é nesse ponto que acho que pontes precisam ser construídas entre os diferentes segmentos da direita que hoje não se comunicam.
Basicamente a direita brasileira está dividida em quatro grupos hoje, já foram mais, porém creio que a reputação das forças armadas ficou manchada com o segmento intervencionista justamente por não ter realizado uma intervenção quando essa parcela da direita realizou tal demanda de maneira muito explícita. Portanto vou deixar de fora da análise os intervencionistas e focar nos quatro grupos restantes: Os Liberais, Os Conservadores, Os Bolsonaristas e os Evangélicos. Ainda que não agradando totalmente todos esses segmentos, Bolsonaro conseguia equilibrar o piano para não afastar totalmente nenhum deles ainda que um dos motivos de sua derrota tenha sido justamente o abandono de pautas importantes a um ou mais desses grupos.
Sempre existiram forças liberais na política brasileira, Eugênio Gudin, Roberto Campos e Gustavo Franco podem ser os mais famosos ao longo do tempo, porém esse grupo já é antigo e em maior ou menor grau fez parte de vários governos na história do país. O auge desse grupo veio no período do governo FHC ( 1994-2002 ) em que o Brasil pela única vez na história teve um padrão de vida próximo de uma nação desenvolvida, com inflação sob controle, Câmbio 1 pra 1 e amplo acesso aos bens de importação. Mas como o problema do Brasil sempre foi o brasileiro, escolheram errado depois disso e o resultado todos viram qual foi… Mensalão, Petrolão e uma década perdida de desenvolvimento econômico, mas o brasileiro nunca para de surpreender negativamente e votou na mesma coisa outra vez em 2022. Hoje o liberalismo é representado nas linhas acadêmicas de instituições privadas de grande renome como a PUC do RJ, o Ibmec, o Insper e o ESPM e também pelo empresariado de médio ou grande porte.
O segundo grupo está ainda em expansão no país, ao longo da década de 2010 diversas editoras começaram a republicar no país grandes clássicos da literatura conservadora, tentando replicar em vendas o sucesso alcançado por Olavo de Carvalho e seus best sellers, O Imbecil Coletivo e o Mínimo Que Você Precisa Saber Para não ser Idiota. De repente uma geração de jovens brasileiros se encontrou com acesso a obras de Roger Scruton, Russel Kirk, Edmund Burke, Raymond Aron e Theodore Darlymple. Esses jovens que estavam prestes a entrar na faculdade naquela época, estarão em breve se tornando mestres e doutores e estão destinados a ocupar lugar de destaque na vida acadêmica brasileira.
A parte bolsonarista é a “ caçula ” dentro da direita brasileira, e era composto em sua maioria por uma certa nostalgia com o período do regime militar e uma forte colocação antipetista, por isso o bolsonarismo recebeu apoio dos dois grupos acima citados em 2018 para conseguir vencer o PT nas eleições e o grupo se notabilizou por uma forte militância online e nas ruas com grupos como o Direita Minas adquirindo enorme reputação, associado a um discurso em grande parte importado da ala Trumpista do partido republicano e dos partidos da direita nacionalista na Europa. O bolsonarismo deve se consolidar como grande força legislativa por ecoar sentimentos de pautas suficientemente populares para dar voto, mas nichadas no todo para grandes vitórias majoritárias.
O Último dos grupos são os Evangélicos, outro grupo em viés de alta no Brasil, o Republicanos, partido que é tido como o grande representante dos evangélicos foi o partido que mais cresceu no país nos últimos três ciclos eleitorais ( entre 2018 e 2022), dentro disso o comando do principal estado da nação com a eleição de Tarcísio de Freitas em São Paulo. E existem projeções de que em breve eles ultrapassem os católicos como a maior religião do país em 2032.
Todos esses grupos precisam minimamente dialogar para que a direita volte a vencer em 2026. Porém existem ruídos que precisam ser sanados e resta saber se esses grupos conseguirão ser pragmáticos o suficiente para chegarem a uma aliança que produza um nome de consenso entre os 4 polos da direita nacional.
Para os líderes liberais do mercado e da academia a origem dos evangélicos no Brasil é percebida como popularesca demais, os neopentecostais são diferentes dos anglicanos por exemplo, não surgiram de alguma uma reflexão intelectual questionando o poder sem limites da igreja católica, os protestantes no Brasil são diferentes em certo sentido dos seus análogos ingleses e americanos, além disso seu método de misturar política com religião acaba afastando a classe média laica das grandes cidades, já os evangélicos sentem falta de conseguir furar a bolha e ter espaço midiático sem serem retratados como “ crentes malucos “ pelo mainstream político e jornalístico. No caso desses dois grupos claramente um é capaz de ajudar ao outro a atingir um público que não é originalmente dele, uma aliança dos liberais com os neopentecostais pode garantir um tratamento midiático mais justo com os evangélicos e permitir que os liberais alcancem mais classes com o seu discurso.
A função dos Conservadores acadêmicos será fornecer intelectualmente um motivo para essa união ocorrer, e um clássico do sociólogo Max Weber fornece exatamente isso. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Originalmente publicado no início do século XX a obra explica a vinculação entre o calvinismo e o desenvolvimento econômico, destacando a relevância da manutenção de um regime de propriedade privada, meritocracia e prosperidade individual. A melhor alternativa para uma união entre os liberais e os evangélicos é desenvolver uma espécie de secularização da doutrina neopentecostal para construir a médio e longo prazo uma cultura geral no país mais afeita aos valores tanto liberais quanto evangélicos, caso esse projeto consiga ser colocado em prática e se torne bem sucedido finalmente haverá uma oposição orgânica frente ao esquerdismo no país, e isso também irá se refletir em vitórias eleitorais mais constantes para a direita uma vez que a mentalidade marxista que impera no país seja quebrada pelo desenvolvimento de um polo cultural oposto que tenha alcance em vários espectros sociais, que tenha robustez intelectual, espaço midiático e militância. Resta saber se quem toma decisão vai finalmente ouvir as soluções dos intelectuais ou vai seguir tomando decisões sem nenhum tipo de estratégia em mente e torcendo pelo acaso ou pela incompetência do governo anterior.
Para os Bolsonaristas o mais importante nesse debate é em quem Jair Bolsonaro confiará o seu espólio político. Três Nomes largam com força imediata: Romeu Zema, governador de Minas Gerais, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e Ratinho Jr, governador do Paraná. Cada um deles possui seus pontos fortes e fracos para serem o candidato da direita em 26 e todos eles irão precisar construir um diálogo entre os quatro grupos da direita para se consolidar como a alternativa ao PT.
Tarcísio é o que preenche mais valias possíveis para reestruturar essa direita, é evangélico, está abrigado no Republicanos, foi alçado a posição por influência direta de Bolsonaro portanto parece ser o herdeiro natural de seus votos, o problema para Tarcísio é que paulistas estão incomodados com o hábito de governadores largarem seu mandato para tentar a presidência. Isso nos leva diretamente a Romeu Zema que não pode mais se reeleger e é o governador do segundo estado mais relevante do país, seu partido o NOVO, acabou de aprovar alterações no estatuto para ficar mais competitivo em um cenário nacional já vislumbrando uma candidatura forte, Zema vem do mercado e agrada a classe média mas pode faltar experiência em relação ao jogo político, algo que Ratinho Jr leva vantagem pois tem a mentoria do político mais hábil do país Gilberto Kassab.
A direita brasileira tem um caminho a percorrer para ser novamente competitiva e libertar o país das garras do petismo, a boa notícia é que existe solução para a divisão da direita nacional a ruim é que pode não haver pessoas com visão e poder de executar o plano.
Referências Bibliográficas
Parker, Sam and Gabrielle Chefitz. “Debtbook Diplomacy.” Belfer Center for Science and International Affairs, Harvard Kennedy School, May 24, 2018.
WEBER, Max. (1904) A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.São Paulo. Martin Claret. 2013